2009
Infelizmente, e devido à coincidência de dois festivais em simultâneo, não assisti a todos os concertos da 1.ª semana do Estoril Jazz. Fica o registo crítico do que ouvi.
James Carter Quintet
Não me choca que digam que James
Carter é o maior
executante do saxofone do Jazz actual. Ele possui uma técnica impressionante
e toda a História do Jazz nos dedos, e apesar da relativa juventude
já conta no currículo com quatro ou cinco discos entre as 4
e as 5 estrelas. É por isso que não posso deixar de estranhar
que as suas actuações ao vivo me deixem – com excepção
da primeira em Cascais com o seu quarteto de eleição: Craig
Taborn, Jaribu Shahid e Tani Tabbal que tocava, salvo erro Jurassic Classics – algum
amargo de boca, embora eu sempre fique impressionado com a sua técnica
e em nenhuma das outras vezes que o vi actuar tenha propriamente odiado.
Aconteceu o mesmo no Estoril último: James Carter veio tocar Present
Tense, CD de 2008, mas as coisas não correram pelo melhor. É verdade
que o som esteve algo desequilibrado, com alguns instrumentos quase apagados,
o que provocou a desatenção do saxofonista, mas um outro
episódio com alguém que estava a filmar o concerto levou-o
a quase interromper a sessão. Recordo que um episódio semelhante
aconteceu no ano passado em Angra com Bennie Golson.
A banda que veio com James Carter não era a do CD e embora demonstrassem
sempre um bom nível, também não teve rasgos, com excepção
talvez para o pianista Gerard Gibbs e um ou outro ocasional solo de trompete
do convidado Corey Wilkes. Felizmente James Carter «regressou» nos
dois últimos temas para salvar a noite.
David
Murray“ Black
Saint Quartet”
David Murray vem desde há muito assumindo o papel
que Archie Shepp desempenhou nos anos 80 de reformulação do som
(de saxofone) mainstream, entre o que foi a vanguarda do Jazz corporizada no
free
e
pré free
(entre Trane e Dolphy) e a tradição dos grandes saxofonistas do
período clássico como Ben Webster e Coleman Hawkins. Nos últimos
anos vem explorando curiosamente uma faceta world que lhe valeu um quase lugar
cativo no Festival de Músicas do Mundo de Sines, apenas interrompido este
ano. Saxofonista poderoso e fecundo, levou ao Estoril um Jazz generoso, mas bastante
menos colorido que o que apresenta em Sines. À frente de uma formação
clássica Murray foi eloquente sem ser excessivo, com momentos especialmente
conseguidos em Dirty Laundry, Giant Steps ou num calipso em evocação
de Sonny Rollins. Impulsionada pelo telúrico Hamid Drake, mas com companheiros
dignos - Lafayette Gilchrist no piano e Jaribu Shahid no contrabaixo - a banda
voou sempre alto.
Mingus
Dinasty Septet
O
Mingus Dinasty Septet que se apresentou no sábado
praticou sempre um Jazz sólido, mas creio que lhe faltou algum do
humor corrosivo que é característico no Mingus que a banda
quer interpretar.
Dito isto não significa que este tenha sido um concerto medíocre
ou aborrecido: o grupo possui alguns solistas de primeiro plano como foi óbvio
com Escoffery ou Orrin Evans; mas também Sipiagin raramente se soltou.
Felizmente comedido esteve Frank Lacy (escolhido para «brilhar» nos últimos
temas, entre os quais um blues cantado – Lonesome Man Blues), usualmente
dado a excessos, enquanto Craig Handy esteve assertivo. A secção
rítmica esteve sempre eficiente com um grande baterista, Donald
Edwards, Boris Kozlov que acumulava o contrabaixo com a direcção
do combo e o intrusivo já referido Orrin Evans.
Christian McBride And Inside Straight Quintet
O Inside Straight Quintet de Christian McBride veio ao
Estoril apresentar um bop descontraído e fresco, ao contrário do
que um recente CD fazia suspeitar. Jazz sem equívocos pois, o que a banda
apresentou, levando ao rubro um público já de si predisposto a
ouvir um Jazz que respeita a tradição; e tradição
foi servida. Apesar da juventude, o vibrafonista Warren Wolf – excluído
quase
sempre da secção rítmica – e o eficiente
baterista Ulisses Owens Jr., demonstraram estar à altura da missão,
enquanto Steve Wilson, que alternou o saxofone alto com o soprano se confirmou
uma vez mais, e as linhas claras e intrometidas do piano de Peter Martin completavam
o todo. Na cabine de comando esteve McBride revelado na década de 90 como
um dos mais sólidos contrabaixistas da sua geração, na linha
do grande Ray Brown, com um discurso fluente e cantante.
Juventude e alegria de tocar Jazz foi o denominador comum do melhor concerto
do Estoril Jazz 2009.
