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2008

Seria difícil reunir de novo no mesmo festival um grupo de músicos de tão elevado nível quanto o do ano passado, mas ainda assim o Estoril Jazz 2008 soube brilhar de novo. O grande vencedor do festival foi inequivocamente o jovem Miguel Zenon, um porto-riquenho de 32 anos de idade que veio demonstrar a Cascais a insuspeitada vitalidade do bebop.
É sabido que os boppers são desde sempre extraordinários executantes e Zenon não é excepção. Claro que ele toca uma forma moderna, um neo-bop com alguns laivos caribenhos; mas talvez mais que um produto evoluído do bop, ele é um produto do Jazz, todo o Jazz, que se fez nos últimos 50 anos. Desde que o vimos, em 2005, no Seixal Jazz, que temos visto este músico crescer, e ele é já hoje um dos grandes nomes da cena internacional. A banda é constituída por músicos de primeira água, com destaque para o excelente Luís Perdomo no piano. O saxofonista tocou temas do seu último disco, Awake.
Zenon realizou um grande concerto e o público não lhe regateou aplausos.

A (minha) maior desilusão foi protagonizada por Branford Marsalis; não porque tenha realizado um mau concerto, longe disso, mas pelo que dele eu esperava. Branford é um grande músico, mas a fórmula que apresentou na Cidadela de Cascais, e que já tinha visto, pareceu-me algo «gasta». O quarteto de Branford Marsalis é desde há anos um dos mais poderosos combos da actualidade, mas creio que lhe falta já subtileza, que o grupo compensa com força. Jeff Tain Watts é um verdadeiro vulcão, e a palavra subtileza realmente não consta do seu dicionário, o se revela mais nos tempos lentos. De qualquer forma estamos a falar de um Jazz de um nível muito elevado e o quarteto de Branford Marsalis realizou um grande concerto: os quatro músicos demonstram uma total empatia e estiveram sempre bem. Nenhum reparo para o contrabaixo de Eric Reeves ou o inspirado piano de Joey Calderazzo. Branford esteve sempre transbordante de energia.

O festival começou na sexta feira com a Vanguard Jazz Orchestra dirigida por Jim McNeely. Fundada por Thad Jones, a VGO é uma das mais antigas orquestras de Jazz em actividade, e já esteve em Portugal por diversas vezes. É sempre um prazer rever a VGO: esta é uma orquestra que valoriza os arranjos e o concerto decorreu em ambiente descontraído. Os músicos possuem um verdadeiro sentido do swing que a longa experiência evidencia. A «vedeta» da noite teve o nome de Terell Stafford, mas os solos de bom nível sucederam-se durante todo o concerto.

Ao fim da tarde seguinte tocou o veterano Ron Carter à frente de um quarteto com percussão. Ron Carter iniciou o concerto com um longa improvisação de mais de 50 minutos, e prosseguiu o concerto numa atitude de bonomia que dividiria a plateia: enquanto alguns esperavam mais rigor e seriedade do contrabaixista de Miles, outros extasiavam-se com a simplicidade da proposta. A verdade é que Ron Carter apenas tocou assim… porque podia. Ele é um músico de Jazz de grande estatura e poderá sempre fazer o que quiser; a boa disposição foi o denominador comum da noite e apenas lhe tenho a reparar o excessivo colorido da percussão.

Bobby Hutcherson by Tasic Dragan

Depois do concerto de Miguel Zenon, a noite arrefeceu e a voz de Karrin Allyson não ajudou. A cantora, que já tínhamos visto em 2003 em Angra do Heroísmo num bom espectáculo veio a Cascais apresentar o último disco, Imagina que, como o nome sugere, é dedicado à música brasileira. O repertório não se ficou no entanto pelo disco tendo interpretado também alguns standards, mas a insistência em baladas não soube contrariar a noite desagradável. Foi pena, já que Karrin Allyson é capaz de emocionar uma plateia.

No intervalo das duas semanas o festival deslocou-se para outras salas, o Hot Club e o Duarte Garden do Casino Estoril, onde se apresentou Kimistry, o grupo da cantora Kim Kalesti com o extrovertido «Ku-Umba» Frank Lacy. Assistimos ao concerto do Hot Club: a voz de Kalesti oscilou perigosamente irregular e a noite foi salva pelo trombone de «Ku-Umba».

A segunda semana começou com outro momento alto pela mão do veterano Bobby Hutcherson. A avaliar pela energia transbordante que irradiou em todo o concerto, dir-se-ia que ele goza de excelentes condições físicas, mas infelizmente a saúde do vibrafonista não é já a melhor, e apesar dis extensos aplausos do público ele não foi capaz de voltar ao palco para o merecido encore.
Sofisticado sentido harmónico sobre um swing e alegria de tocar contagiantes contribuíram para fazer um grande concerto, onde todos os membros do quinteto estiveram bem.

Depois do concerto de Branford Marsalis de que já falei, e a encerrar o festival, tocou o já inevitável Jazz At The Palmela Park, este ano dirigido pelas baquetas de Lewis Nash. A fórmula do JATP é despretensiosa e baseia-se no conhecimento da tradição e dos standards e na competência dos músicos. O que aconteceu foi swing e mais swing, apenas contrariado pelo imprevisível Éolo.

