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Guimarães Jazz

 


Charles Lloyd
The Story
Gonzalo Rubalcaba
Big Band da ESMAE
New York Composers Orchestra
 

2010


Este terá sido porventura o melhor Guimarães Jazz de sempre, confirmando também a manutenção no primeiro lugar entre os festivais nacionais.
De acordo com uma fórmula estabilizada, o festival constou de nove concertos, para além das jam sessions diárias, que se alargou uma vez mais para um outro espaço, o foyer do cinema São Mamede (bastante participado aliás, onde haverá apenas a lamentar o excesso de fumo), uma exposição dos cartazes das vinte edições do festival, e ainda pequenos concertos espalhados pelos restaurantes e bares da cidade, pelos jovens participantes das workshops.
À semelhança dos anos anteriores o festival contou com uma organização irrepreensível, sendo praticamente impossível ignorar o festival em lugar algum da cidade: os resultados foram quatro concertos completamente esgotados na sala principal do belíssimo Centro Cultural Vila Flor de 900 lugares, e uma generosa participação do público, e em especial dos jovens nas jam sessions.
A programação deste 2010 teve contudo algumas novidades, cortando com o tom algo excessivamente mainstream dos anos anteriores, sendo que o festival trouxe a si, uma vez mais, alguns dos melhores músicos e grupos da cena Jazz mundial.
Apenas assisti à segunda semana do festival, mas assisti em Lisboa – Culturgest, com que o festival tem uma colaboração antiga – ao concerto do Saxophone Summit (), sobre que escrevi noutro sítio.

The Story
De todos os membros da banda apenas já conhecia o pianista, John Escreet, a que dediquei uma recensão (em Jazz 6/4, Don't Fight the Inevitable, ) há uns meses atrás . A juventude e a origem diferente dos membros da banda fazia-se notar na originalidade das composições, e nas prestações dos músicos, sendo ao mesmo tempo a sua maior debilidade e a sua força. As debilidades sentiam-se em especial na bateria e no contrabaixo, denotando nalgum primarismo a sua origem rock, se bem que essa mesma origem contribua para a frescura da música do grupo, a par de outras influências. Diria mesmo que a música que os The Story levou a Guimarães correspondeu ao que de mais inovador e avançado assisti em Portugal este ano: composições engenhosas, bons arranjos colectivos, um pianista criativo, uma frente de saxofones de primeira água e uma secção rítmica impulsiva e entusiasmada. Ainda haveremos de ouvir falar dos The Story.

Charles Lloyd New Quartet
Lloyd é um daqueles músicos que me consegue verdadeiramente emocionar, e desconfio que não serei o único, tal é a força da sua música. O grupo vive em torno de Charles Lloyd e a emoção que ele comunica - que faz parte mesma da própria noção de Jazz – não é simulada e somos levados num vórtica que exige de nós uma entrega a que não podemos resistir. Mas de cada vez que o ouço vou tomando mais atenção à prestação dos seus membros, e esta é uma formação que se tem revelado capaz de fazer História. As sensações que afloram à pele confundem-se com o deslumbramento provocado pela técnica insuperável e pela eficácia e pela inteligência do grupo. Em evidência esteve Jason Moran, um pianista que já entrou para os anais dos grandes pianistas de Jazz. Uma personalidade onde a modéstia parece estar em contradição com a sua eloquência. A modernidade do seu piano contém toda a história do piano Jazz, mas também o seu futuro. Jason parece fazer a ponte entre a vertigem da secção rítmica e a volúpia e o turbilhão - e também a paz e a doçura - do saxofone. Um concerto inesquecível.

Gonzalo Rubalcaba Quintet
Gonzalo Rubalcaba anda em tournée com um quinteto que recupera o mais genuíno do espírito do Jazz latino de Dizzie Gilespie, a que lhe acrescentou a sofisticação do seu piano e da sua escrita. Música acabada no seu género, provoca no auditório reacções diversas, entre a perfeição inexcedível e a musicalidade incontida. Sem novidade, é certo, mas impetuosa e contagiante.

Big Band da ESMAE
Uma das iniciativas mais meritórias do Guimarães Jazz é a organização é a workshop que o festival organiza todos os anos com uma banda, todos os anos diferente, e jovens estudantes de Jazz, que nos últimos anos se tem circunscrito à Big Band da ESMAE. O resultado é sempre diferente, mas de enorme valor, já que permite a estes jovens um alargar de horizontes que a rotina da academia com frequência inibe.
Este ano em particular, pela juventude (e como noutro sítio referi, a diferente origem) dos professores, mas por outro lado o seu entusiasmo, a apresentação foi particularmente estimulante.
Creio que pela primeira vez este concerto encheu a sala do Pequeno Auditório, o que não deixa de ser significativo em termos de interesse crescente que a «simples» apresentação dos resultados da semana de trabalho, motiva no público.

