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Encontros Internacionais de Jazz
Jazz ao Centro 2022

 

 

O Jazz ao Centro arranca esta semana com dois concertos, o Rodrigo Brandão e Sun Ra Arkestra, hoje ainda no Salão Brazil Alabaster DePlume, na mesma sala, no sábado 24.
O Jazz ao Centro prolonga-se até ao final de Outubro; nove concertos de que iremos dando conta, com relevância para Ambrose Akinmusire, Maria João/ Carlos Bica e Diogo Alexandre.

Permito-me alguns comentários:
desde sempre que o Jazz ao Centro tem uma programação errática, em grande medida porque privilegia o diferente, a experiência, o esquisito, o não-mainstream, o supostamente moderno, em detrimento da música e do Jazz (do mesmo mal que padece o Jazz em Agosto). Muitos dos concertos do Jazz ao Centro têm sido, por esse motivo, projectos falhados ou inconsequentes, mesmo se nesse caldeirão terão surgido alguns grandes momentos, como terá sido o caso dos Mostly Other People do The Killing, entre outros e, mais recentemente o Bill Frisell. Mas nesta modernite – vanguardite reside a principal causa de o Jazz ao Centro ser um festival marginal e irrelevante.

Não tenho por norma fazer este tipo de considerações, preferindo com frequência abster-me de comentários, porque admito que quem programa tem apenas ideias diferentes das minhas, com a pertinência que lhes é devida; sendo que, ainda assim, sempre terão sido claras as minhas reservas quanto à programação do festival.  

Mas o arranque do Jazz é ao Centro 2022 é, diria, escandaloso. Se do Alabaster DePlume eu terei a dizer que muito provavelmente não irá fazer um concerto de Jazz, seja porque de Jazz ele pouco terá mais do que ocasionalmente tocar saxofone. A música de Alabaster DePlume só com muito boa vontade pode enquadrar-se no Jazz, seja qual for a perspectiva. Se ele não se enquadrará em nenhuma classificação, ele estará mais próximo da balada, da pop, do rock, da folk, da canção, e de vez em quando sopra um saxofone. De tudo o que lhe ouvi, Alabaster DePlume parece fazer uma música agradável, simpática e bem intencionada.  
Já o caso do Rodrigo Brandão e a Sun Ra Arkestra configura o que se designa em bom português por aldrabice.
Existem inúmeros exemplos na história de grandes formações que, depois do falecimento co líder, continuaram a existir. Foi o caso da Duke Ellington, da Count Basie, ou das duas Charlie Mingus. Mesmo admitindo algum oportunismo, ainda assim a primeira teve como sucessor na liderança de Mercer Ellington, e ambas procuraram manter o grosso da orquestra e o repertório, sendo que as terceiras exploraram com asserto o fecundo espólio do contrabaixista.
Mas a Sun Ra Arkestra que vai tocar em Coimbra, na Culturgest, em Leiria e em Braga é constituídas por … dois músicos: Marshall Allen e Knoel Scott. Aliás, apenas já Knoel Scott, porque Marshall Allen, que tem 95 anos de idade, adoeceu. E, para lhe dar um ar mais orquestral, foram convocados um músico brasileiro e cinco portugueses, oriundos maioritariamente da área da “livre improvisação”.
Não sei de quem foi a ideia, se de Rodrigo Brandão, de Marshal Allen ou do Jazz ao Centro, mas Sun Ra merece algum respeito. Ao contrário da convicção de muitos, Sun Ra não era um taralhouco vestido de dourado, e a sua orquestra não era um aglomerado avulso de livres improvisadores taralhoucos. A orquestra de Sun Ra era um modelo de organização perfeitamente ellingtoniano, regida ditatorialmente: os músicos eram escolhidos a dedo, e ninguém respirava sem que o maestro desse autorização. Os músicos que tocavam na orquestra de Sun Ra eram não apenas exímios instrumentistas, mas também músicos disciplinados, oriundos das escolas da igreja, da escola do blues, do treino do Jazz, capazes de tocar ali ou na Orquestra de Duke Ellington. Não é o caso dos músicos que vão tocar em Portugal.
Sun Ra era também um mestre do espectáculo: o folclore imaginário em torno do deus Ra que ele encarnaria tornaram-no um ícone. Para os mais distraídos Sun Ra não passava dessa fantasia, mas havia muito mais, havia música por detrás do espectáculo. (Aconselho aos distraídos ao ver um vídeo que está no youtube do concerto em Chicago de 1981, próximo do que ele realizou em Vilar de Mouros em 1982 ou na Gulbenkian pouco anos depois: https://www.youtube.com/watch?v=CLYkS7LNFiA).
A Sun Ra Arkestra não vem a Portugal e o espectáculo que Rodrigo Brandão vai realizar é uma mistificação (estou a ser simpático). Lamentável que o Jazz ao Centro abra o festival com tal concerto, e é lamentável que uma instituição como a Culturgest, que não traz um concerto de Jazz a Portugal há anos, tenha apenas este objecto espúrio para oferecer ao público.
(A propósito, li num jornal o Sun Ra era saxofonista, o que é uma novidade para mim…)

