João Paulo (p)
Dos quinze temas que compõem White Works, apenas três
curtas improvisações não pertencem a Carlos Bica. João
Paulo não questiona as composições, quase sempre bastante
simples, e antes parece deambular em torno delas, lentamente, por vezes parecendo
hesitar nas notas. Este «minimalismo» é de certa forma surpreendente
em João Paulo, pois ele é com mais frequência um músico
intenso, de um lirismo febril, por vezes mesmo excessivo.
White Works é um disco melancólico, mas ainda assim muito belo.
Melancolia construída nessa lentidão mas também no peso
do teclado, por sobre alguns dos temas mais sombrios de Bica. Do universo musical
do seu grande amigo Carlos Bica curiosamente João Paulo escolheu quase
apenas temas densos, revelando uma faceta de Bica que não transparece
nos seus discos. É verdade que a quase totalidade dos temas estão
já presentes noutros discos de Bica, mas o que sempre nele observei
e que creio ressalta na sua obra é exactamente a atracção
pelas melodias pop (as pops, os folclores…) presentes em Believer ou
Heranças.
Felicidade e humor são mais fáceis de encontrar nos discos de
Bica que tristeza e melancolia, diria eu até hoje, que talvez que o
seu amigo de longa data o conheça melhor. De resto, como disse, White
Works é um disco de rara beleza, ímpar na simplicidade como apenas
grandes músicos como João Paulo podem fazer.
(Vale a pena ler a entrevista que deu para José Duarte, publicado
em JazzPortugal )