2016

Longe dos tempos em que o Seixal Jazz foi uma referência do Jazz nacional, o Seixal Jazz procura hoje recuperar algum do seu público e do seu prestígio, mas a dispersão por vários programadores não ajuda, prejudicando em personalidade e correndo o risco mesmo de não agradar a gregos nem a troianos. Não que a programação não possua interesse, mas ela dificilmente agradará a todos, e o conselho de JazzLogical aos seus leitores é prudência e informação.

Dino Saluzzi
O festival começa com um concerto que poderíamos situar na área do world jazz, com Dino Saluzzi, um bandoneonista argentino que cruza a música popular argentina (com relevância para o tango) e o Jazz. Músico popular, relativamente conhecido do público português, com vários discos editados na ECM, fará as delícias de algum público, mas não dos amantes do Jazz mainstream, e tampouco dos vanguardistas.

Mette Henriette
Nos antípodas da música popular fortemente melódica e ritmada de Saluzzi segue-se a saxofonista norueguesa Mette Henriette, que se estreou também na ECM no ano passado, e que se apresentará no Seixal em trio com uma música fria e contemplativa, plena de espaço e silêncio.

Colin Stetson
O terceiro dos concertos internacionais do Seixal Jazz acontecerá no último dia, a encerrar o festival, com Colin Stetson, um saxofonista que se apresentará a solo em palco. Mesmo considerando que se tratará de um músico versátil e virtuoso, este constitui a meu ver mais um erro de casting da programação do Seixal Jazz.
Não está em causa o seu valor (mesmo se eu não aprecio os caminhos que percorre, e mesmo e apesar da parafernália electrónica e elctroacústica de que se faz amiúde rodear e os efeitos com muito de espectáculo que a meu ver substituem a música que deveria lá estar), mas a sua programação como concerto de encerramento do festival. Assim eu esteja errado.

Ainda antes de Stetson o Seixal Jazz conta com três concertos de Jazz nacional, no que eu antecipo seja o melhor do festival, com três propostas diferentes, por músicos com provas dadas.

Gonçalo Marques Quinteto
O primeiro músico a apresentar-se no palco do Fórum Cultural do Seixal será Gonçalo Marques que tocará à frente de um Quinteto com dois saxofones que, pela formação, presumo deverá tocar repertório do (excelente) disco de 2015 – Cabeça de Nuvem –, no que antevejo, também pela formação, seja mesmo o mais estimulante concerto do festival. Ou não estivessem lá João Guimarães, José Pedro Coelho, Demian Cabaud e Marcus Cavaleiro, para além do que é um dos mais consistentes trompetistas nacionais, o líder, Gonçalo Marques.

Hugo Carvalhais Grand Valis
No dia seguinte tocará Hugo Carvalhais com «Grand Valis», também de 2015, contrabaixista e compositor que navega em águas menos ortodoxas, de modernidade e consistência a confirmar ao vivo, e que pela formação também (e pela presença do violinista francês Dominique Pifarelli – um histórico da vanguarda francesa, colaborador de, entre outros, Louis Sclavis, com quem tocou em Portugal por diversas vezes), se antevê um concerto menos acessível ao grande público.

Ricardo Toscano Quarteto
A dispensar apresentações é Ricardo Toscano, que à frente do seu quarteto deverá fazer o concerto mais aplaudido do festival. Com um repertório de standards que toca com um entusiasmo invulgar e sem complexos, os quatro jovens levarão ao palco do Seixal a verdade do Jazz.
E eu creio que uma programação acertada teria Ricardo Toscano para acabar o Seixal Jazz em festa.