Guimarães Jazz
2007
Cumpriu-se mais um Guimarães Jazz. Duas semanas, nove concertos dos
quais sete «internacionais», seis (longas) noites de jam sessions,
uma workshop de uma semana envolvendo dezenas de jovens estudantes
de música,
uma produção irrepreensível no apoio aos músicos,
público e aos jornalistas e críticos, material de apoio e informação
profuso e graficamente elegante, gadgets, etc. Se a tudo isto acrescentarmos
bilhetes relativamente acessíveis e duas excelentes salas de espectáculo,
temos uma verdadeira festa de Jazz, que faz de Guimarães um local de
romaria anual. Enfim, ajuntando à dimensão e à profissional
produção, resta acrescentar a criteriosa programação,
a cargo de Ivo Martins.
Como referi na antecipação do festival, a programação
do Guimarães Jazz sofreu uma (deliberada) inflexão recente
no sentido do mainstream, abandonando algum gosto pelo risco que
o personalizava. Perdido aqui, ganho em público, argumenta a organização,
ele aí está, o Guimarães Jazz.
Na primeira semana, a que não assisti, tocou (terá tocado), melhor
o jovem Ravi Coltrane, emocionou o histórico Pharoah Sanders, sem
novidade Jan Garbarek; assim me contaram.
A energia da juventude (do Orrin Evans Quintet)
A segunda semana abriu com o Orrin Evans Quintet, o grupo responsável
também pelas workshops e, como é hábito, pela animação
das noites no «Convívio».
Orrin Evans é o talentoso músico que se tem vindo a fazer notar
como um dos pianistas da Mingus Big Band. No palco do «Vila Flor»,
revelou-se um sólido e consistente leader. Numa banda composta por músicos
relativamente jovens, a irreverência corria, servida por um sólido
conhecimento da tradição Jazz; o que não significou de
todo passadismo. Este terá sido talvez o mais coeso e equilibrado dos
grupos que já veio a Guimarães animar as jams e as workshops.
O quinteto abriu a segunda semana da melhor forma. Tinha chamado a atenção
na antevisão do festival para o trompete luminoso de Sipiagin, mas todos
os músicos se revelaram exímios executantes. A começar,
claro, por Orrin Evans como era expectável, mas também surpreendente
pelo ímpeto coltraneano do saxofonismo Stacey Dillard ou a dupla imparável
Donald Edwards - Darryl Hall, bateria – contrabaixo.
O Jazz Real (do John Scofield Trio)
A noite seguinte trouxe a Guimarães outro momento alto e, como tinha
previsto, energia. Os méritos de John Scofield nunca estiveram em causa – ele
que foi um dos meninos bonitos de Miles -, mas a verdade é que o seu
percurso vem sendo bastante irregular. Ainda assim, o projecto – o Real
Jazz Trio - que trouxe a Guimarães era à partida um projecto
ganhador; até pelos constituintes, Scofield mais o grande Steve Swallow
e a subtileza das baquetas de Bill Stewart (acrescido de um trio de sopros
que se limitaram quase sempre a fazer os voicings, sem sair da pauta). Energia,
blues, R&B e funky encheram a sala ao longo das duas horas do concerto, levando o público ao rubro.
O «Real Jazz Trio» pratica uma música rude e impulsiva,
de grande intensidade. Ao contrário da secção de sopros,
aos titulares é deixada toda a liberdade: Scofield alterna nos solos
entre a sonoridade country quase quase Bill Frisell em «The House Of
The Rising Sun» e a crueza dos blues em «Over Big Top» e... «I
Can’t Get No Satisfaction». Mas a quietude e lirismo de Jim Hall
pareceu andar por aí em «Memorette» e o humor esteve sempre
presente nos temas mais bop. A guitarra de Scofield é realmente enciclopédica
e nem faltou a electricidade de Jimi Hendrix ou um cáustico sabor a
acid-jazz. Sobre o lendário baixo de cinco cordas de Steve Swallow,
ele é sempre
um deslumbramento, e até a delicada bateria de Bill Stewart se permitiu
mais estridentes e rasgadas intervenções.
