2017

Repartida por vários programadores o Seixal Jazz parece procurar recuperar a identidade perdida através da diversidade. O resultado é também ele necessariamente desigual, mais ou menos interessante, de acordo com esses programadores (ou vendedores), e os seus gostos e interesses. Novidade é a retoma dos concertos no Seixal Jazz Club (antiga Mondet), espaço muito bem recuperado, com uma afluência jovem algo barulhenta, que dificultou a assistência aos concertos, mas ainda assim uma ideia a prosseguir.

Destaquei como mais interessantes os concertos de Wolfgang Muthspiel, Michaël Attias, João Barradas e Lee Konitz, e ainda uma interrogação para Dominique Pifarély dada a sua irregularidade - apenas assisti aos concertos de Muthspiel, Attias e Konitz. Nos concertos do Club, assinalei também os concertos do trio de Ricardo Toscano e The Rite of Trio.

E começo pelos concertos do Seixal Jazz Club, a que assisti apenas aos momentos finais (por começarem antes dos concertos do Auditório acabarem): já assinalei a confusão que é a característica da sala, e que impedirá sempre grandes acontecimentos musicais, mas o entretenimento proporcionado não é menosprezável.

E quanto à música, o trio de Ricardo Toscano foi pouco convincente talvez devido ao comedimento do baterista mas, pelo contrário, o projecto rock do nortenho The Rite of Trio pareceu ter naquele espaço a sua casa.

Wolfgang Muthspiel Quintet
Wolfgang Muthspiel é um guitarrista austríaco com um sólido passado, que tem gravado recentemente na ECM. O seu disco do ano passado Rising Grace, com Ambrose Akinmusire, Brad Mehldau, Larry Grenadier e Brian Blade, foi mesmo assinalado por alguns críticos como um dos melhores do ano passado, e mesmo que com uma diferente composição, eu assinalei a excelência da formação anunciada para o Seixal.

Um bom concerto, sem surpresas, música muito contida onde ele mesmo se remeteu para um discreto papel que lhe atribuiria, se não o soubéssemos o líder, um lugar de sideman, e onde o protagonismo esteve quase sempre em Ralph Alessi.

Música muito «bonita», mas cuja cerebralidade impediu quase sempre a exibição dos dotes de Scott Colley ou Eric Harland, que poderiam por si só ter elevado o nível de emoção do concerto a outro patamar. Mas essa não era a música do guitarrista, onde a «estética ECM» se cruzava com a herança third stream, ausente de emoção pois, elaborada e contemplativa.

Michaël Attias Quartet
Um dos mais interessantes dos músicos da Clean Feed, Michel Attias, proporcionou outro bom concerto. Nalguns paralelismos com o concerto anterior, a música de Attias, primou pela contenção e modernidade, e uma execução sem mácula de músicos maiores que nunca se revelaram.

Num repertório próprio (como Muthspiel), uma vez mais não deixou de me vir à cabeça a herança da third stream no refreamento de Nasheet Waits ou, pelo contrário, no engenho de John Hebert, sem que também aqui algum dos músicos se evidenciasse, submetidos a uma estética que se nunca é empolgante, o não é porque não é esse o seu fito, mas que é sempre, também ela, de uma beleza fria, elaborada e contemplativa.

Lee Konitz Quartet
Veterano, bem conhecido do público português, o último dos «revolucionários» do saxofone vivos, encerrou o Seixal Jazz.

Longe do melhor das suas condições físicas, Konitz vale-se de um saxofone que toca sozinho, e de um trio de sólidos músicos – um elegante e arguto George Schuller na bateria, um eficiente Jeremy Stratton no contrabaixo e, sobremaneira, Florian Weber (em substituição do anunciado Dan Tepfer) no piano, que foi capaz conduzir o grupo e resolver as dificuldades que o próprio saxofonista criava (90 anos de idade…) ou a natureza ad hoc da associação.

Repertório clássico: «How Deep Is The Ocean», «Alone Together», «Darn That Dream» ou ainda «Subconscious-Lee», uma noite agradável de Jazz que não se questiona.

Saldo positivo para o Seixal Jazz 2017.