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Estoril Jazz

 

 

 


2011

O Estoril Jazz é um dos festivais de Jazz nacionais mais personalizados, e o verdadeiramente último reduto do Jazz clássico. Fiel a uma linha que prossegue desde há quase um quarto de século, a programação da XX edição foi inteiramente mainstream, mesmo se o seu director, Duarte Mendonça, tem procurado trazer a si alguns dos jovens nomes do Jazz americano.
Abandonando o início de Verão (acabou-se Jazz num dia de Verão!) o festival decorreu no período dos dois fins-de-semana entre o final de Maio e início de Junho. Todo o festival decorreu no teatro do Casino Estoril.
Os nomes escolhidos para esta edição, como JazzLogical teve ocasião de noticiar, foram Jack Walrath, Anat Cohen, Tia Fuller, Mário Laginha, Hal Galper e Joe Lovano. Não me foi possível, infelizmente, assistir aos dois últimos concertos.

Jack Walrath
A abertura de portas coube a Jack Walrath, um veterano que já esteve em Portugal por diversas vezes. O concerto anunciava-se como “The Spirit of Mingus”, justificado pela participação do trompetista na banda de Charles Mingus, tendo nessa qualidade actuado no Cascais Jazz nos anos 70. Os restantes membros do quinteto são todos eles membros regulares da grande Mingus Big Band, embora nem todos – pela sua juventude - tenham conhecido o mestre.
Esperava-se mais da banda, até pelos nomes que a compunham, mas a verdade é que este foi um concerto morno, e dificilmente se poderia reconhecer o espírito impetuoso e irreverente do autor de Fables of Faubus. Destaque para Orrin Evans e Boris Kozlov.

Anat Cohen
Anat Cohen é uma das mais exímias executantes do clarinete, um instrumento que foi nos primórdios um dos mais populares do Jazz, mas que o tempo substituiu pelos saxofones. E a sua forma é absolutamente clássica, sem quaisquer laivos de novidade. Mas o swing que imprime é genuíno e de uma alegria contagiante. A direcção musical de Jason Lindner assegurou o bom nível do concerto.   

Tia Fuller
O quarteto de Tia Fuller pratica uma forma de hard-bop que lembra a enérgica fórmula de Branford Marsallis. Os quatro músicos revelaram-se executantes de altíssimo nível, com relevância para a criativa pianista Shamie Royston que não me recordo de ter ouvido antes, e que me lembrou essa outra grande pianista que é Geri Allen. Uma secção rítmica impressionante, conduzida pelo impulsivo Rudy Royston, e bem acolitado pelo contrabaixo da voluptuosa Mimi Jones, a suportar a jovem esfusiante saxofonista.
Música que não se pretende inovadora, mas que comunica o maior prazer do mundo.

Mário Laginha Trio
O desafio que Duarte Mendonça colocou a Mário Laginha era simples: tocar standards. Ora Laginha, que há muito não desenvolve a sua música por esses caminhos (o seu último disco, Mongrel, por exemplo, explora a música de Chopin), tem no seu passado a referência maior de Keith Jarrett, cujo trio há anos vem explorando com sucesso o cancioneiro americano. Jarrett é mesmo o músico que «trouxe» Mário Laginha para o Jazz, e não será então surpresa que o modelo escolhido pelo pianista para levar ao Estoril tenha sido o do trio «Standards» de Keith Jarrett, com Gary Peacock e Jack DeJohnette.
Sim e não. Se Laginha soube sempre plasmar Karrett, de forma quase mimética mas entusiasmada, Bernardo Moreira e Alexandre Frazão nunca estiveram ao seu nível, longe longe dos modelos, limitando-se a cumprir. Mário Laginha esteve fogoso e exuberante como nenhum outro pianista português seria capaz, correspondendo por inteiro ao repto do director do Estoril Jazz. A classificação respeita apenas à sua prestação.

 

Sex 27-Mai
Estoril
Auditório Casino Estoril
21.30
Jack Walrath Quinteto
“ The Spirit of Mingus”
Jack Walrath (t), Abraham Burton (st), Orrin Evans (p), Boris Kozlov (ctb), Donald Edwards (bat)
Sáb 28-Mai
21.30
Anat Cohen Quarteto
Anat Cohen (cl, st), Jason Lindner (p), Joe Martin (ctb), Daniel Freedman (bat)
Dom 29-Mai
Tia Fuller Quarteto
Tia Fuller (sa, ss), Shamie Royston (p), Mimi Jones (ctb), Rudy Royston (bat)
Sex 3-Jun
21.30
Mário Laginha «Standards»
Mário Laginha (p), Bernardo Moreira (ctb), Alexandre Frazão (bat)
Sáb 4-Jun
18.00
Hal Galper Trio
Hal Galper (p), John Bishop (ctb), Jeff Johnson (bat)
Dom 5-Jun
19.00
Joe Lovano Quarteto

Joe Lovano (st, ss), Salvatore Bonafede (p), Peter Slalov (ctb), Jeff Ballard (bat)

Antecipação

O Estoril Jazz – 30 anos! – arranca amanhã (27) com Jack Walrath, com um projecto denominado “The Spirit of Mingus”. A evocação tem toda a razão de ser, já que Walrath foi um dos trompetistas preferidos do grande Charlie Mingus, e com ele tocou em Cascais. Com ele vêm quatro músicos que têm participado desde há anos na Mingus Dinasty.
Sábado é a vez de Anat Cohen, jovem clarinetista de origem israelita que se tem revelado uma das mais expressivas executantes do instrumento. Promete-se uma noite de muito swing.
A primeira semana do festival completa-se com a actuação, no domingo , da dinâmica saxofonista Tia Fuller, uma jovem que é conhecida pela sonoridade quente. Tocou com T.S.Monk, Jon Faddis e Rufus Reid.
O Estoril Jazz prossegue na próxima semana com Mário Laginha, Hal Galper e Joe Lovano.
Mário Laginha dispensa apresentações. Ao longo de mais de vinte anos ele tem-se evidenciado como um dos mais proeminentes pianistas portugueses, tendo espalhado a sua actividade por universos tão dispares quanto o podem ser a pop music, a música clássica ou o Jazz. Laginha dedicou o seu último disco a Chopin, numa exploração muito pessoal, e muito Jazz, como não poderia deixar de ser. Não é música clássica, no entanto, que Laginha irá tocar no Estoril, mas os standards do Jazz, correspondendo à solicitação expressa do director do festival, Duarte Mendonça.
Sábado toca um gigante do piano Jazz, Hal Galper, um músico que passou por Portugal e pelo Estoril por diversas vezes, dirigindo o seu próprio grupo, integrando outras formações ou conferencista e professor.
O concerto de Hal Galper terá como interesse acrescido uma conferência subordinada ao tema «O que é o Jazz», traduzida em simultâneo por Zé Eduardo.
O festival encerra com um nome incontornável do Jazz contemporâneo, Joe Lovano. Verdadeiro monstro do saxofone, tocará no Estoril à frente de um grupo composto pelo pianista Salvatore Bonafede, o baixista Peter Slalov e Jeff Ballard, o baterista de Brad Mehldau, de Joshua Redman e um dos co-leaders de Fly, o colectivo com que toca com Mark Turner e Larry Grenadier.

26.Junho 2011