Jazz ao Centro
2008
Esta será porventura
a mais ambiciosa edição do Jazz
ao Centro desde o seu início em 2003. Sem nenhum nome de primeiro
plano da cena do Jazz internacional, o festival deste ano não deixará ainda
assim de conter motivos que justifiquem a deslocação dos amantes
do Jazz. Em especial dos apreciadores das áreas marginais ou trânsfugas
ao Jazz, já que de toda a programação apenas um dos concertos
se inclui claramente no Jazz mainstream: o Júlio
Resende Quarteto. Um Jazz descentrado ou pluricentrado, buscando referências
na Europa, na Índia, na música contemporânea «ocidental» ou
no free jazz (o período do Jazz centrígugo por excelência);
tal é a opção do Jazz
ao Centro.
A importância de ser Jazz ou não ser Jazz é menor,
até porque é verdade
que foi em grande medida nas margens que o Jazz sempre buscou uma boa parte
da sua inspiração; margens que ele moldou (ou ajudou a moldar),
digeriu e de novo devolveu num processo dialéctico que continua. O facto
de ser ou não ser Jazz não é importante, pois
que a música pode de igual forma ser interessante; mas deverá sempre
ser de boa regra que as plateias estejam avisadas.
Michaël
Attias |
Uma outra condicionante desde a primeira edição do festival - a ligação umbilical a uma editora - e que tem reflexos por exemplo na insistência em nomes que estiveram em edições recentes do festival, parece ter sido este ano algo mitigada. Positiva parece ser enfim um maior assunção do festival por parte da Câmara Municipal de Coimbra e o apoio de várias entidades procurando levar o festival ao pelotão dos grandes festivais de Jazz nacionais. Em época de crise, a repartição dos custos (cachê, transporte e alojamento de músicos) por outros festivais e entidades é uma medida de bom senso; assim o patrocínio não coarcte a liberdade.
Em boa verdade o festival
começou já nas passadas quinta e sexta-feira
com a «actuação» de DJs e a distribuição
de discos, revistas, e a oferta de bilhetes para o festival.
Para além dos concertos, o festival será acompanhado com programações
de rádio expressamente realizadas para o efeito e emitidas para a
cidade, uma palestra, a projecção de dois filmes, várias
exposições de fotografia, cartazes, design, instrumentos musicais
e outras, que estarão dispersas por vários centros da cultura
da cidade; também actividades pedagógicas associadas de alguma
forma ao Jazz e uma feira de discos.
Infelizmente, e apesar
de o título da palestra ser «Arte, Ciência
e Tecnologia na temática da improvisação no Jazz, da
improvisação
livre e da improvisação estruturada», não foi
convidado nenhum especialista, crítico, divulgador ou professor na área
do Jazz: Carlos "Zíngaro" é um músico que
actua na área da música contemporânea que não
se considera a si mesmo músico de Jazz, apesar de ter no seu currículo
a participação no movimento free dos anos 70 em Portugal. Rui
Eduardo Paes é um «Jornalista, crítico de música
e ensaísta», de acordo com ele mesmo, especializado na área
da música contemporânea - e pós-contemporânea,
também de acordo consigo. E Rui Vilão e Fernando Penousal Machado
são ambos professores e investigadores nas áreas da física
e da tecnologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Faculdade
de Coimbra.
Já nas projecções o JACC
foi mais atento: o Belarmino (1964) de Fernando Lopes que tem banda sonora de
Manuel
Jorge
Veloso
interpretada pelo Quinteto do Hot Club de Portugal, tem como
convidados Fernando Lopes o realizador e Bernardo Moreira, director do HCP
e músico
integrante do quinteto do Hot à altura, para uma «conversa
em família» no final da sessão.
Os concertos têm início já na próxima quinta-feira
com o ZFP Quartet de Carlos Zíngaro, prosseguindo logo no dia seguinte
com o renovado Quarteto de Júlio Resende, com João Lobo na bateria
e John Herbert no contrabaixo, e no sábado com Agustí Fernández,
Barry Guy e Ramón López. As noites desta primeira semana serão
animadas pelo Michaël Attias Quintet que irá apresentar em antecipação
o novo projecto, Twines of Colesion, a editar para a JACC/ Clean Feed. Este
grupo irá tocar também na Casa da Música e na Culturgest
nos próximos dias 8 e 9.
A segunda semana começa com um ambicioso projecto, o JACC
Workshop Orchestra,
uma média formação dirigida por Michael Attias, onde pontuam
músicos como Alípio C Neto, Johannes Krieger ou João Lobo.
Na sexta é a vez de Ravish Momin (Ravish Momin's
Trio Tarana) com a
sua fusão de Jazz e Oriente
e no sábado tocará o Hélène Labarrièrre
Quartet, uma curiosa formação de contrabaixo/ saxofone barítono/
guitarra e bateria. As noites estarão por conta de Alberto
Pinton & Chant que se espera não abuse do arroz e dos confetti. Júlio Resende,
o JACC Workshop e Alberto Pinton estarão também no novíssimo
Encontros de Jazz nos Capuchos na próxima semana.