O virtuoso egocêntrico (:Ahmad
Jamal)
Ahmad Jamal foi o responsável pela noite mais polémica
da segunda semana, dividindo as opiniões entre o público e a crítica.
O Ahmad Jamal, que exerceu profunda influência sobre Miles Davis nos
anos 60, não tem nada a ver com o pianista que tocou em Guimarães.
A História notou-lhe a «invenção» do silêncio
e o equilaterismo absoluto do trio desse tempo. Mas o Ahmad Jamal que veio
ao Estoril em 94, era já outro: tornar-se-ia impossível reconhecê-lo
apenas mela música! Desde então para cá, o processo de
recentramento da música na sua pessoa (apesar do combo de suporte se
manter praticamente inalterado) foi absoluto, e a sua música tornou-se
vertiginosa. Para o público o virtuosismo é um valor, e daí os
aplausos incondicionais; mas a crítica não reconhece a bondade
da virtuose por si. Que a crítica também não é unânime;
se bem que alguns comentadores pareceram não ter estado no concerto,
tendo-se limitado a debitar os textos das enciclopédias... Sarcasmo à parte,
as críticas mais pertinentes parecem-me vir dos que acusam Jamal de
frieza e despropósito que resultam numa espécie de discurso fragmentado
e desconexo. O virtuosismo excessivo de Jamal, mas também alguns maneirismos
e truques primários destinados a provocar a adesão do público
não ajudam...
É
claro que as críticas que vêm sendo feitas a Ahmad Jamal são
pertinentes: é verdade que a sua música é fria e é verdade
que o seu discurso é fragmentário. E é verdade também
que alguns «truques» que usa são artifícios espúrios
destinados a agradar ou, talvez melhor, a impressionar o público.
A minha observação é que Ahmad Jamal padece bastante da
vaidade dos virtuosos, e estamos a falar de um patamar para além do
qual toda a música tende a parecer rotina. Recordemos por exemplo o
excelente concerto de Keith Jarrett no CCB: não poucas vezes cogitei
como estava desprovido de emoção; quantas vezes fechei os olhos à procura
da alma. Mas quem sou eu para avaliar o coração destes músicos
para além do entendimento? Como não amar aquela música
tão, perfeita? Não raras vezes observamos como os instrumentos
já parecem tocar sozinhos e quantas vezes aqueles fantásticos
músicos simulam até a emoção (como orgasmos?)?
Ahmad Jamal é um virtuoso para além das classificações.
O seu discurso é fragmetário/ fragmentado; mas esse discurso é exactamente
assim por opção: coerente, se o compreendermos no todo da composição.
Alucinante e excessivo; economia é palavra escusa no seu vocabulário.
Ausente de subtileza, dirão: eu diria explícito. Redundante:
eu diria conclusivo. Ele executa uma e outra figura, experimenta um e outro
efeito, ele liberta duendes e fantasmas que recolhe adiante. Como poucos, Jamal é um
pianista total (totalizante) e usa a todo o momento todos os recursos do piano,
mas o excesso é o privilégio dos virtuosos.
Se o instrumento de Ahmad Jamal foi no passado, talvez mais do que o piano,
o trio; ele assim permanece, mas por perversidade agora desmesuradamente desequilibrado
sobre o seu lado. Os músicos que o acompanham revelam-se efectivamente
acompanhantes e, com frequência pouco mais que complementos; e aqui reside
o fundamental da minha crítica à música de Ahmad Jamal
de hoje.
