Braga Jazz 2010
Jerry Bergonzi Trio:
Reputado saxofonista e professor,
referido por inúmeros jovens músicos como seu mentor, não
deixava de ser estranho que Jerry Bergonzi nunca tivesse pisado os palcos
nacionais. O convite para o Braga Jazz tornava-se assim motivo acrescido
de curiosidade por parte do público e da crítica.
Bergonzi apresentou-se em Braga à frente de um trio sem instrumento harmónico,
o que tem sempre o mérito – e o demérito – de expor
particularmente o saxofonista. O resultado foi claro na confirmação
do que lhe conhecíamos em termos de dotes pessoais, mas o trio nem sempre
esteve ao seu nível, impedindo o saxofone de outros voos que lhe seriam
possíveis. O fulgor que lhe conhecemos dos discos não esteve presente
em Braga. Um reportório quase exclusivamente clássico, com clara
preferência pelos tempos lentos, propiciou uma sessão agradável,
mas aquém das nossas expectativas.
Os melhores concertos do Braga Jazz de 2010 (Quarteto de Ohad Talmor/André Fernandes e The Claudia Quintet + 1) aconteceram, não no palco do Theatro Circo, mas no recato de Bar Brac, a que apenas algumas dezenas de espectadores tiveram oportunidade de assistir.
Quarteto de Ohad Talmor/André Fernandes:
Claramente um grupo de ocasião, constituído por Ohad Talmor no saxofone, Dan Weiss na bateria, o argentino radicado em Portugal Demian Cabaud no contrabaixo e André Fernandes na guitarra, o grupo executou, sob a direcção de Talmor, uma música que teve tanto de inteligente quanto de saboroso. Talmor e Weiss são americanos, dois verdadeiros monstros no domínio dos seus instrumentos, também compositores eruditos e líderes dos seus próprios projectos, com largo currículo; enquanto Fernandes e Cabaud, apesar de expoentes maiores do Jazz nacional, não têm a rodagem dos dois americanos. As diferenças entre as duas metades do quarteto eram notórias e foi claro a todo o momento que esta era uma música que se ia construindo, e nesse sentido não deixa de ser extraordinário a excelência da música produzida. Ademais o repertório tocado não se limitou a standards, mas foi constituído por originais de Talmor. Cabaud foi sempre a âncora necessária (condutora) e André Fernandes esteve particularmente inspirado.
The Claudia Quintet
+ 1:
A música do The Claudia Quintet é a meu ver das mais intrigantes
do panorama Jazz contemporâneo, sem correspondente. Como num laboratório,
os membros do grupo manipulam os instrumentos na construção de
peças que pouco têm a ver com a temática ou sequer a forma
tradicional do Jazz, mas que escapam do mesmo modo a outras classificações
eruditas ou folclóricas. Há algo de um folclore imaginário,
fragmentos, como lampejos, sob complexas estruturas onde se articulam as componentes
escritas e a improvisação. As originais combinações
tímbricas saxofone/ clarinete – acordeão – vibrafone,
já evidenciadas anteriormente, ganham aqui relevância com a introdução
do piano de Matt Mitchell. Música inovadora, excitante, sem fronteiras
a de John Hollenbeck; a modernidade está aqui.
Qui 4-Mar | Braga |
Theatro
Circo
|
22.00
|
Maria
João “Ogre”
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Maria João (voz), Júlio Resende (p, tec), João Farinha (p, tec), Joel Silva (bat), Joel Nascimento (elec) |
Sex 5-Mar | Theatro
Circo
|
22.00
|
Jerry
Bergonzi trio
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Jerry Bergonzi (s), Dave Santoro (ctb), Andrea Michelutti (bat) | |
Restaurante/
Bar Brac
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23.45
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Quarteto de
Ohad Talmor/André Fernandes
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Sáb 6-Mar | Theatro
Circo
|
22.00
|
The Claudia
Quintet
|
John Hollenbeck (bat), Chris Speed (s, cl), Ted Reichman (aco), Drew Gress (ctb), Tim Collins (vib), Matt Mitchell (p) | |
Restaurante/
Bar Brac
|
23.45
|
Quarteto de
Mário Santos
|
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Sex
12-Mar
|
Theatro
Circo
|
22.00
|
Heloísa
Fernandes trio
|
Heloísa Fernandes (p), Zeca Assumpção (ctb), Ari Colares (per) | |
Restaurante/
Bar Brac
|
23.45
|
Quarteto de
Sara Serpa
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Sáb
13-Mar
|
Theatro
Circo
|
22.00
|
Jamie
Baum septet
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Jamie Baum (f), Ralph Alessi (t), Douglas Yates (sa, clb), Chris Komer (tro), Aaron Goldberg (p), Jeff Hirshfield (bat), Johannes Weidenmueller (ctb) |
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Restaurante/
Bar Brac
|
23.45
|
Quarteto de
Xacobe Martinez Antelo
|
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O Braga Jazz
2010 principia com a voz única de Maria
João no seu mais recente projecto, Ogre,
onde as teclas e a electrónica estão em evidência.
A 4 de Março.
No dia seguinte o Theatro
Circo recebe o Jazz sanguíneo do saxofonista italiano Jerry
Bergonzi liderando a mais despida e difícil das formações:
o trio com bateria e baixo.
O The
Claudia Quintet que tocará no dia 6 pratica um Jazz
de alto risco, anguloso, moderno e pouco convencional. O líder John
Hollenbeck é um dos mais interessantes compositores
da nova geração e um líder notável. O saxofonista
do Claudia Quintet é Chris Speed. A minha aposta vai para esta noite.
A segunda semana começa com Heloísa
Fernandes, uma pianista brasileira pouco conhecida na Europa.
O seu estilo é inconfundivelmente Jazz, mas ela incorporou elementos
da riquíssima música popular brasileira. Com ela estarão
Zeca Assumpção, um contrabaixista que tocou com Egberto Gismonti,
e Ari Colares na percussão.
O outro dos (que eu prevejo) grandes
concertos do Braga Jazz, ocorrerá a
13 de Março pela mão do Jamie Baum
Septet, numa combinação atípica de flauta,
trompa, saxofone e trompete, suportados por uma sólida secção
rítmica de baixo-bateria e contrabaixo. Os nomes, além da flautista,
são Ralph Alessi, Douglas Yates, Chris Komer, Aaron Goldberg, Jeff Hirshfield
e Johannes Weidenmueller.
Depois dos concertos no Theatro
Circo, a noite prossegue no Restaurante/
Bar Brac, com o Quarteto de Ohad
Talmor/André Fernandes no dia 5, o Quarteto
de Mário Santos a 6, o Quarteto
de Sara Serpa a 12 e o Quarteto
de Xacobe Martinez Antelo a fechar no dia 13.
25 Março 2010