in Agenda Jazz, newsletter, 22 de Setembro de 2022


Jazz ao Centro prossegue esta semana com o concerto, amanhã, quarta 5, a solo, de Nicole Mitchell, uma especialista num instrumento menos comum no Jazz, mas com alguns ilustres devotos: a flauta.
E repito para Mitchell o que escrevi para Stanley Jordan (distantes que eles estão, entre o jazz-pop e o free-jazz), que é o risco da esterilidade, que o virtuosismo e a solidão combinam. É verdade que alguns músicos superam a maldição e a prova (e estou a recordar-me do concerto recente de Craig Taborn na Amadora, mas a flauta não é um piano), e admito e confio que Nicole Mitchell irá agradar à plateia, mais afeita às singularidades experimentalistas do Jazz ao Centro.
No Museu Nacional Machado de Castro.

in Agenda Jazz, newsletter, 4 de Outubro de 2022


Pare esta semana o Jazz ao Centro programou dois concertos solo de Peter Brotzmann e Heather Leigh, e um terceiro onde os mesmos músicos se encontram.
Brotzmann é um saxofonista free, que explora desde há mais de cinquenta anos uma mesma fórmula que privilegia a força bruta sem quaisquer preocupações de musicalidade ou evolução, e tem vindo a Portugal com alguma regularidade.
Heather Leigh é uma especialista na pedal steel guitar, um instrumento comum na música country. Cantora também, apresentou uma música que se funde a country e a folk com a música pop dos anos 70 de Kate Bush ou Brian Eno.
Os dois músicos têm tocado juntos, sem que da reunião eu encontre motivos de interesse, mas esta não será a opinião dos programadores.

Na próxima semana, com Ambrose Akinmusire, mas também Maria João e Carlos Bica, Mário Laginha, e Diogo Alexandre, a música chegará enfim ao Jazz ao Centro.

in Agenda Jazz, newsletter, 11 de Outubro de 2022


O Jazz ao Centro tem, no seu encerramento, a melhor semana (e a meu ver a única que mereceria a deslocação), com, para além do já referido concerto do quarteto de Ambrose Akimusire (atenção: Teatro Académico de Gil Vicente), o Diogo Alexandre Bock Ensemble na mesma noite de sábado, no Salão Brazil. Escrita densa e luxuriante a inspirar os improvisadores, do jovem baterista e compositor, a merecer toda a atenção. Sábado 22.

Mas ainda na sexta 21, a noite começa com o Maria João-Carlos Bica Quarteto, dois históricos do Jazz nacional a dispensar apresentações (Convento São Francisco).
E a completar a noite (no Salão Brazil) toca o Leonor Arnaut / João Carreiro / João Pereira «Living with a Couple».

