Enrico Rava
New York Days
CD ECM 2009
Enrico Rava (t)
Paul Motian (bat)
Stefano Bollani (p)
Larry Grenadier (ctb)
Mark Turner (st)
Supostamente o Jazz europeu é mais cerebral e o Jazz
americano mais enérgico. Ora os dois discos de Enrico Rava com Paul
Motian, Tati de 2005 e este New York Days parecem sugerir exactamente o contrário!
O trompetista de há muito que queria voltar a gravar com Paul Motian,
mas por razões exteriores à sua vontade a oportunidade não
tinha surgido. Com o baterista debilitado fisicamente tornou-se necessário
a Rava deslocar-se ele aos Estados Unidos, já que Paul Motian se recusava
a voar.
As agendas de ambos finalmente acertaram e faltava então apenas encontrar
os restantes músicos. Os escolhidos foram o saxofonista Mark Turner
e o requisitado Larry Grenadier no contrabaixo, para além do baterista,
dele mesmo e do pianista italiano Stefano Bollani com quem gravou em 2007 o
belíssimo The Third Man.
New York Days é um exemplo de contenção. Os três
músicos americanos surgem como modelares na música de Rava, descartando
qualquer pequeno laivo de exibicionismo, e configurando este como um dos grupos
mais perfeitos do trompetista. Menos angulosa que em The Words And The Days,
talvez devido à presença neste anterior do impulsivo trombone
de Gianluca Petrella, a música da aventura nova-iorquina surge verdadeiramente
outonal.
Se a bateria de Paul Motian sempre foi prezada pela sensibilidade, o saxofone
cerebral de Mark Turner quase se diria minimalista em New York Days. Ele é o
sequente natural de Rava, de forma que os dois instrumentos se diriam tocados
pelo mesmo músico. O protagonismo é realmente quase sempre reservado
aos sopros, enquanto o discreto Grenadier, Bolani e os pratos de Paul Motian
desenham o patchwork do profundo lirismo que percorre todo o disco.
Talvez que o que marca o carácter mais novaiorquino do CD seja o alinhamento
bastante mais mainstream que anteriores discos, com a excepção
para Certi Angoli Segreti e Luna Urbana, de inspiração feliniana,
e apesar de todos os temas, com excepção para duas improvisações
colectivas, pertenceram a Rava. Outsider é o tema mais abstracto, num
disco onde tudo é profundamente contemplativo e sugestivo.