Frank Kimbrough
Rumors
CD Palmetto 2010
Será sempre incompreensível para mim como alguns músicos excepcionais nunca conseguem ganhar as graças do público. A indústria (a grande e a pequena) terá o seu quinhão da culpa, já que tende a promover determinados produtos em detrimento de outros, ora os produtos de mais fácil consumo (e note-se que nem sempre significa, ainda assim, de menor qualidade), ora os produtos da moda ou do gosto particular de um ou outro produtor; mas a própria personalidade dos músicos, mais intimistas ou apenas mais avessos a jogos de sedução, tende a remetê-los para lugares marginais nas História, mesmo se a sua arte lhes reservaria à partida outros lugares. Enfim, creio que um dos papéis do crítico de Jazz seja também contrariar esta inadequada invisibilidade.
Frank Kimbrough é um destes músicos. Figura maior do piano contemporâneo, compositor e líder, é uma figura reconhecida nos meios do Jazz, mas praticamente desconhecida do grande público. Apesar de ser desde há muitos anos o pianista da Maria Schneider Orchestra, ser um dos fundadores do Jazz Composers Collective, co-leader no Herbie Nichols Project ou possuir uma razoável discografia em seu nome (e tocado em Portugal por diversas vezes sob as mais diversas formações).
O seu mais recente disco, Rumors, gravado em 2009, em trio com Masa Kamaguchi e Jeff Hirshfield, surgiu do desafio do fotógrafo de Jazz e produtor Jimmy Katz, e foi gravado em apenas algumas horas numa sessão de estúdio. O trio tinha tocado havia pouco tempo antes e Kimbrough considerou que havia material suficientemente bom para merecer ser registado.
Kamaguchi e Hirshfield são sempre eficazes e inspirados, mesmo se sem dúvida alguma o pianista é hipotenusa do triangulo. Rumors revela claramente as influências eruditas de Kimbrough, numa linha que se demarca claramente do bop e dos pianistas percussivos, mesmo se “TMI” e “Over”, dois dos temas, nos parecem claramente herdeiros das harmonias intrincadas de Thelonious Monk (aliás o mais erudito dos boppers). As referências (descendências?) não se ficarão por aqui, entre a interpretação billevansiana do tema do compositor catalão Federico Mompou, “Six”, com que abre o CD, o “For Andrew” com que termina, ou o impressivo ornettiano “Over”, e de novo Bill Evans no belíssimo “Forsythia”, todos eles da pena de Kimbrough.
Mas não se pense que Frank Kimbrough é um pianista incaracterístico; pelo contrário, o que Rumors revela é uma cultura pianística completa e uma personalidade fortíssima marcada por algumas influências que o pianista digeriu e usa magistralmente, e os já referidos “Six”, “Hope” ou “Forsythia” ou o monumental “Rumors” evidenciam. Pianista completo, elegante e rigoroso, não há lugar em Rumors para rodriguinhos ou excessos e qualquer espécie.
Frank Kimbrough (p)
Masa Kamaguchi (ctb)
Jeff Hirshfield (bat)
(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #8)