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Inquiet Ensemble
Que dia é hoje? – Homenagem a José Mário Branco
CD
2022

 

 

José Mário Branco não era um «homem do Jazz», mas ele utilizou por diversas vezes elementos jazzísticos nas suas composições. Ele possuía um conhecimento musical vastíssimo e uma criatividade imensa que utilizava com acerto mas sobriedade também. Ele distinguiu-se, ainda antes de ser conhecido como autor, como arranjador, mas algumas das suas composições fazem verdadeiramente parte do património musical português. Cruzei-me com ele efemeramente, e tenho-o como uma das pessoas mais íntegras e generosas que conheci.
Diz-se que ninguém é insubstituível, mas isso não é verdade: o Zé Mário Branco foi daquelas pessoas que marcou, em inúmeras dimensões, pela personalidade e pela obra.
A ideia desta homenagem nasceu ainda em 2019, logo depois do seu desaparecimento, e foi gravado no Dia Internacional do Jazz de 2021 mas, devido à pandemia o disco só foi editado em 2022. A ideia surgiu de Miguel Calhaz e da Associação Convívio de Guimarães e teve a produção da Câmara de Guimarães.
Miguel Calhaz, vocalista, contrabaixista e director musical inspirou-se no poema «Inquietação» para o nome do grupo que reuniu, com Ricardo Formoso no trompete, João Mortágua no saxofone, Mauro Ribeiro na guitarra e Alexandre Coelho na bateria.
«Que dia é hoje» não será um disco de Jazz convencional: a opção de Calhaz foi partir sempre das canções de Zé Mário Branco, introduzindo-lhes arranjos jazzísticos, e ocasionalmente algumas variações que as não desvirtuaram, e improvisando sobre elas. O próprio timbre de voz de Calhaz é até próximo do de Zé Mário Branco e apenas ocasionalmente ele se permite modificar ou improvisar; mas as interpretações respeitam sempre as canções.  
São sete canções do Zé Mário: «Travessia do Deserto», «Mariazinha», «Inquietação», «Ser solidário» e outras; os «clássicos» do companheiro Sérgio Godinho e Luís de Camões: «Eh! Companheiro!» e «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades»; e a «Queixa das almas censuradas», o poema de Natália Correia de que José Mário Branco se apropriou.
A música de José Mário Branco verdadeiramente motivou o quinteto, que interpreta as canções de forma inspirada: os sopros de Formoso e Mortágua, mais em exposição, são veementes, sublinhando as palavras ou largando-se nos solos, mas a secção rítmica é sempre atenta e eficiente, e o vocalista, que não procura sequer cantar Jazz, fá-lo com convicção, como o Zé Mário faria.         
Creio que o José Mário Branco gostaria desta homenagem.

Miguel Calhaz (voz, ctb, dir),
Ricardo Formoso (t)
João Mortágua (s)
Mauro Ribeiro (g)
Alexandre Coelho (bat)

(Este texto foi publicado no Jornal de Letras)