Irrepreensível e seguro esteve sempre James Cammack, denotando até a
sua persistência como sideman do mestre; mas o mesmo não se poderá dizer
de Idris Muhammad, cuja pertinência questiono. A começar pelo
uso de umas baquetas muito duras, creio que de carbono, semelhantes às
dos (que pensam que são) bateristas de heavy metal; muito duras e sem
ressalto. O efeito resultante é uma batida violenta, sem laivos de sensibilidade
e falho de swing. E é aqui que o percussionista entra: para dar cor
ao árido pano de fundo rítmico da bateria. Manolo Badrena é exactamente
isso: um percussionista colorido cujo papel é o de insuflar alma na
música de Ahmad Jamal. Ainda assim, sem se revelar um percussionista
extraordinário, Badrena cumpre bem o seu papel.
Repertório quase sempre contemporâneo e próprio, não
deixou de recorrer ao mítico (belíssimo) «Poinciana» antes
do encore.
Enfim, apesar das minhas observações, Ahmad Jamal permanece um
grande pianista e foi para mim um dos grandes momentos do festival.
O sólido Jazz (de Charles
Tolliver)
Bem ancorada num sólido hard-bop esteve a Charles Tolliver Big Band,
que estava reservada para o encerramento do Guimarães Jazz 2007. Esclarecedor
foi desde logo o primeiro tema da noite: poder, mais do especial engenho nos
arranjos, punch, mais que subtileza, disciplina e solistas de elevado gabarito.
Charles Tolliver no trompete, mais que na direcção, e um extraordinário
Billy Harper no saxofone tenor, estiveram em destaque em temas como «On
The Nile». Noutros momentos toda a secção de palhetas estaria
em especial evidência: Bruce Williams num demolidor solo parkeriano em «Mournin’var» e
de novo no clássico «Round Midnight», e Todd Bashore e Bill
Saxton em «Suspiction».
«Suspiction», o encore, com um desfilar de saxofonistas foi, apesar
da simplicidade da estrutura um dos momentos da noite, a par do tema de abertura
e do clássico «Round Midnight», em vários andamentos,
onde toda a classe de um pianista veterano como Kirk Lightsey se revelou.
Energia a rodos, simples nas formas mas dinâmico. Jazz sólido
e saboroso.
O silêncio e a poesia (no
TOAP Colectivo)
À
margem do palco principal realizou-se o concerto do TOAP Colectivo, da Big
Band da ESMAE dirigida por Orrin Evans e ainda as jam sessions animadas pelo
quinteto do mesmo Orrin Evans, e que decorreram, na primeira semana no Café Concerto
do Vila Flor e na segunda no exíguo mas animado espaço
da Associação Convívio.
O
TOAP Colectivo (2007), cujo primeiro concerto deverá dar origem a
um disco a editar em breve, realizou um concerto inesperado: ao neo-bop anguloso
do ano passado sucedeu uma música dificilmente classificável,
privilegiando o quase silêncio em movimentos aparentemente aleatórios.
Os quatro artífices praticam uma música que remete para áreas
da música erudita europeia exterior ao Jazz, tanto quanto algumas peças
mais abstractas da Creative Orchestra Music do Anthony Braxton dos anos 70.
Música de rara beleza conceptual a produzida pelo renovado TOAP composto
por Jacob Sacks, Matt Renzi, Bernardo Moreira e André Sousa Machado.
A oficina (workshop) do Jazz (prédica
moralista)
Já o produto das workshops do quinteto de Orrin Evans se revelou bem
alcandorado num sólido mas moderno hard-bop. Sob a batuta de Orrin Evans
a excelente Big Band da ESMAE esteve no seu melhor.
O trabalho da orquestra é um trabalho a que reconheço um enorme
mérito: o estudo enquadrado numa orquestra e sob a direcção
de professores qualificados é fundamental (não o único
instrumento/ local, evidentemente, mas é fundamental) para a formação
dos jovens músicos. Ou não será também por acaso
que o exercício coral colectivo é considerado fundamental nas
escolas de música clássica, como nas escolas de música
negra. Os músicos de New Orleans tarimbavam nas grandes orquestras de
rua e todos os grandes mestres sem excepção por lá passaram.
