Jason Moran
Ten
CD Blue Note 2010
Ten refere-se aos dez anos do Bandwagon, o trio de Jason Moran, mas é também o seu primeiro disco desde há quatro anos. Desde então o pianista tem-se multiplicado em projectos e colaborações, entre os quais um monumental «In My Mind: Monk at Town Hall, 1959», que tocou na Casa da Música, o Overtone Quartet com Dave Holland ou o fantástico quarteto de Charles Lloyd, e os outros membros da Bandwagon, o baterista Nasheet Waits e o baixista Tarus Mateen, são igualmente alguns dos mais requisitados músicos do momento. O regresso do supergrupo era há muito aguardado e Ten não desiludiu.
Jason Moran é um verdadeiro monstro do piano, mas o que mais sobressai em Ten é a diversidade de referências, a denotar uma cultura vasta e uma acurada atenção ao mundo, mas também um verdadeiro génio no tratamento desses materiais diversos, sem quaisquer tipos de excessos ou exibicionismos, mesmo quando é impelido para ritmos mais frenéticos, como em “Gangsterism Over 10 Years”.
Ten começa com “Blue Blocks”, um blues peculiar, ou melhor, pedaços (blocos) de blues dispostos numa estrutura diferente que vai ela mesma evoluindo; “RFK in the Land of Apartheid” é uma banda sonora para um documentário político, a que se segue um tema retirado do universo mais ácido de Jimi Hendrix, duas «versões» absolutamente distintas do “Study No. 6” do original compositor norte-americano Conlon Nancarrow que se tornou famoso pelos seus trabalhos para pianola, “Pas De Deux-Lines Ballet”, uma peça escrita por Moran para ballet, um arranjo muito curioso para “Big Stuff”, original da instituição Leonard Bernstein e ainda outra, “Play to Live”, escrito em colaboração com o mentor de Moran, Andrew Hill, um devaneio de inspiração algo cabaret, “To Bob Batel of Paris” de outro dos seus mestres, Jaki Byard (pianista de Charlie Mingus, para felicidade de inúmeros jovens devotado ao ensino nos últimos anos da vida), “Old Babies” uma deliciosa peça dedicada aos filhos do pianista (que também participam), “The Subtle One” é uma balada de Tarus Mateen e a interpretação de “Crepuscule With Nellie” é verdadeiramente merecedora do génio do autor. Monk não faria melhor.
Jason Moran é inquestionavelmente o líder do grupo, mas este é um trio absolutamente perfeito e nenhum dos seus membros é substituível sob pena de a música ser outra coisa. Ten é um dos grandes discos do ano, e se algo resulta da sua audição é a forma impressionante como Jason Moran expandiu o Universo, bem para além do que se julgava possível. E isto a tocar Jazz!
Jason Moran (p)
Tarus Mateen (ctb)
Nasheet Waits (bat)
(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #8)