Darcy
James Argue’s Secret Society
Infernal Machines
CD New Amsterdam Records, 2009
Darcy James
Argue (dir), Erica vonKleist (f, fa, ss, sa), Rob Wilkerson (f, cl, ss, sa), Sam Sadigursky (cl, ss, st), Mark Small (cl, clb, st), Josh Sinton (cl, clb, sb), Seneca Black (t), Ingrid Jensen (t), Laurie Frink (t), Nadje Noordhuis (t), |
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É
óbvia a ascendência de Gil Evans e Bob Brookmeyer no canadiano Darcy
James Argue (e ele de facto estudou com Brookmeyer), mas não se poderá dizer
que a Secret Society seja uma réplica das grandes formações
eruditas dos anos 60-70: o seu espectro referencial é bastante mais alargado,
entre o rock, o Jazz e a clássica, confundidos diluídos num caldeirão
que dissolve formas e tempo.
A excitante Darcy James Argue’s Secret Society é composta por
dezoito músicos, cinco palhetas (saxofones, clarinetes e flautas), cinco
trompetes, quatro trombones, guitarra, piano e baixo, acústicos e eléctricos,
e bateria/ percussão. O único nome do domínio público
será a exímia Ingrid Jensen, que tem tocado em Portugal por diversas
vezes integrando várias formações, incluindo o seu próprio
grupo e a orquestra de Maria Schneider. Todos os restantes são ilustres
jovens de variadas proveniências, eficientes na execução
da exigente escrita de Darcy James Argue; e vale a pena referir que os convocados
a solar o fazem de forma superior.
Surgida em 2005, Darcy James Argue esperou quatro anos até entrar em
estúdio para gravar Infernal Machines, o seu primeiro
disco, e os resultados estão aqui: uma música vigorosa e inspirada
que tanto se aproxima (também na estrutura) da opulência das sinfonias
clássicas
do início do século XIX, como parece adoptar a estrutura repetitiva
de Bolero, como se aproxima por vezes também das formas suite
ellingtonianas dos anos 60, onde composição e orquestração
ganham unidade, como incorpora a energia, a batida e a instrumentação
do rock mais ácido (a referência ao género de ficção
científica-especulativa steampunk não surge por acaso,
mas poderíamos
acrescentar o rock sinfónico de Robert Fripp); como é capaz de
swingar com o balanço de uma genuína orquestra de Jazz.
É
notável com a Darcy James Argue’s Secret Society ganhou com apenas
um disco um lugar cimeiro entre as orquestras contemporâneas, algures
entre o pastoral de Maria Schneider e o erudito de John Hollenbeck, mas talvez
para além disso. Aguarda-se ansiosamente a inclusão da Secret
Society no circuito de concertos e festivais nacionais, mais dados ao ramerrão
do mainstream ou às vanguardas requentadas dos anos 70, e onde escasseiam
as novidades.