Harlem, Mikaël 2024 (2022/23)

 

Harlem é o terceiro dos três livros dedicados à cidade de Nova Iorque de Mikael, autor e desenhador nascido no Quebec (ou franco-canadiano, como é referido). Os três livros falam da Nova Iorque do princípio do século XX, focados em três personagens diferentes, sendo Harlem uma biografia livre de Stéphanie St. Clair, uma negra originária na ilha de Guadalupe (ou Martinica, a história é ambígua), nas Antilhas francesas, que viveu entre 1887 e 1969.

A história está romanceada, e não terá muitas preocupações de fidelidade, mas conta como Stéphanie St. Clair se tornou uma figura proeminente do submundo de Nova Iorque, afrontando a máfia, as diversas máfias, e impondo-se no meio dos jogo ilegal, e esquivando-se ao negócio da droga e da prostituição.

St. Clair  nunca esqueceu as suas origens miseráveis e o seu meio, e ela tornou-se uma lenda em Nova Iorque, bastante devido à sua atitude benemérita junto da comunidade negra, ou mesmo ajudando a criar empregos na extensa rede que ia criando. Mas também, contraditória e curiosamente, negra e mulher, ela enfrentou não apenas o preconceito, mas também a máfia e a polícia e o poder corrupto de Nova Iorque, numa sucessão de acontecimentos conturbados que a acompanhou ao longo da vida.

Romanceada e sem grandes preocupações de fidelidade, Harlem é a história, simpática, de Stéphanie St. Clair, no tempo do Jazz, e o Jazz acompanha e intromete-se mesmo, por diversas vezes, na história.

E, já agora, vale a pena dizer que a figura singular de Stéphanie St. Clair inspirou directores como Francis Ford Copolla em Cotton Club, mas outros, no cinema, no teatro, na literatura e na biografia, e também na BD, para além de Mikael.

Bem desenhado, com um traço elegante, não propriamente original, mas com uma utilização muita dramática do contraste e da cor, de contornos umbríferos, com bom ritmo, muito ao género de uma graphic novel.

Ao contrário da edição francesa que saiu em dois volumes, a Ala dos Livros optou por publicar a versão integral, de mais de 130 páginas.

Os outros dois títulos novaiorquinos dão pelo nome de Bootblack e Giant, e contam as histórias de um engraxador de sapatos feito prisioneiro e soldado, e um gigante irlandês, construtor de arranha céus, a fugir do passado.

 

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