O Jazz Além Tejo é um bom exemplo dos pequenos festivais de Jazz que apenas se realizam graças à «carolice» de alguns indivíduos que teimam em contrariar o centralismo a que a cultura esté votada, desdobrando-se na procura de apoios e públicos e persistindo em organizar eventos nos locais mais improváveis. O mérito destes promotores – que trabalha quase sempre com financiamentos modestos - é enorme, contribuido para quebrar o estigma da marginalidade, navegando contra-a-corrente no rio da mediocridade a que está votada a cultura nos pequenos meios. E diria que estes eventos são também, se bem geridos, fundamentais para o incremento do turismo e para estimular a realização de outros eventos, «contaminando» muitas vezes o gosto pela (com) boa música (e a arte nas suas diversas formas) dos agentes culturais e mesmo das populações que apenas se revêem no parolismo pimba porque os seus «líderes» decidiram baixar o nível da oferta.

Com uma programação inevitavelmente nacional, os concertos do Jazz Além Tejo 2015 ocorreram entre a sala nobre de Santiago do Cacém – Auditório António Chainho – o anfiteatro da Escola Secundária Padre António Macedo de St. André e dois bares da lagoa de St. André, o G.D. Repsol e o Fragateira.

Os nomes principais da programação eram Júlio Resende e o seu projecto Amália, em Santiago do Cacém, e o quinteto de André Fernandes Wonder Wheel, em Santo André, mas também o Trio de André Sousa Machado, uma formação atípica de guitarra, bateria e voz – André Sousa Machado, Mário Delgado e Rita Maria (interessante projecto que me chamou a atenção e que haveria de ver mais tarde) –, o duo Noiz & Nois, uma banda de blues, o The Fried Fanekas Blues Band e ainda o quarteto de Marta Garrett, no Fragateira Bar. Apenas assisti aos concertos do segundo fim de semana.
Nos dois casos, André Fernandes na Escola Secundária Padre António Macedo e Marta Garrett no Fragateira, casa cheia e público entusiasmado.

Regressado após três anos de interregno, o Jazz Além Tejo promete mais e melhor. O Jazz Além Tejo é preciso.
Muitos anos de vida, mais público, mais festival, mais Jazz Além Tejo!

André Fernandes Wonder Wheel
Um dos mais importantes guitarristas nacionais, André Fernandes levou ao Jazz Além Tejo o «Wonder Wheel». Uma verdadeira formação de luxo - Mário Laginha, Demian Cabaud, André Fernandes, Alexandre Frazão e Inês Sousa, o «Wonder Wheel» de André Fernandes não precisou de muito para levar ao rubro a plateia da pequena sala da Escola de St. André. Com um repertório quase integralmente constituído por composições escritas pelo guitarrista, o poderoso motor de «Wonder Wheel» apenas soçobrou a espaços na vocalização de Inês Sousa, que abusou daquela forma pobre de scat baiábaiá que parece estar em voga entre as cantoras de Jazz nacionais, e que apenas revelou – arriscando - as suas qualidades vocais na interpretação de um standard. Uma nota ainda assim irrelevante num bom concerto: o «Wonder Wheel» é uma máquina muito bem oleada e Mário Laginha e André Fernandes estiveram particularmente exuberantes.

Marta Garrtett 4tet
O festival mudou-se para o Fragateira Bar na Lagoa de Santo André no final da noite, onde cantou Marta Garrett. Num ambiente descontraído, mais barulhento também e com um auditório menos atento - logrando ainda assim obter a atenção de algum público-, a jovem cantora esteve particularmente bastante bem na superação das dificuldades, injectando emoção e risco num repertório clássico. Uma cantora de Jazz com muito para crescer, mas a seguir com atenção.
Um agradável encerramento do festival.

Leonel Santos esteve no Jazz Além Tejo a convite do festival.

Produção: Associação Quadricultura
Coprodução: Câmara Municipal de Santiago do Cacém

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