Orquestra Jazz de Matosinhos
Jazz in the Space Age
CD CARA 2020
Apesar de há muitos anos Matosinhos ter acabado o que foi um dos mais importantes festivais de Jazz nacionais, a cidade mantém dois dos «objectos» mais sólidos do Jazz nacional: uma pedra de homenagem a Luís Villas Boas numa rua perto do edifício da Câmara e a Orquestra de Jazz de Matosinhos (OJM).
Mas se a lápide é importante pelo significante, a Orquestra de Jazz de Matosinhos é um verdadeiro monumento. Manter uma orquestra é um luxo porque não é um devaneio de momento, mas exige um orçamento regular e prolongado. Mas, mais de vinte anos passados desde a sua criação, poderá dizer-se que valeu a pena. Não há em Portugal outra grande formação com a autoridade, estabilidade, exigência e prestígio nacional e internacional como a OJM. Desde 2018, a orquestra tem a sua nova casa na Real Vinícola em Matosinhos.
Sendo uma orquestra «de repertório», a OJM tem escrutinado o espólio dos clássicos, reinventado os cantautores nacionais, convidado solistas dos quatro cantos do mundo ou interpretado peças dos grandes compositores da tradição do Jazz ou da vanguarda com a mesma exigência e seriedade. E vale a pena referir o trabalho de investigação e orquestração dos dois directores, Pedro Guedes e Carlos Azevedo, mas também dos músicos que a compõem, seja como intérpretes ou solistas.
Em Jazz in the Space Age de George Russell a OJM tem um dos seus mais arriscados desafios, e porque a música do compositor é de um arrojo e complexidade que poucos ousaram. Russell é um dos maiores intelectuais do Jazz, ele também um investigador e director, que nos legou algumas peças seminais da História do Jazz do século XX, e diria da Música. O trabalho da OJM incluiu o trabalho de transcrição das gravações para pauta por Telmo Marques e a orquestra convidou os pianistas João Paulo Esteves da Silva e José Diogo Martins para o que foi um dos melhores de sempre da orquestra e para mim o melhor disco de Jazz do ano de 2020.
Direcção: Pedro Guedes
Palhetas:: José Luís Rego, João Guimarães, Mário Santos, José Pedro Coelho, Rui Teixeira
Trompetes: Luís Macedo, Ricardo Formoso, Rogério Ribeiro
Trombones: Daniel Dias, Xavier Sousa, Gonçalo Dias
Fender Rhodes: Carlos Azevedo
Guitarra:
Eurico Costa
Contrabaixo:
Demian Cabaud
Bateria: Marcos Cavaleiro
Convidados:
Pianos: João Paulo Esteves da Silva (piano), José Diogo Martins
Transcrição do arranjo: Telmo Marques
Composição: George Russell
(Este texto foi publicado no Jornal de Letras)