Mas atenção: uma orquestra de Jazz é um colectivo com
objectivos bem definidos, onde os actores cumprem papéis e crescem na
colaboração e na competição, e não um aglomerado
de curtidos em exercícios onanísticos colectivos.
Sobre as escolas de Jazz, também já tenho tido oportunidade de
me manifestar; e é por isso com grande entusiasmo que todos as Primaveras
aplaudo o acontecimento da «Grande Festa do Jazz no S. Luiz», por
onde passam as escolas de Jazz de todo o país em concurso ao longo de
dois dias. É um exercício que aconselho a todos os amantes do
Jazz: ver o espectáculo da alegria (e nervosismo como tantas vezes...)
de tocar Jazz daquelas centenas de jovens (pretendentes a) músicos de
Jazz. As escolas de Jazz são fundamentais, e quem o não reconhece,
não sabe nada. Pretender que se pode ir para o palco e tocar sem ter
passado pela escola, em 2007, é no mínimo ridículo. Mas não original...
Vem isto tudo a propósito da semana de workshop que sempre
acontece no Guimarães Jazz; um trabalho invisível, mas de enorme
mérito.
O mérito principal, concluo agora, é o de permitir que jovens
aprendizes da nobre arte do Jazz contactem com músicos estrangeiros
(e perdoem-me que privilegie os norte-americanos; não apenas porque
os EUA é a pátria do Jazz, mas também porque o seu nível é excepcionalmente
elevado, como foi observável até mesmo nos mais jovens dos membros
do Orrin Evans 5tet!) e com ele aprendam. Creio que é um aspecto que
alguns directores de escolas e professores descuram; mas deveriam acautelar,
até para contornar o normal processo de enquistamento de vícios
provocados até pelo inevitável isolamento das escolas de música
num país onde a música é o fado (a desgraça). O
contrato de professores e músicos estrangeiros capazes de confrontar
os jovens estudantes com outros métodos e outras realidades é fundamental
(e aqui vai em nota de rodapé mais um pouco do meu veneno: eu creio
que existe também muita arrogância nalguns professores e directores
que se consideram a si próprios os melhores e não gostariam nada
do confronto. Estou enganado?).
Enfim, a semaninha de workshop proporcionada
pelo Guimarães Jazz não
resolve o problema; mas aponta uma direcção. Experimentem perguntar
aos jovens que por lá passam o que pensam da experiência...
Enfim, perdoem-me a toada moralista, mas creio que seria uma boa ideia que
outros festivais proporcionassem este tipo de encontros imediatos de 3.º grau
aos jovens aprendizes de Jazz, que escolas e orquestras o fizessem e que mecenas
o proporcionassem ... Como aliás o já fez a Culturgest no passado...
Mas ouvi dizer que a banca em Portugal andava com problemas financeiros...
Uma última nota nesta já longa conversa: sempre há um
concerto no final das workshops, resultado do trabalho dessa semana. Mas dado
que ele é relegado para a tarde de sexta ou sábado no Auditório
2 do Centro Cultural Vila Flor, muito pouca gente acaba por assistir. Não
mereceria ele outra visibilidade? E não mereceria Guimarães saber
o que estiveram a fazer aqueles jovens dia e noite naquela semana? Será que
não era interessante pô-los a fazer a primeira parte do concerto
da última noite? Ou pô-los a tocar nos coretos da cidade? Ou no
mercado no sábado de manhã? Ou na feira! Ou espalhá-los
pelas freguesias do concelho? Sei lá!, dar-lhes visibilidade!
