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João Hasselberg
Truth Has To Be Given In Riddles
CD 2014

 

 

João Hasselberg é um caso singular entre os jovens músicos de Jazz nacionais. Em Whatever It Is You're Seeking, Won't Come In The Form You're Expecting, o seu primeiro disco, Hasselberg fez-se notar pelo «desalinhamento» com as formas mainstream, invocando referências musicais, e literárias e cinematográficas, ambiciosas, que marcavam a diferença. Contrariando a norma, tratava cada tema como uma unidade, com instrumentações e arranjos diferentes, aqui e ali aproximando-se da pop ou largando-se (ao vivo) em interessantes explorações onde composição e a improvisação ganhavam propriedade, sem se submeter aos ditames do ocasional virtuosismo dos convidados.

O segundo disco, Truth Has To Be Given In Riddles, editado em 2014, prossegue esta mesma linha, com idênticas virtudes e falhas. E se este segundo disco se me afigura algo prematuro, o seu maior defeito, talvez até acrescido, é, contraditoriamente, a voz de Joana Espadinha. Contraditoriamente porque muita da personalidade, atipicidade, da música de João Hasselberg, se baseia na construção de melodias pop, mas a bonita voz de Joana Espadinha é sempre isso mesmo, bonita, e excessivamente perfeita. E se no primeiro disco, as únicas intervenções das cantoras estavam perfeitamente localizadas em dois temas «para a rádio», neste segundo disco Espadinha toma uma participação mais activa em diversos temas com algumas vocalizações roçando a vulgaridade. Joana Espadinha nunca arrisca, parece ser incapaz de errar, de dar uma nota em falso, o que pode ser bom noutras formas musicais, mas é desinteressante no Jazz. Admito que a convocação da voz de Joana Espadinha tenha como objectivo atingir outros públicos, mas a meu ver ela empobrece a música de João Hasselberg e é sempre irrelevante.

Posto isto, João Hasselberg revela-se um bom compositor, com temas de grande frescura e criatividade, e os músicos correspondem em intensidade ao solicitado, revelando aí também outra das características – de líder. Diogo Duque, Ricardo Toscano, Luis Figueiredo e João Firmino, Bruno Pedroso e ele mesmo, estão sempre excelentes, nunca excessivos, com algum relevo para o trompetista que se constrói como um dramático e expressivo Mr. Hyde do Jekyll-Hasselberg.

Hasselberg é um músico com ideias. Na simplicidade aparente da sua música ele pensa o Jazz como poucos e a cultura alargada que denota deverá rapidamente autorizá-lo a ir mais longe.

Joana Espadinha (voz),
Diogo Duque (t) -
Ricardo Toscano (s),
Luis Figueiredo (p, harm)
João Firmino (g), -
Bruno Pedroso (bat)
João Hasselberg (ctb, bj)