Henri Texier Strada Sextet
(V)ivre
CD Label Bleu 2004

Henri Texier (ctb)
François Corneloup (sb, ss)
Sébastien Texier (cl, cla, sa)
Guéorgui Kornazov (trb)
Manu Codjia (g),
Christophe Marguet (bat)

Já referi noutro lado que Henri Texier é um dos mais sólidos músicos de Jazz europeus e que o Strada Sextet é um dos seus mais interessantes projectos; uma formação original – sem piano - composta de dois saxofones, trombone, guitarra, bateria e contrabaixo, de grande dinâmica, volúpia e modernidade.
«(V)ivre» de 2005 é um dos discos de Texier mais politizados, o que se sente logo desde o primeiro - longo de 13’ – tema, Old Dehli. Em Old Dehli cruzam-se cânticos revolucionários com danças dos Balcãs e hipnóticas harmonias árabes sob o pano de fundo de devastadores ritmos entrecortados pelos saxofones de Texier e Corneloup e a guitarra de Manu «McLaughlin Mahavishnu» Codjia. A revolta declara-se explicitamente mais à frente em «Blues for L. Peltier», no desconcertante (psicadélico) «Silent Revolt», em «Dance Revolt» onde regressam as harmonias de perfume oriental, ou em «Decent Revolt» e «Black March Revolt», com inspiração nas marching bands de New Orleans.
Música de grande energia de influências dispersas; herdeira do Jazz politizado de Charlie Mingus, a música de Henri Texier destaca-se de há muito no panorama europeu pela elevado grau de exigência que coloca na execução, mas também na construção dos temas e dos arranjos. Apesar das afinidades evidentes com a «estética do grito» do free jazz, a música de Henri Texier constrói-se sobre composições genuínas, com andamentos, movimento e escrita, e que neste disco se revelam de maior relevância dada a forte componente imagética. A referida ausência do piano, que não é substituído pela guitarra hendrixiana de Manu Codjia é outra das características deste projecto; impõe-lhe uma energia inusitada e uma modernidade que se revela também nas peças mais abstractas como «Too late to be passive», «Gandhi» ou «Silent Revolt».
O Strada apresentou-se em Portugal em 2006 no Festival de Jazz de Portalegre e em 2007 no Jazz no Parque em Serralves. O repertório do sexteto no Portalegre JazzFest (que mereceu nota máxima pelo colectivo dos críticos de Jazz nacionais que o votaram como o melhor de 2006) foi basicamente o deste disco, tendo estas orelhas assinalado a elevada prestação dos músicos, com destaque para a revelação do saxofone do filho do contrabaixista, Sebastien Texier, bastante próximo de Louis Sclavis, com quem aliás Henri Texier toca amiúde. Mas todos os músicos mereceram nota elevada.
Devo confessar que – apesar de lhe atribuir nota máxima! – (v)ivre não é ainda assim o meu Henri Texier preferido. Ele é «apenas» um grande disco!