Bill Carrothers
Excelsior
CD
Out Note 2011
Bill Carrothers conta que não levava nada consigo quando entrou no estúdio a 17 de Outubro do ano passado, o que não será exacto: não terá possivelmente levado pautas ou temas predefinidos para o estúdio, mas levava consigo as memórias de infância da sua cidade natal, Excelsior.
Ao contrário de outros músicos, Carrothers parte sempre de qualquer coisa, histórias, ideias, objectos, temas, para o acto de criação. Foi assim em Civil War Diaries e The Blues and the Greys, sobre as guerras americanas; Play Day, sobre canções infantis; Armistice 1918, sobre o armistício, Joy Spring, em homenagem a Clifford Brown e enfim este Excelsior. Todas as composições são "improvisações espontâneas" e estão profundamente marcadas por recordações, melancolia, infância, quietude e até alguma angústia.
Tocado em piano solo, Excelsior é um disco belíssimo, feito de 16 curtos trechos, entre um minuto e meio e cinco minutos. Mas não se trata de canções, e apesar do seu carácter profundamente melodioso (bom, realmente algumas melodias surgem por vezes como lampejos) eles são antes exercícios sobre a memória (o derradeiro tema, “Excelsior In a Dream” é esclarecedor); translações para piano sobre memórias evocadas e que de certa forma o ouvinte não pode deixar de partilhar; mesmo se as adaptará para a evocação da sua própria infância.
Excelsior é outro grande momento de um dos mais profícuos e singulares pianistas da actualidade.
Bill Carrothers (p)
(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #14)