Devido às obras do Estoril Sol o festival mudou-se este ano para a Cidadela de Cascais. O tempo e uma questionável disposição da plateia impediram que o público usufruísse da excelência do local e foram elementos perturbadores ao longo de quase todos os dias do festival, que musicalmente esteve sempre a um nível muito elevado, dentro dos estritos limites da tradição Jazz.

O Estoril Jazz é por definição um clássico. Igual a si próprio, a edição de 2008 soube levar a Cascais o melhor da tradição.

Sex 4-Jul
Cascais
Fortaleza de Cascais
21.30
XXVII Estoril Jazz
Vanguard Jazz Orchestra

Frank Greene (t), Terell Stafford (t), Scott Wendholt (t), John Mosca (trb), Luis Bonilla (trb), Jason Jackson (trb), Douglas Purviance (trb-b), Dick Oatts (sa, ss, f), Billy Drewes (sa, ss, f, cl), Rich Perry (st, f), Ralph LaLama (st, f, cl), Gary Smulyan (sb), Jim McNeely (p), Phil Palombi (ctb), John Riley (bat)

Sáb 5-Jul
Cascais
Fortaleza de Cascais
19.00
Ron Carter Foursight RC (ctb), Stephen Scott (p), Payton Crossley (bat), Rolando Morales-Matos (perc)
Dom 6-Jul
Cascais
Fortaleza de Cascais
19.00

Miguel Zenon Quartet/
Karrin Allyson Trio

1. MZ (sa), Luis Perdomo (p), Hans Glawischnig (ctb), Henry Cole (bat)

2. KA (voz, p), Rod Fleeman (g), Ed Howard (ctb), Todd Strait (bat)

Ter 8-Jul
Estoril
Casino Estoril - Du Arte Lounge
22.30
Kimistry Kim Kalesti (voz), Albert Bover (p), Paco Charlin (ctb), Bruce Cox (bat) + Ku-umba Frank Lacy (trb, t)
Qua 9-Jul
Lisboa
Hot Club
23.00
Kimistry Kim Kalesti (voz), Albert Bover (p), Paco Charlin (ctb), Bruce Cox (bat) + Ku-umba Frank Lacy (trb, t)
Qui 10-Jul
Lisboa
Hot Club
23.00
Kimistry Kim Kalesti (voz), Albert Bover (p), Paco Charlin (ctb), Bruce Cox (bat) + Ku-umba Frank Lacy (trb, t)
Sex 11-Jul
Cascais
Fortaleza de Cascais
21.30
Bobby Hutcherson Quartet BH (vib), Joe Gilman (p), Dwayne Burno (ctb), Eddie Marshal (bat)
Sáb 12-Jul
Cascais
Fortaleza de Cascais
19.00
Branford Marsalis Quartet  
Dom 13-Jul
Cascais
Fortaleza de Cascais
19.00
JATP - Jazz At Palmela Park Revisited - Lewis Nash All Stars:

Lewis Nash (bat), Eric Alexander (st)

O Jazz Num Dia de Verão – Estoril Jazz mudou-se este ano, devido às obras do Estoril Sol - para a Cidadela de Cascais num espaço coberto preparado para o efeito.
A primeira semana do festival começa com uma das mais poderosas orquestras de Jazz em actividade, a histórica Vanguard Jazz Orchestra criada nos anos 60 por Thad Jones e Mel Lewis e actualmente dirigida por Jim McNeely. Na sua formação actual conta com alguns pesos pesados como o são Terell Stafford, John Mosca, Luis Bonilla, Jason Jackson, Dick Oatts, Rich Perry ou Gary Smulyan entre outros, que prometem um início do festival cheio de swing e energia.
Na sexta é a vez de outro histórico a dispensar apresentações, Ron Carter, à frente de um quarteto com piano, baixo, bateria e percussão.
E no sábado é a vez de duas «rising stars» em concerto duplo: o exuberante saxofone de Miguel Zenon (acompanhado por outro jovem em ascensão, o pianista, Luis Perdomo), e a voz contagiante de Karrin Allyson que irá apresentar o seu mais recente álbum «Imagina» com inspiração na música do Brasil.
A segunda semana começa com o lendário vibrafonista Bobby Hutcherson num quarteto com piano (sexta)
e prosseguem no sábado com uma das mais sólidas formações de Jazz da actualidade, o Quarteto de Branford Marsalis com Joey Calderazzo, Eric Revis e Jeff Watts.
O festival encerra no domingo com o Lewis Nash All Stars na recriação do JATP na versão Estoril Jazz. Swing a rodos é tudo o que Lewis Nash pode prometer.
Kimistry (da cantora Kim Kalesti, que tem o extrovertido Frank Lacy no trombone) é o nome do grupo que irá animar a noite de terça no Casino Estoril e de quarta e quinta no Hot Club.
(Atenção às horas: Sex: 21.30, Sáb e Dom: 19.00)