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Ensemble
Super Moderne
Ensemble Super Moderne
CD
Carimbo Porta Jazz 2014
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Quem tenha estado atento nos últimos tempos ao que se passa no seio do Jazz em Portugal, poderia adivinhar com segurança que este disco iria surgir. O disco do Ensemble Super Moderne consagra uma tendência que se vinha manifestando desde há tempos, e cristaliza a entrada na modernidade do Jazz nacional.
Com as devidas distâncias, a música do Ensemble Super Moderne enquadra-se no que também vêm fazendo, por exemplo, a Lume Big Band, o Coreto Porta-Jazz, Pedro Moreira, João Guimarães e naturalmente a Orquestra Jazz de Matosinhos; mas eu creio que este é um marco significante na maioridade do Jazz nacional. Tenho utilizado amiúde a palavra maioridade a propósito de vários músicos e projectos, e este não é exemplo único, nem o único caminho, da sua maioridade e contemporaneidade. Alguns músicos exploram o filão da pop music, outros pesquisam nos folclores, outros recuperam os clássicos. A maioridade estará aqui, na procura do caminho próprio, no trabalho árduo, na pesquisa, no alargamento dos horizontes, na inspiração nas outras músicas e artes e na sociedade.
O que faz a diferença no disco de estreia do Ensemble é, por um lado o primado da composição que lhe assiste, mas também as singulares combinações tímbricas, a excentricidade rítmica, as síncopes, os contrapontos intempestivos, o engenho que coloca nas imbrincadas fusões de escrita e improvisação, o nível instrumental elevadíssimo e o lato conhecimento musical e, enfim, o humor que começa no próprio nome do agrupamento (a invocação de uma modernidade afrancesada que passará como nota chic..) e se prolonga na história que Michael Lauren conta em «The Dreary Life of Pugnacious Cacti» (do funcionário que não foi promovido por falta de verbas) ou nas subtis piscadelas de olho a formas musicais alheias. E diria que o humor que a música do octeto toca rompe significativamente com a melancolia endémica que parece contagiar toda a nossa música (a tristeza, o fado que nos persegue, coitadinhos, pequeninos mas honrados).
É um Jazz criativo, generoso, excitante, sem preconceitos consigo mesmo, mas que não se aceita como curiosidade étnica, que não pactua com o «’bora todos lá prá frente e depois se vê», e que se arrisca para lá das suas margens.
Temas de José Pedro Coelho, Carlos Azevedo, Paulo Perfeito e Rui Teixeira.
Dir-se-á que o Ensemble Super Moderne se afasta do Jazz na apropriação de elementos da música contemporânea ou na valorização da escrita em prejuízo da improvisação; o que será verdade, pois que ele se afasta do Jazz enquanto folclore, mas ele avança com segurança na esteira do que a vanguarda do Jazz vem fazendo por esse mundo fora.
Inequivocamente um dos grandes discos de 2014.
José Pedro Coelho
(st, ss)
José Soares (sa)
Rui Teixeira (sb , clb)
Paulo Perfeito (trb)
Eurico Costa (g-el)
Carlos Azevedo (p, sint)
Miguel Ângelo (ctb, b-el)
Mário Costa (bat)