Festival HCP 75 anos (a Festa, a Música, Feminismo e Inclusão Social)
O FIM DO HOT?
Temi o pior quando
um amigo me ligou a comunicar que o prédio
do Hot tinha ardido. As notícias precisaram que a histórica
cave do Hot tinha sobrevivido ao fogo, mas a água que serviu para
o apagar inutilizou irrecuperavelmente a sala. Felizmente, apesar de tudo,
o
espólio do Villas já não
se encontrava no prédio, nem o arquivo do clube. Mas na velha cave
da do 39 da Praça da Alegria não mais se ouvirá Jazz.
É verdade que o
Hot Club não é apenas
a sala de concertos; o Hot é hoje também
a Escola de Jazz. Mas para a maioria
dos amantes de Jazz, o Hot era realmente aquele espaço e as suas memórias.
Recordo-me de ouvir Jason Moran dizer entusiasmado na primeira vez que veio
a Portugal (e onde não
perdeu a oportunidade de tocar): «Já não há clubes
como este em New York». Agora já não há em lado
nenhum. Não se sabe quando haverá concertos no único
clube do país onde se podia ouvir Jazz quatro noites por semana
e as perspectivas não são as melhores. Felizmente que os
arquivos do Hot não estavam
já no
prédio que ardeu.
Propriedade da Câmara Municipal de Lisboa, o prédio, bem como
os contíguos e o espaço adjacente do Parque Mayer, está envolvido
numa trapalhada burocrática que adiou o projecto de criação
de um clube de Jazz com um museu e escola de música com as condições
que o prédio da Praça da Alegria não possuía.
O Hot Club e a Câmara têm-se reunido para encontrar uma solução
de recurso temporária, mas até ao momento não foi possível
encontrá-la.
Têm sido inúmeras as vozes que têm apelado à solução
do problema e um amante de Jazz já reuniu alguns milhares de assinaturas
para chamar a atenção das autoridades ligadas à cultura
do problema.
O Hot Club de Portugal fez no ano passado 60 anos. O velho clube de Jazz
não
mais será o mesmo.
23 Dez 2009
Hot Club 60 anos
A história do Jazz em Portugal confunde-se com a história do Hot Club de Portugal, e bastaria dizer que o seu fundador foi Luís Vilas Boas. O Hot é um dos mais antigos clubes de Jazz do mundo e ele é «A» sala do Jazz em Portugal. Todos os músicos nacionais testam os seu projectos na cave da Praça da Alegria e é normal músicos americanos acabarem no Hot depois de uma noite de concerto. Num clube em que se transpira história, o painel das fotografias é expressivo e enumerar os fotografados seria fastidioso, entre Louis Armstrong, Count Basie, Rao Kyao e Dexter Gordon.
Luis Vilas Boas |
Mesmo para os jovens músicos de Jazz o Hot tem qualquer coisa de irresistível que parece evocar as noites do Minton's. Jason Moran, por exemplo, não vem a Lisboa sem passar pelo Hot: «Já não há clubes assim em Nova Iorque!», disse-me fascinado uma das primeiras vezes que veio a Lisboa.
Já não sou tão assíduo quanto gostaria, mas na segunda metade dos anos 70 o Hot era local de peregrinação obrigatório, como início de noite ou destino final. Quando me perguntam as memórias do Hot, nem todas são musicais. Por essa altura alguns dos meus amigos tocavam lá e o Hot era (e ainda é hoje) muito bem frequentado e tanto se passava lá dentro como fora! Recordo uma noite em que a confusão era tanta – creio que no final de um concerto do António Pinho Vargas com o Zé Eduardo –, alguém na Márcia Condessa, a casa de fados do 1.º andar, começou a atirar baldes de água cá para baixo, para cima da multidão! De certa forma eu creio que algumas dessas minhas boas memórias só se podiam ter passado ali, como alguma da boa música que ouvi só se podia ter ou(vi)vido no Hot.
O Hot já não é o que era (e até – sinal dos tempos – a Márcia Condessa acabou). Hoje ele granjeou reconhecimento e autoridade na sociedade portuguesa, até pela Escola por onde passaram ou permanecem, como professores ou alunos, Mário Laginha, Maria João, Zé Eduardo, Carlos Martins, Pedro Moreira, Paula Oliveira, Mário Delgado, João Paulo, entre tantos outros.
Desde a sua fundação (eu não conheci: ainda não era nascido!) ele terá atravessado inúmeras fases e as recordações dos que o frequentaram serão bastante diversas. Hoje o Jazz toca-se em muitas salas por todo o país. Mas para mim, o Hot permanece «A Catedral do Jazz». De certa forma ele possui vida própria: ele é como que um guardião da boa música, e enquanto ele existir o Jazz não pode acabar.
O Hot faz 60 anos! O Jazz está de parabéns!
Leonel Santos
19 de Março de 2008
http://www.hcp.pt/
Nome : HOT CLUBE DE PORTUGAL
Localidade(s): LISBOA
Sala(s) do(s) Espectáculo(s): LISBOA
Morada: PRAÇA DA ALEGRIA, 39 – 1250 004 LISBOA
Telefone: 21 346 73 69 (noite) / 21 361 97 40 (dia)
Endereço Internet: http://www.hcp.pt/
Email: clube@hcp.pt
Bilheteira (tel) : 21 346 73 69
Dias da semana em que funciona: DE TERÇA A SÁBADO
Período do ano: TODO (fecha normalmente parte do mês de Junho)
Presidente da Direcção: Pedro Moreira
Organização/ Proprietário: HOT CLUBE DE PORTUGAL - Associação sem fins lucrativos e de Utilidade Pública
Apoios: C.M.L. apoia com a cedência de instalações para a Escola de Jazz Luis Villas Boas.
Outra informação que considerem
pertinente: O
Hot Clube de Portugal tem como principal objectivo estatutário “A DIVULGAÇÃO
DA MUSICA JAZZ”.