New York Composers Orchestra
O concerto de encerramento do Guimarães Jazz é tradicionalmente feito por uma orquestra, e com frequência Guimarães leva ao palco projectos únicos ou pouco tocados e ouvidos.
A New York Composers Orchestra, fundada nos finais dos anos 80, foi um laboratório por onde passaram os músicos mais relevantes da downtown nova-iorquina, mas que se encontra relativamente suspensa, com raras aparições públicas. Os líderes da orquestra são Robin Holcomb e Wayne Horvitz, cuja passado e história de irreverência e vanguardismo estimulavam a curiosidade. Ademais, a orquestra anunciava na sua formação nomes maiores como Bobby Previte, Marty Ehrlich, Tom Varner ou Ron Horton.
As composições sucederam-se de acordo com duas direcções, que resultaram nalgum desequilíbrio, e que foi a pecha do concerto: por um lado novas peças de Holcomb com um forte cariz contemporâneo a escapar ao Jazz, e por outro lado temas recuperados dos anos 80 e 90, registados nos dois discos editados na New World Records, de ambos os autores. À parte o referido desequilíbrio, o concerto foi muito estimulante, com relevo para as peças de Holcomb, menos fortes do ponto rítmico, mas com combinações harmónicas de grande inteligência, a revelar a filiação clássica erudita da compositora; capaz de tirar proveito, ainda assim, de uma orquestra de Jazz e de solistas do gabarito de Ehrlich ou Tom Varner.

(JazzLogical esteve em Guimarães a convite do Guimarães Jazz)

Fotos by João Peixoto

 

 

Qui 11-Nov
Centro Cultural Vila Flor
21.30
The All Star Celebration of Lionel Hampton

Jason Marsalis (vib), Roberta Gambarini (voz), Jacey Falk (voz), Curtis Fuller (trb), Anders Bergcrantz (t), Ronald Baker (t), Claus Reichstaller (t), Red Holloway (st), Lothar van Staa (st) , Jesse Davis (sa), Markus Bartelt(sb), Sharp Radway (p), Martin Gjakonovski (ctb), Bill W. Ketzer (bat)

Sex 12-Nov
Centro Cultural Vila Flor
21.30
Kenny Garrett Quartet
Kenny Garrett (sa), Johnny Mercier (o), Kona Khasu (b), Nathan Webb (bat)
Sáb 13-Nov
Centro Cultural Vila Flor
21.30
Saxophone Summit
Joe Lovano (st), Ravi Coltrane (st), Dave Liebman (st), Billy Hart (bat), Cecil McBee (b), Phil Markowitz (p)
Dom 14-Nov
Centro Cultural Vila Flor
TOAP 2010
Julian Argüelles (s), Mário Laginha (p), André Fernandes (g), Nelson Cascais (ctb), Marco Cavaleiro (bat)
Qua 17-Nov
Centro Cultural Vila Flor
21.30
The Story
Samir Zarif (s), Lars Dietrich (s), John Escreet (p), Zack Lober (ctb), Greg Ritchie (bat)
Qui 18-Nov
Centro Cultural Vila Flor
21.30
Charles Lloyd New Quartet
Charles Lloyd (s), Jason Moran (p), Reuben Rogers (ctb), Eric Harland (bat)
Sex 19-Nov
Centro Cultural Vila Flor
21.30
Gonzalo Rubalcaba Quintet

Gonzalo Rubalcaba (p), Michael Rodriguez (t), Yosvany Terry (s), Matt Brewer (b), Ernesto Simpson (bat),

Sáb 20-Nov
Centro Cultural Vila Flor
Big Band da ESMAE
 
21.30
New York Composers Orchestra
Marty Ehrlich (s, cl), Doug Wieselman (s, cl), Andy Laster (sb), Briggan Krauss (sa), Douglas Yates (s, cl), Ron Horton (t), Russ Johnson (t), Zubin Hensler (t), Curtis Fowkles (trb), Art Baron (trb), Tom Varner trom), Lindsey Horner (b), Bobby Previte (bat), Robin Holcomb (p, dir), Wayne Horvitz (dir)