Ah!, mas é verdade!, sobre o concerto!: Claro que se estava em presença
de uma das melhores escolas de Jazz do país (a ESMAE) e isso faz bastante
a diferença. É interessante
observar como eles são capazes de enfrentar algumas peças mais
clássicas como «Someday My Prince Will Come», como outras
de cariz mais imprevisível como o «Oh Lord! Don’t Let Them
Drop That Atomic Bomb on Me» do sarcástico Charles Mingus, ou
ainda inéditos de Orrin Evans, Eric Revis ou Bobby Watson. A orquestra
revelou plasticidade e disciplina e apresentou quase sempre bons solistas (nem
todos, mas não esqueçamos que estamos ainda assim perante uma
escola). A jovem (veterana) Susana Silva esteve em evidência, excelente
no uso da surdina; mas também o saxofone alto de João Mortágua
em «Easy Now» e essa outra revelação, Ivan Silvestre,
em «Conservations» de Bobby Watson.
Noites de magia
(:as jams do Convívio)
Por fim as jam sessions. Eu sou fã das jam sessions do
Guimarães
Jazz. Creio que é o único momento do ano (a única cidade
do país, o único festival) onde se recria um pouco o espírito
que se vivia no Hot Club nos anos 70: muitos músicos de origens diferentes
a tocar, muita gente nova (e gira) a aplaudir entusiasticamente e a circular,
muita loucura noite fora. Como já vos disse, apenas estive em Guimarães
na segunda semana do festival. Na primeira, as jam sessions decorreram
no Café Concerto
do Vila Flor onde existem algumas condições acústicas
e algum espaço para se circular. No Convívio, situado na zona
histórica da cidade, o espaço é exíguo e as condições
acústicas são deficientes, mas tem outro encanto. Não
vou descrever, o que até já fiz um pouco no passado. Apenas
referir que nas últimas noites chegaram a estar no reduzido «palco» do
Convívio quase duas dezenas de músicos, onde fisicamente apenas
caberiam talvez um terço. E que músicos, senhores! Aos jovens
aguerridos do quinteto de serviço foram-se juntando os alunos das workshops
e toda a Big Band de Charles Tolliver! Quanto ao público... Mas para
que é preciso espaço quando há aquela música
e calor humano e cerveja? Uma jam session é uma jam session,
mas as do Guimarães Jazz são outra coisa!
Enfim, para o ano há mais. Aqui fica uma pequena reportagem fotográfica.
Clique na imagem!
Dezembro 2007
(Fotos de Ahmad Jamal, Charles Tolliver Big Band, John Sofield, Billy Harper, TOAP Colectivo e Orrin Evans, por MÁRCIA LESSA, gentilmente cedidos por Guimarães Jazz.)
(JazzLogical esteve em Guimarães a convite do Guimarães Jazz)
Antecipação do Guimarães Jazz 2007
O acontecimento da semana é o início do Guimarães Jazz que decorrerá até dia 17. De longe o mais importante festival de Jazz nacional, pela dimensão e pelo critério, a programação prossegue a linha mais mainstream dos anos anteriores, longe das polémicas e de algum risco de outrora. Maturo e equilibrado, creio que apesar do inquestionável acerto dos nomes escolhidos - todos eles de primeiríssimo plano -, se perdeu algum gosto pela aventura e pela novidade que personalizava o festival. Os nomes, uma boa parte ajudaram a cosntruir a história do Jazz dos últimos 40 anos e alguns outros são já nomes seguros do moderno mainstream. Vamos a eles.
Já na quinta toca o lendário Pharoah
Sanders, um dos últimos
companheiros de John Coltrane; um músico intenso, que sempre imprime
na sua música as convicções ascéticas e religiosas.
Algo distante das formas mais radicais que experimentou com Trane, Sanders
amenizou as formas, balanceando a rudeza do free com o lirismo e místicismo
numa espécie de síntese que faz dele uma das sonoridades mais
imediatamente reconhecíveis.
Acompanha-o um trio de músicos experientes, com quem toca há largos
anos, Nat Reeves no contrabaixo, William Henderson no piano e Joe Farnsworth à bateria.
