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Seixal Jazz

2008
Correu bem – do ponto de vista da música – este regresso do Seixal Jazz, embora o público não tenha afluído como ele merecia. As razões prender-se-ão talvez com a quebra da tradição, ou talvez antes a crise. Os próximos anos dirão, talvez.
Como anunciei, o festival começou no Seixal Jazz Clube, com Marta Hugon, a Escola Moderna de Jazz do Seixal, os Rid Quartet, The Electrics, os BRP e The Fringe, a funcionar nos Antigos Refeitórios da Mundet. De todos apenas assisti fugazmente aos The Fringe de George Garzone, que me pareceu em grande forma.
O Auditório do Fórum Cultural abriu as portas para Dave Holland, como ele mesmo disse, pela terceira ou quarta vez. Em grande forma, todo o grupo esteve no seu melhor, sem qualquer reparo, uma vez mais inscrevendo a candidatura para os melhores concertos do ano. Na primeira sessão, a que assisti, Chris Potter esteve verdadeiramente assombroso, em três solos memoráveis. O outro elemento a brilhar foi, como já há algum tempo o não via, Dave Holland lui même. O terceiro solista em evidência foi Robin Eubanks. Mas é preciso dizer que mais que uma soma de estrelas este quinteto é uma verdadeira constelação; um colectivo bem oleado.
Cindy Blackman tocou no dia seguinte, marcando o regresso ao Jazz depois de vários anos a tocar ao lado de Lenny Kravitz. E talvez que a sua batida esteja mesmo mais dura, mas ela não deixou de confirmar a herança de Tony Williams. Hard-bop relativamente primário, ela imprimiu força e velocidade muito para lá do que se pensaria possível. A secundá-la esteve Carlton Holmes que deu um sabor bluesy à noite no piano eléctrico (também tocou piano), George Mitchell no contrabaixo e J.D.Allen no saxofone, cujos solos, ainda que interessantes, sistematicamente introduziam um corte na velocidade da banda. Apesar da observação, um bom concerto.
Chico Freeman recuperou recentemente Os The Leaders, uma banda mítica dos anos 80. A reunião de músicos superlativos - Freeman, Ray Anderson, Bobby Watson ou o veterano Buster Williams - que esteve no Seixal fez um concerto do nível elevado que se esperava, mas a que faltou alguma chama, atestando o artificialismo do retorno.
O festival encerrou com a orquestra de catorze músicos do trompetista britânico Guy Barker que tocou um hard bop enérgico e bem disposto, a demonstrar que na Grã Bretanha também há (bons) músicos de Jazz. O prato forte do concerto foi uma longa peça em vários andamentos inspirada nalgumas figuras burlescas das óperas de Mozart.

5 de Novembro de 2008

Sex 17-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
Marta Hugon Quarteto
Marta Hugon (voz), Filipe Melo (p), Bernardo Moreira (ctb),
André Sousa Machado (bat)
Sáb 18-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
Marta Hugon Quarteto
Marta Hugon (voz), Filipe Melo (p), Bernardo Moreira (ctb),
André Sousa Machado (bat)
Data
Cidade
Local
Hora
Banda
Músicos
Qui 23-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
Escola Moderna de Jazz do Seixal
Sex 24-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
Rid Quartet
Kris Davis (p), Jon Irabagon (s), Reuben Rading (ctb), Jef Davis (bat)
Sáb 25-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
Rid Quartet
Kris Davis (p), Jon Irabagon (s), Reuben Rading (ctb), Jef Davis (bat)
Qua 29-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
The Electrics
Sture Ericson (st), Axel Dörner (t), Ingebrigt Håker Flaten (ctb), Raymond Strid (bat)
Seixal
Auditório do Fórum Cultural do Seixal
21.30 e 23.30
Dave Holland Quintet
Chris Potter (st, ss), Robin Eubanks (trb), Steve Nelson (vib), Dave Holland (ctb), Nate Smith (bat)
Qui 30-Out
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
BRP
Pedro Velasco (g), Rob Penel (bat), Ben Bastin (ctb)
Seixal
Auditório do Fórum Cultural do Seixal
21.30 e 23.30
Cindy Blackman Quartet
J.D.Allen (st), Carlton Holmes (p. f-r), George Mitchell (ctb), Cindy Blackman (bat)
Sex 31-Out
Seixal
Auditório do Fórum Cultural do Seixal
21.30 e 23.30
The Leaders
Bobby Watson (sa), Chico Freeman (st, ss), Ray Anderson (trb), Fred Harris (p), Buster Williams (ctb), Michael Baker (bat)
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
The Fringe
George Garzone (s), John Lockwod (ctb), Bob Guloti (bat)
Data
Cidade
Local
Hora
Banda
Músicos
Sáb 1-Nov
Seixal
Antigos Refeitórios da Mundet
23.00
The Fringe
George Garzone (s), John Lockwod (ctb), Bob Guloti (bat)
Seixal
Auditório do Fórum Cultural do Seixal
21.30 e 23.30
Guy Barker Jazz Orchestra
Guy Barker (t, dir), Nathan Gray (t, flis), Noel Langley (t, flis), Byron Wallen (t, flis), Rosario Giuliani (sa, ss), Graeme Blevins (st, cl, f), Per “Texas” Johansson (st, cl-ctb, cl, f), Phil Todd (sb, cl, f), Barnaby Dickison (trb), Alister White (trb), Mark Frost (trbb), Ross Stanley (p, hamm B3), Phil Donkin (ctb), Ralph Salmins (bat, per)
           

