Clark Terry
The Happy Horns Of Clark Terry / It's What's Happenin'
CD Impulse/ Universal 2011

Clark Terry (t, flis) Clark Terry (varitone trumpet)
Ben Webster (st) Dave Bailey (bat)
Phil Woods (sa, cl) George Duvivier (b)
Roger Kellaway (p) Don Friedman (p)
Milt Hinton (b)  
Walter Perkins (bat)  

Clark Terry nasceu no dia 14 de Dezembro de 1920 em Saint Louis, Missouri e é um dos músicos que, na história do jazz, mais gravou. Desde Ella Fitzgerald a Billie Holliday, passando por Sarah Vaughan, Dinah Washington, Ray Charles, Aretha Franklin ou Dianne Reeves; de Quincy Jones, Oscar Peterson ou Dizzy Gillespie a Ben Webster, Billy Strayhorn, Dexter Gordon, Thelonious Monk, Gerry Mulligan, Coleman Hawkins, Milt Jackson, ou Bob Brookmeyer, etc., etc., Terry acompanhou ou foi acompanhado por quase todos os grandes músicos.
Depois de cumprir o serviço militar na Marinha, tocou nas bandas de Lionel Hampton, George Hudson por dois períodos, Charlie Barnet, Eddie Vinson e de Charlie Ventura antes de estar de 1948 a 1951 com Count Basie e passar depois nove anos na Orquestra de Duke Ellington. Em 1950-60 vem à Europa na banda de Quincy Jones e logo a seguir entra para a cadeia televisiva NBC para fazer parte durante 12 anos da banda residente do Tonight Show onde o seu reconhecimento internacional subiu enormemente por ter sido o primeiro músico de cor a tocar na banda. Durante esse tempo Terry alcançou um grande êxito como cantor com o seu irresistível tema "Mumbles".
Além de variadíssimos grupos, Clark Terry teve ainda duas big bands - a Clark Terry's Big Bad Band e a Clark Terry's Young Titans of Jazz.
Ao longo dos anos a importância e a originalidade de Clark Terry foi-se impondo. Nascido no mesmo ano que Charlie Parker, mais velho que Miles Davis, também natural de Saint Louis, a quem aconselhou, Terry sabe aliar muito bem a tradição com o modernismo, atingindo um verdadeiro classicismo. Grande tecnicista, foi um dos primeiros músicos a tocar rigorosamente o fliscorne e colaborou mesmo na execução de um modelo de trompete, tendo sido o primeiro musico a tocar o novo Selmer Varitone electronic trumpet, precisamente num dos álbuns que são reeditados neste CD que hoje apreciamos (It's What's Happenin').
Este instrumento permite ao músico, entre várias outras coisas, tocar duas oitavas simultaneamente – o tom que está a dedilhar e uma oitava abaixo. Podemos apreciar este som logo na introdução do tema Electric Mumbles e também durante a animada conversa entre Clark e o instrumento.
Clark Terry é também dotado de um humor devastador: os seus vocais resmungados ou entre dentes, são únicos e irresistíveis, conforme podemos apreciar no tema atrás referido ou no Take the "A" Train.
Este CD reedita dois álbuns de Clark Terry – o The Happy Horns Of Clark Terry, de 1965 e o já referido It's What's Happenin' (The Varitone Sound of Clark Terry), de 1967.
No primeiro, Terry, em trompete e fliscorne, é acompanhado por Ben Webster no saxofone tenor, Phill Woods no saxofone alto e clarinete, Roger Kellaway no piano, Milt Hinton no contrabaixo e Walter Perkins na bateria. Clark Terry tinha na altura 44 anos, Webster era dez anos mais velho, Woods dez anos mais novo. Na secção rítmica Hinton tinha quase a idade de Webster, Kellaway tinha 25 anos e Perkins 33.
Torna-se extremamente interessante como um grupo com idades tão diferentes e, portanto, de momentos diferentes da evolução do jazz (Kellaway e Perkins tinham começado a tocar no circuito jazzístico em 1959), consegue alcançar na sessão um notável estado de espírito igual, neste caso no "ambiente musical" de Duke Ellington (dos oito temas da sessão, três são de Duke e um do seu saxofonista Johnny Hodges).
A música flui extraordinariamente alegre, feliz (como o próprio título do disco indica – um óptimo título, aliás) e, sobretudo, altamente swingante. Todos os temas são notáveis, começando pela brilhante execução do Rockin' in Rhythm. Enfim, cinco estrelas!
No segundo álbum Clark Terry apenas toca o novo trompete Varitone e é acompanhado por uma secção rítmica de peso, constituída por Don Friedman no piano, George Duvivier no contrabaixo e Dave Bailey na bateria.
A sessão começa com o bem humorado e já referido Electric Mumbles, seguido da bela balada Secret Love onde sobressai um grande solo de Don Friedman. No terceiro tema, uma composição de Terry inspirada na zona onde se situava a fábrica da Selmer, temos um ambiente mais bluesy, com Friedman a mostrar novamente o rigor que lhe era característico no seu solo e o contrabaixista que raramente solava a mostrar a força do seu som e das suas ideias. Além do já citado Take the "A" Train, temos ainda um tema (Pee Wee Time) que Terry compôs dedicado ao crítico de Chicago Tony Perry, que contém um saboroso dueto entre Terry e Duvivier e breaks interessantes de Bailey. A sessão acaba com a Grand Canion Suite, composta por Ferde Grofé e que Terry gostava muito de tocar por achar que era um tema maravilhoso para improvisar. Trata-se de uma bela versão, a que aqui se apresenta.
Concluindo: Esta segunda sessão parece-me ligeiramente menos brilhante que a primeira – um grande hino ao swing – talvez porque Clark está mais "preso" ao novo instrumento.
Em qualquer caso, uma reedição notável.

José Ribeiro Pinto