Pois na sexta toca exactamente Ravi, o filho de Coltrane, que não escolheu o estilo nem a forma de tocar do pai nem vive à sua sombra. Ele pratica um estilo híbrido algo herdeiro do hard-bop, mas também do M-Base onde «militou» nos anos 70; e é por direito próprio um dos nomes maiores da sua geração. Curiosamente, nos últimos tempos, tem-se notado uma aproximação ao estilo do pai, mais arrebatado e intenso. A acompanhá-lo estarão três outros sólidos músicos, Drew Gress, Luis Perdomo e E.J Strickland, dos quais o pianista (Perdomo) será o menos conhecido do público nacional, mas é será muito provavelmente sobre quem se deverão dirigir as atenções. Drew Gress, cerebral e rigorroso, realizou em Oeiras e em Leiria dois dos grandes concertos do ano e Strickland é um eficiente e impressivo baterista.
No sábado toca Jan
Garbarek, um
dos nomes maiores do catálogo ECM, bastante popular entre nós.
A acompanhá-lo estão dois músicos que o conhecem bem,
Manu Katché e Rainer Brüninghaus e Yuri Daniel que substitui
Eberhard Weber.
Músico de muitas músicas, Garbarek é um músico
de Jazz atípico que explora desde há muito as músicos
do mundo e do tempo, com colaborações que vão de Agnes
Buen Garnas a Bugge Wesseltoft, Ustad Nazim Ali Khan, Mari Boine ou os Hilliard
Ensemble. Ele possui um som límpido que evoca os grandes espaços,
bastante dramático, igualmente capaz de tocar «o grande Jazz» ou
a folk universal. O grupo que se apresentará em Guimarães no
entanto será o clássico quarteto que o acompanha há vinte
anos onde, como referi, Weber, que se encontra doente, será substituido
por Yuri Daniel. Outro concerto ganhador.
As noites prolongam-se como é hábito, esta semana no Café Concerto e para a semana no Convívio, sempre «até às tantas». A banda residente nas jams é este ano o quarteto do pianista Orrin Evans, com o irredutível Alex Sipiagin no trompete, Donald Edwards na bateria, Darryl Hall no contrabaixo e Stacy Dillard no saxofone.
5 de Novembro de 2007
Esta semana prossegue o Guimarães Jazz. Os nomes grandes são o lendário Ahmad Jamal, John Scofield, o guitarrista que acompanhou Miles no início dos anos 70, e Charles Tolliver e a sua Big Band. Claro que quem já esteve em Guimarães sabe que o festival não começa nem acaba nos concertos e se prolonga pelas workshops e pelas noites no Convívio, entre outros acontecimentos. Este ano, «outros» são a gravação de um disco para a Tone Of A Pitch (TOAP Colectivo) num concerto no sábado à tarde ou o concerto da Big Band da ESMAE dirigida por Orrin Evans na sexta.
Orrin Evans é o jovem e talentoso pianista que lidera o grupo responsável pelas longas noites no Convívio que sempre se prolongam até não haver gente ou acabar a cerveja; mas também o grupo que dirigirá as workshops e que abre as hostilidades esta semana, já na noite de quarta-feira. Atenção para o trompete de Sipiagin!
Na
quinta então,
cabem as honras ao «Real Jazz Trio» de John
Scofield, que tem como membros nada menos que o exuberante Steve Swallow
e o sensível Bill Stewart.
Scofield é um músico
algo irregular (ou se preferirmos, camaleónico), capaz de apresentar
sob os mais diversos rostos, entre a fusão jazz-rock e o jazz puro e
duro. O grupo que se apresenta em Guimarães pertence a esta última
classificação. Para além do trio de virtuosos, fazem ainda
parte do grupo três sopros, a acrescentar densidade ao Jazz Real de Scofield.
Prometem-se emoções fortes para quinta-feira.