O Seixal Jazz regressa após três anos de interregno. A programação é de primeira água, à semelhança do que estamos habituados no Seixal, onde haverá apenas o reparo de três dos cabeças de cartaz serem repetentes no Seixal. Ainda assim, será sempre um acontecimento rever o «quinteto perfeito» de Dave Holland, o renovado The Leaders, com Chico Freeman, Ray Anderson ou Bobby Watson e o quarteto da vulcânica Cindy Blackman. A acrescentar a estes nomes haverá ainda no sábado a orquestra do trompetista britânico Guy Barker, um músico mais falado que ouvido (os músicos britânicos são pouco assíduos por cá), mas que traz no currículo ter tocado com Ornette Coleman, Carla Bley, Mike Westbrook ou … Bernardo Sassetti.
Para os distraídos, Dave Holland é um dos grandes contrabaixistas da história do Jazz, que todos os anos teima em ganhar as votações da crítica internacional e do público na categoria do seu instrumento, mas persistentemente também na categoria do seu grupo acústico. Ele é um virtuoso entre os virtuosos e, pessoalmente considero-o virtualmente insuperável. Ele realizou alguns dos grandes entre os maiores concertos a que assisti na minha vida, e foram muitos. Músico profícuo, é regularmente convidado para tocar com todo o mundo, até devido à empatia que facilmente desenvolve, dos clássicos aos experimentalistas, e ele mantém em permanência também vários projectos. O grupo que vai tocar ao Seixal é como já deixei sugerido, um grupo perfeito. Relativamente atípico, é composto por contrabaixo, bateria, vibrafone, saxofones e trombone, e conta com nomes como Chris Potter, Robin Eubanks, Steve Nelson e Nate Smith. Um grande (de novo) concerto em expectativa.
The Leaders é uma formação algo fluida surgida nos anos 80 e que era constituída nessa altura por nomes com Lester Bowie, Arthur Blythe, Cecil McBee ou Chico Freeman, o único que se mantém desse tempo. Os The Leaders já tocaram em Portugal; precisamente no Seixal. Recuperado recentemente, o grupo traz agora músicos superlativos como Freeman, Ray Anderson, Bobby Watson ou o veterano Buster Williams.
Cindy Blackman é uma baterista que se tornou mais conhecida em Portugal por participar no disco de Carlos Martins. Por essa altura no entanto, ela tinha já um longo passado ao lado de Don Pullen, Freddie Hubbard, Sam Rivers ou Jackie Mclean. Com leader, ela dirige desde os anos 80 um grupo de hard bop impetuoso, que já tivemos ocasião de ver por diversas vezes. Sem qualquer originalidade do ponto de vista estético, qualquer concerto de Cindy Blackman é sempre um exercício excessivo, privilégio dos virtuosos, e prazer para nós, simples mortais.
Fiel às tradições, o Seixal decorre de quarta 29 de Outubro a sábado, sempre em duas sessões, às 21.30 e às 23.30, mas prolonga-se pela noite afora nos Antigos Refeitórios da Mundet, transformados em Seixal Jazz Clube. O meu destaque absoluto vai para os The Fringe na sexta e sábado, com o impulsivo George Garzone no saxofone.

28 de Outubro de 2008