Ambrose Akinmusire
é um trompetista e compositor, um dos mais extraordinários músicos de Jazz da actualidade. Tendo-se muito jovem feito notar como trompetista virtuoso e um improvisador notável, ele revelou-se um compositor de uma modernidade e erudição irredutíveis, e um espírito aberto a todas as formas musicais onde vai buscar inspiração, das músicas populares, ao rap, à pop ou ao blues, à música erudita contemporânea ou as músicas folclóricas do mundo, ao mesmo tempo que atento à sociedade e às causas sociais, à poesia ou às artes plásticas.
Akinmusire não é um músico de standards, mesmo se ele transporta consigo toda a História do Jazz, e ocasionalmente os toca; mas ele prefere a aventura e o risco na exigência das suas composições: ora rudes, talhadas na rua, ora doces e poéticas: o Jazz contemporâneo no seu mais intranquilo e rigoroso.
A acompanhá-lo estarão, no Seixal, os fabulosos Sam Harris e Harish Raghavan, que o assistem há mais de dez anos e um baterista que com ele toca desde a Primavera deste ano, Timothy Angulo, substituindo Justin Brown (mas que, atendendo aos seus pergaminhos: Rudresh Mahanthappa, Imanuel Wilkins, Jonathan Finlayson, Oscar Noriega…, por certo estará à altura do seu antecessor).
Em Coimbra, talvez por impossibilidade de calendário, Sam Harris será substituído por outro excelente pianista, Fabian Almazan.
Ambrose Akinmusire tocou pela primeira vez em Portugal no Estoril Jazz de 2012 e depois disso veio por diversas vezes, ao Funchal em 2014, a Guimarães em 2016, e à Gulbenkian em 2019. Em 2011 e 2014 foi eleito o músico do ano pela crítica nacional e foi também premiado pelo disco do ano, e nos anos seguintes todos os seus discos estiveram na lista dos melhores.
Toca no Seixal na sexta 21 e em Coimbra no sábado 22.

in Agenda Jazz, newsletter, 17 de Outubro de 2022

 

 

Qui 22
Setembro
Coimbra Salão Brazil 21.30 Rodrigo Brandão e Sun Ra Arkestra Rodrigo Brandão (voz), Marshall Allen (sa, elec), Knoel Scott (st), Elson Nascimento (timbalão), Rodrigo Amado (s), Hernâni Faustino (ctb), Carla Santana (elec), João Valinho (bat)
Sáb 24 Coimbra Salão Brazil 22.00 Alabaster DePlume Alabaster De Plume (voz, st), Conrad Singh (g, voz), Donna Thompson (voz, per), Momoko Gill (bat, voz), Marcelo Viana Frota (g, voz)
Qua 5
Outubro
Coimbra Museu Nacional Machado de Castro 17.00 Nicole Mitchell Nicole Mitchell (f, piccolo, elec)
Sex 14 Coimbra Seminário Maior de Coimbra 18.00 Peter Brötzmann Peter Brötzmann (st, cl, tarogato)
Casa das Artes Bissaya Barreto 21.30 Heather Leigh Heather Leigh (pedal steel guitar)
Sáb 15 Coimbra Antiga Coimbra Editora (Futura Critical Software) 21.30 Peter Brötzmann & Heather Leigh Peter Brotzmann (st, cl, tarogato), Heather Leigh (pedal steel guitar)
Sex 21 Coimbra Convento São Francisco (Sala D. Afonso Henriques) 21.30 Maria João & Carlos Bica Quarteto Maria João (voz), Carlos Bica (ctb), Gonçalo Neto (g), João Farinha (p, tec)
Salão Brazil 23.00 Leonor Arnaut/ João Carreiro/ João Pereira
«Living with a Couple»
Leonor Arnaut (voz), João Carreiro (g), João Pereira (bat)
Sáb 22 Coimbra Teatro Académico de Gil Vicente 21.30 Ambrose Akinmusire Quartet Ambrose Akinmusire (t), Fabian Almazan (p), Harish Raghavan (ctb), Tim Angulo (bat)
Salão Brazil 23.00 Diogo Alexandre Bock Ensemble Diogo Alexandre (bat, c), Tomás Marques (sa), João Mortágua (ss), Paulo Bernardino (clb), André Fernandes (g), Bram De Looze (p), Demian Cabaud (ctb)
Dom 23 Coimbra Grande Auditório do Convento São Francisco 18.00 Mário Laginha & Banda Sinfónica da Filarmónica União Taveirense Mário Laginha (p, c), João Paulo Fernandes (dir)