Gary Bartz and Maisha
Night Dreamer Direct-To-Disc Sessions
CD Night Dreamer 2020
Maisha
Open the Gates
CD Brownswood Recordings 2020
Diria que desde há 40 anos que não se ouve falar tanto do Jazz britânico. Entre os principais responsáveis estão os Maisha de Jake Long e a saxofonista Nubya Garcia que também integra o grupo. O que este Jazz tem de aliciante reside na recuperação da energia e comunicabilidade do Jazz original, que parece surgir como uma resposta à crescente erudição e abstracção do Jazz contemporâneo. Um jazz popular, epidérmico, denso, que vai buscar às raízes longínquas, a África, às percussões, mas também à espiritualidade e catarse de John Coltrane. Este regresso ao essencial tem um equivalente do outro lado do Atlântico, mais politizado, talvez, mas possui com ele em comum o regresso a África, que se manifesta no próprio colorido da apresentação pública. Mas curiosamente também na entrada em cena de mulheres no Jazz como figuras de proa. Como é o caso desta Nubya Garcia, uma saxofonista portentosa.
Os Maisha editaram dois discos em 2020, um primeiro com o veterano Gary Bartz no saxofone em substituição de Nubya Garcia, «Gary Bartz and Maisha» e «Open the Gates» com a formação original.
O encontro com Gary Bartz com os Maisha ter-se-á dado em 2019 no We Out Here Festival e daí a começarem a tocar juntos foi um nada.
O disco foi gravado num único take com a banda toda em estúdio «à maneira antiga» e conta com três temas do saxofonista e dois outros do colectivo. O ambiente é algo diferente do que os Maisha vêm fazendo, bastante mais funky e milesiano, mas o entrosamento é total.
Recordemos que Gary Bartz tocou com Miles Davis nos anos 70 (os mais velhos lembrar-se-ão que Bartz foi o saxofonista da banda de Miles no primeiro Festival de Jazz de Cascais, em 1971) e a herança é pesada. Gary Bartz desenvolveu um estilo muito próximo do que acid jazz, frases curtas, respondendo directamente à estrutura rítmica, e encontrou na densa estrutura rítmica (bateria-percussão-guitarra) o estímulo próprio para o seu saxofone.
Nos 33 minutos do EP «Open the Gates» os Maisha regressam à formação original com Nubya Garcia (que entretanto editou também um outro disco em seu nome, «Source») no saxofone. Herdeira de Coltrane e Pharoah Sanders, o som de Nubya marca o disco - a sua sonoridade densa e espiritual - como já marcava os anteriores. A mística que é característica do grupo está explícita num dos dois temas do disco, a versão gravada ao vivo, «Osiris», que já estava incluída no primeiro disco do grupo, de 2018, apontando que este é o caminho dos Maisha.
Jazz espiritual, místico, poderoso; o regresso às origens.
Night Dreamer Direct-To-Disc Sessions:
Gary Bartz (sa)
Jake Long (bat)
Shirley Tetteh (g-el)
Al Macsween (tec)
Twm Dylan (b-el)
Axel Kaner-Lidstrom (t)
Tim Doyle (per)
Open the Gates:
Jake Long (bat)
Shirley Tetteh (g-el)
Al Macsween (or)
Amané Suganami (p, p-el)
Twm Dylan (ctb)
Tamar Osborn (f)
Binker Golding (s)
Nubya Garcia (s)
Johnny Woodham (t)
Tim Doyle (per)
Yahael Camara-Onono (per)
(Este texto foi publicado no Jornal de Letras)