As minha aposta são
os concertos de Júlio
Resende e do quarteto de Hélène
Labarrièrre. A minha
curiosidade vai para as duas formações de Michaël
Attias e Alberto Pinton.
Júlio Resende é a
nova coqueluche do mainstream nacional. Será interessante
observar o seu comportamento para com Herbert, se Herbert estiver ao nível
do que lhe conhecemos ao lado de Andrew Hill e melhor que com Marc Copland,
e João Lobo e
Zé Pedro Coelho são dois instrumentistas eficientes. O argumento
principal da contrabaixista Hélène Labarrièrre é,
além
dela, a certeza do entusiasmo e furor de Corneloup e a garantia do Jazz de
alto
nível,
notabilizado ao lado de Henri Texier, Eric Watson ou Louis Sclavis de Christophe
Marguet.
O Twines of Colesion tem cinco razões de sobra (na pessoa dos seus
instrumentistas) para vencer a noite e o JACC Workshop Orchestra será uma
boa ocasião para comprovar dos dotes de Attias como compositor e director. Não
me recordo de alguma vez ter assistido a um concerto de Pinton, mas os curtos
excertos que estão disponíveis no site da JACC são sugestivos.
A
confirmar, ambos.
Enfim, ambição, arrojo, preços acessíveis, cinema, rádio, exposições e Jazz «pluricentrado», ajudam a fazer da VI edição do Jazz ao Centro - Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra 2008, o mais importante de sempre.
2 de Junho de 2008
Mais informação em http://www.jazzaocentro.pt/
Qui
5-Jun
|
Coimbra
|
Ateneu
de Coimbra, Sé Velha
|
22.00
|
ZFP Quartet | Carlos “Zíngaro” (v), Simon H. Fell (ctb), Márcio Mattos (vcelo), Mark Sanders (bat) |
Coimbra
|
Salão
Brazil
|
23.55
|
Michaël Attias Quintet: Twines of Colesion | MA (sa), Tony Malaby (st), Russ Lossing (p), John Hebert (ctb), Satoshi Takeishi (bat) | |
Sex 6-Jun | Coimbra
|
Escadas do Quebra Costas
|
22.00
|
Júlio Resende Quarteto feat. John Hebert | Júlio Resende (p), Zé Pedro Coelho (st), John Hebert (ctb), João Lobo (bat) |
Coimbra
|
Salão
Brazil
|
23.55
|
Michaël Attias Quintet: Twines of Colesion | MA (sa), Tony Malaby (st), Russ Lossing (p), John Hebert (ctb), Satoshi Takeishi (bat) | |
Sáb 7-Jun | Coimbra
|
Escadas do Quebra Costas
|
22.00
|
Agustí Fernández / Barry Guy / Ramón López “Aurora” | Agustí Fernández (p), Barry Guy (ctb), Ramón López (bat, per) |
Coimbra
|
Salão
Brazil
|
23.55
|
Michaël Attias Quintet: Twines of Colesion | MA (sa), Tony Malaby (st), Russ Lossing (p), John Hebert (ctb), Satoshi Takeishi (bat) | |
Qui 12-Jun | Coimbra
|
Teatro
Académico de Gil
Vicente
|
21.30
|
JWO - JACC Workshop Orchestra | Michaël Attias (dir), João Guimarães (sa), Alípio C Neto (s), Gonçalo Lopes (cl-b), Johannes Krieger (t, tr), Luís Cunha (trb), Els Vandeweyer (vib), Hugo Antunes (ctb), João Lobo (bat) |
Coimbra
|
Salão
Brazil
|
23.55
|
Alberto Pinton & Chant |
Alberto Pinton (sb), Jonas Kullhammar (st), Torbjörn Zetterberg (ctb), Kjell Nordeson (bat, vib) | |
Sex 13-Jun | Coimbra
|
Escadas do Quebra Costas
|
22.00
|
Ravish Momin’s Trio Tarana | RM (bat, perc, voz), Brandon Terzic (oud), Sam Bardfeld (v) |
Coimbra
|
Salão
Brazil
|
23.55
|
Alberto Pinton & Chant | Alberto Pinton (sb), Jonas Kullhammar (st), Torbjörn Zetterberg (ctb), Kjell Nordeson (bat, vib) | |
Sáb 14-Jun | Coimbra
|
Escadas do Quebra Costas
|
22.00
|
Hélène Labarrièrre Quartet “Les Temps Changent” | François Corneloup (sb), Hasse Poulsen (g), Hélène Labarrièrre (ctb), Christophe Marguet (bat) |
Coimbra
|
Salão
Brazil
|
23.55
|
Alberto Pinton & Chant | Alberto Pinton (sb), Jonas Kullhammar (st), Torbjörn Zetterberg (ctb), Kjell Nordeson (bat, vib) |