De regresso ao auditório nobre do Seixal, o Seixal Jazz procurou conciliar um orçamento mais modesto com uma programação diversificada capaz de mobilizar diferentes públicos.
A escolha residiu em dois grupos nacionais e dois internacionais: o quinteto do cantor Jazzafari e os Tora Tora Biga Band, uma orquestra que pratica um Jazz exótico, muito apelativo, mas de grande qualidade, como representantes nacionais; e os Angles, um grupo nórdico, e um quarteto liderado por dois grandes nomes do Jazz contemporâneo: Ray Anderson e Marty Ehrlich.
Apenas assisti a este último concerto.

Ray Anderson/ Marty Ehrlich Quartet

Desprovido de instrumentos harmónicos, o quarteto pratica uma música muito rude, onde o mais lírico acaba por ser curiosamente Marty Ehrlich que noutros contextos se tem notado por praticar um Jazz muito negro. E diríamos que há bastante de neworleaneano neste grupo, como o pareceu sugerir desde logo o primeiro tema, uma espécie de lamento fúnebre (dedicado ao músico de free-jazz Leroy Jenkins, desaparecido em 2007), que desembocou numa rumba, numa transformação algo de desconfortável na própria naturalidade (da transformação).
Entre o perturbante e o apelativo - os ritmos funky impulsionados pelo trombone desbragado de Ray Anderson - em que por vezes os temas se transformam, e em que o corpo se apercebe antes dos ouvidos. Música exigente e moderna, que tanto parece recuar aos primórdios quanto avançar no futuro, tanto se perde em construções abstractas e intrigantes, quanto mergulha num turbilhão de ritmos latinos.
Associação feliz de personalidades, de criadores e improvisadores inspirados.
Grande concerto!