2013

Tim Berne

Tim Berne veio ao Seixal Jazz apresentar Shadow Man, o mais recente CD dos Snakeoil, gravado para a ECM em 2013. Tim Berne é um veterano, ele mesmo um saxofonista portentoso; a sua música mais recente não exibe a fúria de outros tempos, mas também não navega nas áreas turvas do experimentalismo. Combinação impossível de escrita e improvisação, os Snakeoil correm no fio da navalha.
Música exigente e rigorosa, acusou no palco do Auditório Municipal do Seixal o frio da sua própria erudição.

The Mingus Project

Assistimos há uns meses ao concerto do The Mingus Project no Valado dos Frades, tendo apontado na altura dois óbices à música do grupo: a ausência do trompetista titular, substituído por João Moreira, e a rigidez do grupo (até mesmo do líder), bastante em contradição com a voluptuosidade do preiteado Charles Mingus. Melhor que por essa altura, o grupo soltou-se mais, mas ainda assim persiste uma reverência desajustada. Mas o grupo ganha claramente com a presença de Diogo Duque, não apenas porque ele é um músico efusivo, mas pela forma como ele comunica com o saxofone de Ricardo Toscano e como a sua alegria extravasa para o colectivo. Aquela frente de palco - Toscano-Duque – é absolutamete imbatível em terras nacionais.

Joachim Kühn

Joachim Kuhn parece ter enverado desde há anos por um caminho que privilegia o exibicionismo em detrimento da música. E se os truques de palco funcionam com o público, o Jazz fica de fora. Ausência de ideias, manta de retalhos, rodriguinhos, a rotina é o mote do grupo. Celea, o contrabaixista, que substitui Jean-François Jenny-Clarke da formação original, teve uma prestação aborrecida e a desinspiração contamina aquele que é uma das glórias do Jazz europeu: Daniel Humair.

Donny McCaslin

Projecto de fusão-pop, veio tocar ao Seixal o seu mais recente disco Casting for Gravity.
Melhor que no disco, o Casting for Gravity asssenta bastante na secção rítmica funky, com o baixo eléctico de seis cordas de Rich Brown em evidência, enveredando ocasionalmente por caminhos do reggae ou do dub, ou parecendo replicar a sonoridade dos Weather Report.
Remetendo-se quase sempre, incompreensívelmente, para segundo plano, McCaslin apenas se revelou num trecho a capella dedicado a Cannonball Adderley, e o grupo terminou a actuação num encore «I Love Portugal».

Quatro concertos, repartidos por dois programadores, Paulo Gil e Pedro Costa, oferecem ao público do Seixal Jazz um panorama do Jazz bastante variado.
A minha aposta recai no grupo de Tim Berne (quarta 23) e no The Mingus Project de Nelson Cascais (quinta 24).
Sobre Tim Berne, permito-me remeter os meus leitoes para o que sobre o disco estreia na ECM de 2012, Snakeoil, e a que atribuí classificação máxima:
Quanto ao The Mingus Project, ele é, como o nome indica, um projecto de Nelson Cascais que se inspira na música do grande Charles Mingus, figura incontornável do Jazz. Cascais é um dos mais profícuos contrabaixistas nacionais que se rodeou de um grupo de músicos seguros, onde se destaca «a fera» Ricardo Toscano no saxofone.
O festival completa-se com o trio de Joachim Kuhn (25), acompanhado de Jean Paul Celea e do histórico Daniel Humair na bateria, e ainda
o projecto eléctrico - Casting for Gravity - do poderoso saxofonista Donny McCaslin (26).

(antecipação, 18 de Outubro de 2014)