João Paulo
White Works

(plays Carlos Bica)
CD Universal 2009

João Paulo (p)

 

Dos quinze temas que compõem White Works, apenas três curtas improvisações não pertencem a Carlos Bica. João Paulo não questiona as composições, quase sempre bastante simples, e antes parece deambular em torno delas, lentamente, por vezes parecendo hesitar nas notas. Este «minimalismo» é de certa forma surpreendente em João Paulo, pois ele é com mais frequência um músico intenso, de um lirismo febril, por vezes mesmo excessivo.
White Works é um disco melancólico, mas ainda assim muito belo. Melancolia construída nessa lentidão mas também no peso do teclado, por sobre alguns dos temas mais sombrios de Bica. Do universo musical do seu grande amigo Carlos Bica curiosamente João Paulo escolheu quase apenas temas densos, revelando uma faceta de Bica que não transparece nos seus discos. É verdade que a quase totalidade dos temas estão já presentes noutros discos de Bica, mas o que sempre nele observei e que creio ressalta na sua obra é exactamente a atracção pelas melodias pop (as pops, os folclores…) presentes em Believer ou Heranças. Felicidade e humor são mais fáceis de encontrar nos discos de Bica que tristeza e melancolia, diria eu até hoje, que talvez que o seu amigo de longa data o conheça melhor. De resto, como disse, White Works é um disco de rara beleza, ímpar na simplicidade como apenas grandes músicos como João Paulo podem fazer.
(Vale a pena ler a entrevista que deu para José Duarte, publicado em JazzPortugal
)