15 Julho 2009
Sex
26-Jun
|
Estoril
|
Centro
de Congressos
|
21.30
|
Estoril Jazz |
James
Carter Quintet |
James
Carter (sa, st, sb), Corey Wilkes (t), Gerard Gibbs (p), Leonard
King
(bat), Ralphe Armstgrong (ctb)
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Sáb
27-Jun
|
15.00
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Jazz em Miúdos
+ Hugo Raro Trio |
Anaísa
Melo (voz), Laura Neves (voz), Luisa gomes (voz), Margarida Gomes
(voz), Nádia Meireles (voz), Sofia Marques (voz) + Hugo Raro
(p), Rodrigo Monteiro (ctb), António Torres Pinto (bat)
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21.30
|
John Mayer Trio |
John Mayer (p(), Darryl Hall (ctb), Steve Pi (bart) | ||||
21.30
|
Roseanna
Vitro Trio + Kenny Werner |
Roseanna Vitro (voz) + Kenny Werner (p), Robert Bowen (ctb), Tim Horner (bat) |
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Dom 28-Jun | 19.00
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Chick Corea
Piano Solo |
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21.30
|
Chick Corea
Piano Solo |
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Sex 3-Jul | 21.30
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David Murray “ Black Saint Quartet” |
David Murray (st,
clb), Lafayette Gilchrist (p), Jaribu Shahid (ctb), Hamid Drake (bat)
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Sáb 4-Jul | 21.30
|
Mingus Dinasty
Septet |
Boris Kozlov (ctb), Donald Edwards (bat), Orrin Evans (p), Craig Handy (sa, f, ss), Wayne Escoffery (st), Alex Sipiagin (t), Ku-umba Frank Lacy (trb, voz) |
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Dom
5-Jul
|
21.30
|
Christian
McBride And Inside Straight Quintet |
Christian
McBride (ctb), Peter Martin (p), Ulisses Owens Jr. (bat),
Steve Wilson (sa, ss), Warren Wolf (vib)
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(Antecipação)
Fiel a si mesmo, o mais clássico dos festivais de Jazz nacionais está de regresso.
James
Carter by hansspeekenbrink
|
Sábado é dia
de novidades no Estoril Jazz com um grupo vocal infantil, Jazz
em Miúdos, à tarde, seguido pelo concerto de
um ilustre desconhecido, Jon Mayer,
que tocou em Portugal nos anos 60.
À noite apresenta-se o grupo de Roseanna
Vitro acompanhada do excelente Kenny
Werner, um grande pianista subestimado, a merecer toda a atenção.
A primeira semana acaba com dois concertos solo de Chick Corea, pianista incontornável da segunda metade do século XX, um verdadeiro camaleão capaz de tocar literalmente tudo, entre clássica e pop music, bebop e free jazz. O proficuo Chick Corea - mais de 80 discos gravados - vem-se apresentando em Portugal com alguma regularidade, em várias formações. Em 2006 comemorou com o vibrafonista Gary Burton os 30 anos do aplaudido Crystal Silence no que foi um dos grandes concertos do ano, e o ano passado regressou a Portugal para tocar as já famosas Children's Songs.
A segunda semana inicia-se com David Murray, um impressivo saxofonista que mergulhou no free nos anos 70, mas cuja linguagem se vem tornando cada vez menos dissonante. Deixo-vos decidir se David Murray poliu as arestas da sua música poderosa ou foram os ouvidos do público que se adaptaram aos gritos mais agressivos de Murray. Nos últimos anos ele tem tocado em Sines uma música mais «colorida», muito ao sabor do gosto dos programadores e público do Festival das Músicas do Mundo. Não será no entanto a avaliar pela formação o que tocará no Estoril. Lafayette Gilchrist, Jaribu Shahid e em especial o vulcânico Hamid Drake são garantia de um grande concerto de Jazz.
No sábado 4 de Julho toca no Estoril o Mingus Dinasty Septet, descendente da Mingus Dinasty que tivemos oportunidade de ver por diversas vezes em Portugal. Nomes como Alex Sipiagin, Frank Lacy ou os mais jovens Orrin Evans ou Wayne Escoffery são promessa da preservação da herança do grande Charles Mingus.
Enfim, Christian McBride, encerra o Estoril Jazz 2009. Discípulo de Paul Chambers e Ray Brown, o sólido contrabaixista tem procurado integrar na sua música elementos do funky e da pop music com que cresceu. Ao contrário do que parecia ser o seu caminho de «fusão» no entanto, o último disco de 2009 marca um regresso ao hard-bop. O novo grupo com piano e vibrafone, onde o saxofonista Steve Wilson brilha, deverá vir a Portugal apresentar Kind of Brown.
Jazz inequívoco, o melhor do mainstream, é o que tem para oferecer o Estoril Jazz.
Nota: o festival muda de novo de local. depois do Parque Palmela e da Cidadela de Cascais, ele muda-se para o Centro de Congressos do Estoril. Por informação do produtor, os bilhetes são de 30€ cada esopectáculo ou assinatura de 100€ para a totalidade dos oito concertos.
15 Junho 2009
Mais informação em http://www.projazz.pt/