Craig Taborn Trio
Chants
CD ECM 2013

Craig Taborn (p)
Thomas Morgan (ctb)
Gerald Cleaver (bat)

 

É curioso notar que, apesar de ter gravado o primeiro disco em 1994 para a DIW, com 24 anos de idade, este é apenas o quinto registo em nome próprio. Pelo meio, contando com os dois discos de James Carter onde já figurava, Taborn gravou mais de seis dezenas de discos com nomes tão diferentes quanto Tim Berne, David Binney, Marty Ehrlich, Bill Laswell, Mat Maneri, Roscoe Mitchell, Chris Potter, Louis Sclavis, em formatos que vão do mais mainstream à vanguarda. A sua lista de colaborações é imensa.
Em alguns destes diferentes contextos Taborn passou por Portugal, a começar precisamente pelo grupo de James Carter, em Cascais, no meio dos anos 90, e por diversas vezes integrando outros grupos. Como líder, no entanto, eu creio que ele terá tocado apenas uma vez, no Jazz em Agosto de 2006(*). Enfim, toda a gente tinha de há muito observado a versatilidade de Craig Taborn, mas por detrás do virtuosismo e flexibilidade do seu piano era possível divisar-se tanto de irreverência como de desassossego.
A espera foi longa, mas ditosa: a consagração viria na gravação para a ECM no grand piano do RSI Studio de Lugano, que deu origem a um dos discos mais aclamados do ano de 2011, Avenging Angel.
Na recensão que fiz sobre Avenging Angel, antecipava que Craig Taborn estava prestes a ser reconhecido como uma referência do piano Jazz contemporâneo. Se houvesse dúvidas, Chants aqui está para o atestar. Com Chants, Taborn não apenas confirma o oceano de referências e eclectismo que vinha revelando, como abre portas para o estabelecimento de um novo paradigma da fórmula piano trio. A novidade não se funda tanto no tipo de relação umbílica que se pode encontrar de igual forma, por exemplo, na Bandwagon de Jason Moran ou no trio de Vijay Iyer, mas na provocação contínua que os membros do trio estabelecem entre si e na cosmografia referencial do grupo.
Combinação/ síntese (creio que) ainda não inteiramente explorada de um vasto universo, ela revela-se na convulsão interna que os peculiares ostinatos de Speak The Name ou Beat The Ground provocam numa combinação inaudita das repetições de Steve Reich, desafiadas pelo címbalos e o contrabaixo (Morgan e Cleaver no seu melhor) improvisando em contraponto; enquanto em Chants é o silêncio que se intromete e All True Night / Future Perfect dir-se-ia um nocturno interpretado por um trio de piano-jazz clássico.
Ironicamente em Chants, Taborn mantém-se sempre dentro dos limites da tonalidade, evitando de igual forma algum ímpeto pop electrónico, contrariando o caminho que discos antigos sugeriam. Cadinho de referências em convulsão nem sempre explícitas, adivinha-se a herança de Andrew Hill ou Paul Bley nas intrincadas harmonias ou no peso do silêncio, a par de concepções exteriores ao Jazz, entre Ligetti (Gyorgy) e Steve Reich, concorrendo com formas melódicas (prenunciadas já em
Avenging Angel) e que parecem remeter tanto para Dave Brubeck (!) como Chopin.
Chants, um dos grandes discos do ano.

(*) Craig Taborn tocou em concerto a solo na Culturgest a 26 de Setembro de 2012 (como pode ser confirmado, hum.., na Agenda Jazz).
Correcção de Miguel Lobo Antunes. As minhas desculpas e o meu obrigado ao MLA.