Desidério Lázaro
Subtractive Colors
CD
Sintoma Records 2015
Não há outra forma de o dizer: este é o disco que tardava na discografia de Desidério Lázaro. O que significa que de certa forma todos os discos anteriores foram prematuros, mas que como redenção este é desde já um dos discos que marcará o ano de 2015.
A formação, atípica - três sopros, dois baixos e bateria -, antecipa a ambição que o percorre, e o trabalho visível da escrita revela o engenho que até agora apenas suspeitávamos. É um trabalho sólido nos detalhes, na combinação da composição e da improvisação, na sensibilidade colocada na escolha dos músicos e dos instrumentos, no rigor (que é o oposto da exposição do exibicionismo instrumental espúrio muito comum nos jovens músicos) que acompanha a criatividade esfusiante que coloca nos 55 minutos de música de que Subtractive Colors é composto.
As composições fogem ao clássico tema-solo-tema e os arranjos são sempre pertinentes, tomando partido da formação incaracterística, o que se revela em particular numa utilização assertiva dos dois contrabaixos/ baixos, no jogo dos sopros, tomando partido também da larga paleta tímbrica das palhetas - entre o saxofone alto, o tenor, o soprano, a flauta e os clarinetes soprano e baixo –, dos uníssonos aos contrapontos.
Vale a pena referir que todos os músicos sem excepção se revelam/ confirmam num ou noutro momento como grandes músicos, o rigoroso Mário Franco, o expressivo João Hasselberg, a exuberância dos clarinetes de Paulo Gaspar, a energia e juventude de João Capinha, e lá atrás, o sólido Luís Candeias, capaz de apenas flutuar sobre a música discreto como uma nuvem ou explodir como um vulcão. E enfim, o Desidério Lázaro que se afirma, não já apenas como um exímio saxofonista, mas também como um genuíno compositor.
Subtractive Colors é um disco de Jazz, sólido disco de moderno Jazz, revelador não apenas do conhecimento da tradição instrumental (que Desidério Lázaro assume de forma descomplexada), mas também de um conhecimento musical que extravasa o Jazz, com apontamentos que diríamos de música de câmara, de música antiga, ou da pop. E, rejubilemos!, Desidério Lázaro não se perde nas elucubrações melancólicas que são a dominante de algum Jazz nacional: é um disco enérgico, mesmo nos tempos lentos, contundente por vezes, que impõe a unidade na diversidade de meios e formas.
Entre a melodia medieval de «The Moment Just Before», o divertimento de «Lost in the Woods» e o despique de saxofones - Lázaro e Capinha num confronto épico – de «Absence of White», Subtractive Colors impõe-se como um dos melhores discos de Jazz nacional de há muito tempo. O último tema, que curiosamente dá o nome ao álbum, um tema pop bem construído, alegre e enérgico, pertence naturalmente a outro disco.
Subtractive Colors, a ouvir com urgência!
Desidério Lázaro (st, ss)
João Capinha (sa, st, f)
Paulo Gaspar (clb, cls)
Mário Franco (ctb)
João Hasselberg (b-el, ctb)
Luís Candeias (bat)
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Carolina Varela (voz, «Subtractive Colors»)
João Neves (voz, «Subtractive Colors»)