Keith Jarrett Charlie Haden
Jasmine
CD ECM 2010
O único outro encontro em duo de Keith Jarrett com Charlie Haden que conheço é um clássico – Closeness -, de 1976, quatro duetos do contrabaixista com Jarrett, Alice Coltrane, Ornette Coleman e Paul Motian. O disco tornou-se aliás bastante conhecido em Portugal devido a um dos temas do disco, o dueto com Motian, “For a Free Portugal”. E apesar da longa amizade entre os dois, que remonta ao histórico trio com Paul Motian de 1966 e que no ano seguinte daria origem ao primeiro disco de Jarrett como leader - Life Between the Exit Signs -, a verdade é que os encontros posteriores são creio que inexistentes desde há pelo menos mais de vinte anos.
Se Charlie Haden é um “empata” natural e os duos são mesmo uma das suas formas privilegiadas, Jarrett elegeu o trio – com DeJohnette e Peacock – ou o piano solo, como as suas formas (quase) exclusivas. Jasmine é por isso um disco atípico na discografia de Jarrett, mas não o será em Haden. No passado recente encontraremos ainda assim este espírito mais intimista e reflexivo em The Melody At Night, With You (igualmente um disco atípico em Jarrett), mas enquanto The Melody… era melancólico, Jasmine será antes contemplativo – com claro privilégio pelos tempos lentos - e pastoral. E bastante contemplativo enfim como outro dueto, o bucólico Beyond the Missouri Sky de Haden com Pat Metheny.
Com o contrabaixista nos comandos, Jasmine é um disco onde a música flui sempre inteligível e espontânea, longe das intrincadas e vertiginosas harmonias do trio Standards com DeJohnette e Peacock; um punhado de (mais ou menos) clássicos – entre “Body And Soul”, “For All We Know”, “Don't Ever Leave Me” ou “I'm Gonna Laugh You Right Out Of My Life” - que ambos conhecem bem. O (excessivo?) melodismo e lentidão de Jasmine pode aborrecer os fanáticos de Jarrett, mas creio que essa lentidão e harmonia são realmente tranquilidade e clareza.
Jasmine é um disco que procura a beleza no sentido em que a definição clássica de arte lhe atribuía. Melodioso e tranquilo, encantatório.
Keith Jarrett (p)
Charlie Haden (ctb)
(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #6)