Bryan Beninghove
Beninghove's Hangmen
CD
Bryan Beninghove 2011
Rick Parker (trb)
Kellen Harrison (b)
Dane Johnson (g)
Eyal Maoz (g)
Shawn Baltazor (bat)
Bryan Beninghove (s)
Foi notada desde há muito a natureza híbrida do Jazz, que o levou a absorver como uma esponja elementos de outras músicas. Nenhuma outra corrente musical sofreu em tão poucos anos, pouco mais de um século, tão profundas transformações, e nenhuma outra influenciou tanto a música do século XX. Música nascida crioula lhe chamaram, com propriedade, apontando as razões dessa característica esponjóide, que pareceu antecipar o fenómeno da globalização que se processou ao longo do século XX. Em boa verdade, o termo globalização ainda não tinha sido ouvido, mas o Jazz dos anos 60/ 70 era já uma verdadeira música globalizada.
Enfim, será de notar que a relação do Jazz com as outras músicas nunca foi propriamente pacífica, como assinalável foi o facto de muito do mais interessante que o Jazz produziu ter sido feito no fio da navalha. As margens e as fronteiras (sistematicamente redesenhadas) foram assinalados como território fértil privilegiado e o Jazz produziu tanto para as outras músicas como a elas foi buscar.
As relações do Jazz com o rock foram sempre particularmente atribuladas. Música popular e urbana nascida no «ocidente» na segunda metade do século XX, adoptada desde o início pela indústria, o rock nunca produziu músicos do calibre do Jazz, mas ele foi ainda assim capaz de oferecer-lhe com frequência inspiração (em boa verdade também não será exacto que o rock não tenha tido bons músicos, mas também é verdade que inúmeros de entre eles provinham das áreas adjacentes aos blues e muitos outros namoraram descaradamente o Jazz, entre outras músicas). Como música popular urbana, com o melhor e o pior da indústria por detrás, o rock foi capaz muitas vezes de comunicar ao Jazz elementos «étnicos» inspiradores, e tanto na forma e estrutura como no repertório.
O saxofonista Bryan Beninghove tem-se feito notar na downtown nova-iorquina pela irreverência e eclectismo, dispersando a sua actividade entre o Jazz, o jazz-manouche, o rock e o blues, cruzando géneros e formas, numa atitude muito pouco reverente.
Depois de um primeiro disco onde invocava Jimmy Smith na forma, mas tanto tocava Wayne Shorter como fazia dinner music, Beninghove surge em 2011 com uma nova e ambiciosa formação, Beninghoveʼs Hangmen, um sexteto composto por saxofone, trombone, baixo e bateria e duas guitarras, e um novo disco com o mesmo nome.
A adopção de duas guitarras eléctricas começa por demarcar o território onde o grupo se move, mas realmente ele não se fica pelo rock. Beninghoveʼs Hangmen, nome do grupo e do projecto tanto retira motivos nos blues de Muddy Waters como evoca o circo de Nino Rota; tanto nos remete para os Balcãs como se passeia por um quadro de Monet. O bucolismo não permanece no entanto muito tempo, já que o ácido das guitarras faz questão de sempre se intrometer, secundado pelo saxofone desbragado de Beninghove.
Não se trata de um disco de Jazz-rock à maneira do que fez Chick Corea, e é possível até questionar o Jazz deste disco. Como muitos outros, feito nas margens das formas e correntes, ele emerge numa confluência de universos, onde o Jazz (e sem o Jazz ele não existiria) e o rock são os elementos predominantes. Música sem regras, bem humorada e corrosiva.