Hank Mobley
Newark 1953
CD Uptown 2012


Walter Davis, Jr. (p),
Bennie Green (trb)
Hank Mobley (st)
Charlie Persip (bat)
Jimmy Schenck (b)

O saxofonista tenor e compositor norte-americano Hank Mobley nasceu na Geórgia em 1930, mas cresceu perto de Newark. Autodidata, aos 19 anos já toca na orquestra de R&B do pianista Paul Gaytan. Aos 21 vem a Nova Iorque e Max Roach convida-o para tocar na sua banda onde fica até 1953. Toca brevemente com Duke Ellington e na Orquestra de Tad Dameron. Em 1954 toca com Dizzy Gillespie e acaba o ano no grupo de Horace Silver e Art Blakey, tornando-se o primeiro saxofonista dos "Jazz Messengers" e participando numa das primeiras sessões de hard bop. Toca depois no grupo de Silver e é contratado pela editora Blue Note, gravando mais de 20 álbuns entre 1955 e 1970. Entretanto tocou alguns dias com Thelonious Monk, participou algum tempo nas noites de segunda-feira do Birdland, esteve afastado um ano devido a problemas com drogas. Em 1960 toca novamente com Balkey para quem compõe vários temas e é contratado por um ano por Miles Davis que procurava um substituto para John Coltrane. Volta a estar fora da cena jazz até 1965 devido a drogas, até que neste ano reaparece como free-lance tocando e gravando com Lee Morgan, Kenny Dorham e Donald Byrd, companheiros dos seus primeiros tempos. Em 68-70 está na Europa e quando volta aos Estados Unidos co-dirige um quinteto com Cedar Walton e compõe vários temas, entre outros para a big band da AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians). Instala-se em Filadélfia, onde duas operações aos pulmões o obrigam a ficar inactivo. Em 1978 ainda faz algumas reaparições nesta última cidade, indo progressivamente deixando de tocar, morrendo em 1986.
Mobley foi descrito por Leonard Feather como o "campeão de pesos médios do saxofone tenor" ("middleweight champion of the tenor saxophone"), uma metáfora usada para descrever o seu tom que não era agressivo como o de John Coltrane nem aveludado como o de Stan Getz. Adicionalmente, o seu estilo tornou-se relaxado, subtil e melódico, especialmente em contraste com músicos como Sonny Rollins e Coltrane. A crítica Stacia Proefrock defende que ele é um dos músicos mais subvalorizados da época Bop. Benny Golson diz: "Hank Mobley é o saxofonista mais lírico que alguma vez ouvi. Ele canta para dentro do instrumento".
Este duplo CD - NEWARK 1953 – nunca antes publicado, reúne dois sets realizados na noite de 28 de Setembro no clube Picadilly onde o quarteto de Mobley, com Walter Davis, Jr no Piano, Jimmy Schenck no contrabaixo e Charlie Persip na bateria, era a banda residente. Naquela semana o trombonista Bennie Green era o músico convidado.
Note-se que o grupo teve a oportunidade de acompanhar vários grandes músicos como Miles Davis, Dexter Gordon, Billie Holiday, Bud Powell e Lester Young, o que contribuiu muito para o seu rápido desenvolvimento.
O reportório tocado, e que aqui é editado, compõe-se de alguns standards como "Embraceable You" ou "All The Things You Are", de alguns temas bop como o "Ow" de Gillespie ou o "Keen and Peachy" de Ralph Burns e Shorty Rogers, não havendo nenhum tema de Mobley e apenas um de Green.
Apesar de ser 7 anos mais novo que Green e estar praticamente no início da sua carreira, com apenas 23 anos, Hank Mobley mostra-se muito à vontade e seguro, completamente à altura do trombonista, com quem constrói diálogos muito consistentes e bonitos, reinventando cada tema, mesmo aqueles mais familiares.
Oiça-se "Ow" e note-se os solos brilhantes de Mobley e de Green, ou o "All The Things You Are" ou ainda o "'S Wonderful" e confirme-se o que atrás se disse.
Apenas uma nota menos positiva para a qualidade do som, apesar do excelente trabalho de recuperação realizado. Trata-se claramente duma gravação clássica na altura, em que o ruído de fundo da sala, embora minimizado, está sempre presente.
Enfim, esta edição constitui uma excelente oportunidade para apreciarmos o estilo nascente, mas já claro, deste mestre que foi Hank Mobley.

José Ribeiro Pinto