7teto do Hot Clube de Portugal, Vol.3
Orquestra do Hot Clube de Portugal, A música de António Pinho Vargas - A Dança dos Pássaros
Com setenta anos de idade o Hot Clube de Portugal é um dos clubes de jazz mais velhos do mundo com actividade continuada. Nascida num momento difícil da História de Portugal, numa ditadura, onde imperava a política cultural bacoca de Salazar/ António Ferro, os primeiros vinte e cinco anos do clube foram difíceis e irregulares. Quanta diferença desses tempos em que não havia músicos nem público para o jazz!
Hoje o Hot Club é, não apenas um clube de sócios e uma (prolífica) sala de concertos, mas também uma instituição cultural respeitada, com uma escola de jazz de onde saem todos os anos dezenas de músicos, mas também um septeto e uma orquestra, que a actual direcção tem procurado manter activos, com concertos regulares e a edição de discos.Editado já em 2018, o «Vol.3» do 7teto do HCP é formado por músicos de duas gerações: Bruno Santos, Joana Machado, João Moreira e Pedro Moreira, representantes dos «professores», e Ricardo Toscano, Romeu Tristão e João Pereira, a nova força do jazz nacional, formados, ou que de alguma forma passaram pela Escola do HCP.
O líder, Bruno Santos, tem procurado alargar os horizontes temáticos e estéticos do septeto, libertando-o do repertório dos standards (que eu, um pouco envergonhado, confesso que preferiria, apesar de compreender as motivações), com composições do guitarrista. E se em discos anteriores se sente por vezes a aproximação à «alma nacional», a opção do «Vol.3» rumou para uma estética de fusão «anos 70» que por vezes se avizinha do «Return To Forever» de Chick Corea, e que o ewi de João Moreira e a voz de Joana Machado acentuam.
Os arranjos para os sopros é muito interessante, as improvisações – onde Bruno Santos se expõe (mais contidas no CD que ao vivo), são assertivas e estimulantes, e a secção rítmica Tristão-Pereira é mais que eficiente.Com uma formação mais fluida, resultado da sua dimensão - vinte dos melhores músicos nacionais, com agendas próprias –, a Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal tem procurado um repertório um pouco mais clássico, mas aventurou-se em «A Dança do Pássaros» (2017) pelo legado Jazz de António Pinho Vargas.
Pinho Vargas, que nos anos 70 e 80 foi uma das figuras de proa do Jazz nacional, rumou de há muito para outras paragens, mas deixou-nos uma importante herança, muito personalizada, praticamente esquecida das novas gerações. Daí também a importância deste disco.
Um dos méritos deste «A Dança do Pássaros» é contornar o que de mais melífluo a música de Pinho Vargas possui, sem a descaracterizar. Engenho dos arranjadores - César Cardoso, Óscar Graça, Luís Cunha e Tomás Pimentel - o disco possui a pujança de uma grande formação, perante uma música difícil, com um tratamento nem sempre óbvio, mas eloquente.
Direcção eficiente de Luís Cunha à frente de uma vintena de notáveis músicos, «A Dança do Pássaros» foi uma aposta ganha numa música (quase) esquecida.
7teto do Hot Clube de Portugal, Vol. 3, @hotclube 2018
Bruno Santos (g)
Joana Machado (voz)
João Moreira (t, ewi)
Pedro Moreira (st)
Ricardo Toscano (sa)
Romeu Tristão (ctb)
João Pereira (bat)Orquestra do Hot Clube de Portugal, A Música de António Pinho Vargas – A Dança dos Pássaros, @hotclube 2017
Luís Cunha (dir)
Maria João (voz)
Daniel Vieira (sa, ss, f, cl)
João Mortágua (sa, ss)
César Cardodo (st, ss, cl)
Mateja Dolsak (st)
Paulo Gaspar (sb, clb)
Lars Arens (trb)
Mário Amândio (trb)
Rúben da Luz (trb)
Diogo Costa (trbb)
Diogo Pedro (t, flis)
Ricardo Carvalho (t, flis)
Gonçalo Marques (t, flis)
Tomás Pimentel (t, flis)
Johannes Krieger (t, flis)
Nuno Costa (g)
Óscar Graça (p)
António Quintino (ctb)
Pedro Felgar (bat)