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João Mortágua
Janela
CD PortaJazz 2014

 

 

Com uma formação musical sólida, que inclui estudos de piano e saxofone, passagem pelo Conservatório de Música de Aveiro, a escola de jazz do Hot Clube de Portugal e uma licenciatura pela ESMAE (curiosamente fiz parte do júri da Festa do Jazz de 2007, ano em que Mortágua integrou o combo vencedor da ESMAE, com Susana Santos Silva, Lucía Martínez, Miguel Moreira, Joaquim Rodrigues, Zé Carlos Barbosa e José Marrucho!), João Mortágua faz parte dessa nova geração de músicos portugueses que se começa a afirmar. Janela de 2014 é a confirmação da sua maturidade, que se adivinhava nas prestações avulsas, no Jazz ou na pop.

Creio que a maior falha de Janela residirá na (o mesmo de outros jovens músicos) parca produção e ter surgido antes de tempo; alguns erros ingénuos poderiam ser corrigidos se muitos músicos dessem os trabalhos a ouvir a ouvidos experientes e fizessem cair sobre eles um pouco do pó do tempo.
Um dos erros do disco é a vocalização crua de Mortágua nalguns dos temas, assumida, mas a meu ver desacertada.
Um outro será a colagem, presumo que involuntária, ao rock progressivo dos Gentle Giant em alguns temas. Não sei se João Mortágua alguma vez ouviu os Gentle Giant, mas quando no ano passado ouvi pela primeira vez Janela, a memória da peculiar vocalização sincopada do icónico Three Friends (1972) assaltou-me de imediato - e não só a mim. As diferenças são no entanto evidentes, a partir mesmo do pop barroco que os irmãos Shulman perseguiam, e da perfeição vocal que Mortágua ignora, em detrimento da mensagem poética – algo naif, diríamos - que pretende comunicar.
Os poemas são da lavra de Mortágua – simpáticos e bem intencionados - com excepção do poema lido em «Anima», de Alberto Caeiro, e que é afinal a inspiração para o disco.

Janela é um disco de Jazz, claramente, mesmo se João Mortágua não recusa a pop. Haverá mesmo algo de pop e funky em alguns temas, e também da melancolia lusófona. Mas o disco é percorrido por uma pulsão e uma energia invulgares, mesmo nos temas mais taciturnos: Mortágua possui um som denso que me faz lembrar por vezes Kenny Garrett, mas também os saxofonistas do acid jazz e do funky. A associação de quatro músicos – e que músicos! - que tocam há uma década faz de Janela um disco bastante coeso e homogéneo, e a empatia ajuda a explicar também a forma fluente e loquaz como a música sempre surge.

Suave e expressivo em «Espaço», vigoroso em «Voo», divertido em «Mude», intrigante em «Lago», desconcertante em «Anima», eloquente em «Recarga», Janela é um bom disco de estreia, a revelar o grande músico que João Mortágua já é.

 

João Mortágua (s)
Miguel Moreira (g)
José Carlos Barbosa (ctb)
José Marrucho (bat
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