Anouar Brahem, Blue Maqams
A estranheza revela-se desde logo no nome do disco, assumindo a associação impossível entre o Maqams, o sistema modal árabe, e o Blue de conotação Jazz, sem que se trate verdadeiramente de uma fusão, porque as personalidades dos actores e os seus valores musicais nunca se dissolvem.
Blue Maqams é singular nos cruzamentos que faz, de culturas e géneros musicais, mas também de personalidades e instrumentos, muito para além do que seria expectável.
A bizarria da associação oriente (também o oriente antropológico: o estranho) – ocidente (a diversidade do nosso ocidente onde a música clássica convive com o Jazz ou os inúmeros folclores), desvanece-se porém aos primeiros acordes de «Opening Day», o tema que abre o Blue Maqams, o mais recente disco do virtuoso do oud, o tunisino Anouar Brahem.
A escolha de DeJohnette e Dave Holland pode ainda assim parecer óbvia – afinal ambos tocaram com Miles Davis nas suas experiências modais no final dos anos 60 -, mas na escolha de Django Bates reside muito do desafio de Blue Maqams, na confronto/ diálogo dos instrumentos – oud X piano -, ou na que diríamos inexequível relação entre as formas tonais e as tradições modais, e a prevalência da harmonia sobre a melodia da música clássica ocidental (que é assumida por Bates), sobre o inverso da música árabe; mas que afinal os quatro músicos resolvem a todo o momento, como se fosse possível.
Hipnótico, mágico, envolvente, mas também desafiante e estimulante, Blue Maqams.
Anouar Brahem, oud
Jack DeJohnette, bat
Dave Holland, ctb
Django Bates, pBlue Maqams, Anouar Brahem, ECM 2017