Na noite seguinte é a vez da lenda Ahmad Jamal, o pianista que Miles Davis considerava «o mais modernista dos pianistas». Miles admirava-lhe sobretudo o engenhoso uso do silêncio e o perfeito equilíbrio do triângulo que o notabilizava. Longe das formas elegantes desses longínquos anos 60, Jamal tornou-se um pianista vertiginoso. Tudo se concentra nele e até mesmo na designação do espectáculo desapareceram os nomes dos acólitos. Do grupo de suporte, James Cammack e Idris Muhammad acompanham-no há bastante tempo e são dois mais que eficientes sidemen, que contribuem para o efeito «totalizante» do som do grupo. Acompanham-no um percussionista desconhecido (para mim). Apesar da já proventa idade – 77 anos -, auspicia-se um grande concerto.
Para o encerramento do festival, e como é tradição em Guimarães, apresentar-se-á uma big band, este ano dirigida por Charles Tolliver; um músico que nos últimos anos se distinguiu como acompanhante de Andrew Hill, até ao seu recente desaparecimento. Tolliver professa um bop erudito: enquanto instrumentista, ele estará na escola dos grandes virtuosos como Freddie Hubbard. A orquestra de vinte elementos que dirige, onde predominam os metais, tem reputação de poderosa e sofisticada. A ouvir vamos.
12 de Novembro de 2007
Qui 8-Nov | Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
24.00
|
Guimarães
Jazz
|
Jam Sessions - 8 a 10
Orrin Evans Group |
OE (p), Alex Sipiagin (t), Donald Edwards (bat), Darryl Hall (ctb), Stacy Dillard (s) |
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Pharoah
Sanders Quartet
|
PS (s), William Henderson (p), Nat Reeves (ctb), Joe Farnsworth (bat) |
|
Sex 9-Nov
|
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Ravi
Coltrane Quartet
|
RC (ts, ss), Drew Gress (ctb), Luis Perdomo (p), E.J Strickland (bat) |
Sáb 10-Nov | Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Jan
Garbarek Group
|
JG (s), Manu Katché (perc), Yuri Daniel (ctb), Rainer Brüninghaus (p) |
Seg 12-Nov
|
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
Guimarães
Jazz
|
Workshops de Jazz: 12 a 17
|
Orrin Evans: bb, p |
|
Qua 14-Nov | Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Orrin
Evans Quintet
|
OE (p), Alex Sipiagin (t), Donald Edwards (bat), Darryl Hall (ctb), Stacy Dillard (s) |
Qui 15-Nov
|
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
John
Scofield «Real Jazz» Trio
|
Steve Swallow + Bill Stewart - JS (g), SS (b), BS (bat), Phil Grenadier (t, flug), Eddie Salkin (st, f, cl-b), Frank Vacin (sb, cl-b) |
Guimarães
|
Associação Cultural Convívio
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Jam Sessions - 15 a 17 Orrin Evans Group |
OE (p), Alex Sipiagin (t), Donald Edwards (bat), Darryl Hall (ctb), Stacy Dillard (s | |
Sex 16-Nov
|
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
18.00
|
Guimarães
Jazz
|
Big Band ESMAE |
Big Band ESMAE conduzida por Orrin Evans |
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Ahmad Jamal |
AJ (p), James Cammack (ctb), Idris Muhammad (bat), Manolo Badrena (perc) | |
Sáb 17-Nov
|
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
18.00
|
Guimarães
Jazz
|
TOAP Colectivo |
Matt Renzi (st, cl) Jacob Sacks (p), Bernardo Moreira (ctb), André Sousa Machado (bat) |
Guimarães
|
Centro Cultural Vila-Flor
|
22.00
|
Guimarães
Jazz
|
Charles Tolliver Big Band |
CT (dir), David Guy (t), Chris Albert (t), Keyon Harrold (t), David Weiss (t), James Zollar (t), Joe Fiedler (trb), Clark Gayton (trb), Stafford Hunter (trb), Jason Jackson (trb), Aaron Johnson (trb), Todd Bashore (s), Jimmy Cozier (s), Craig Handy (s), Billy Harper (s), Bill Saxton (s), Howard Johnson (s), Stanley Cowell , Cecil McBee (ctb), Victor Lewis (bat), Ched Tolliver (g). |