Marty Ehrlich (sa)
James
Zollar (t)
Eric Friedlander (celo)
Pheeroan Aklaff (per, bat)
Esta será a terceira ou quarta vez que começo
a escrever sobre este disco. Things Have Got To Change do Marty Ehrlich Rites
Quartet provoca-me apreciações e sentimentos contraditórios
como poucos antes.
Marty Ehrlich foi considerado um dos pontas de lança da down town nova-iorquina,
mas evoluiu no sentido de um jazz negróide e bastante menos anguloso.
Recordamos o excelente concerto que fez à frente do Julius Hemphill
Sextet no Jazz em Agosto de 2003, uma homenagem explícita ao Jazz inconformado
de Hemphill e do World Saxophone Quartet (de notar que três dos oito
temas deste disco pertencem, significativamente, a Hemphill). Inconformado compositor,
músico
e líder emérito, qualquer dos seus discos merece a minha atenção.
O quarteto é constituído por Ehrlich em saxophone alto, James
Zollar em trompete, Eric Friedlander em violoncelo e Pheeroan Aklaff em percussões
e bateria. À partida começa por se sentir um vazio provocado
pela ausência do baixo - apenas incipientemente substituída pelo
cello -, prolongado pelo acompanhamento minimalista de Aklaff, que evidencia
a crueza do trompete de Zollar. Este despojamento percorre todo o disco e é bastante
o responsável pelos sentimentos adversos que referi.
Ao longo das inúmeras audições a Things Have Got To Change,
não consegui ainda responder se o despojamento que me perturbou é premeditado
ou resulta do pouco tempo para a gravação: afinal os oito temas
foram registados numa única take entre duas viagens numa escala por
Lisboa.
Rites Rhythms parece-me claramente um ensaio, enquanto Dung, que se configura
como um segundo andamento do tema anterior, possui um arranjo bastante mais
convencional, mas mais sólido. Este conflito percorre todo o disco entre
um experimentalismo marcado pelo arco de Friedlander e o swing vigoroso mas
pouco convencional de (da inspiração de) Hemphill.
Creio que este é um disco
prematuro. Os quatro músicos nem sempre se entendem e alguns
dos temas são apenas esboços, hesitando entre um Jazz de câmara e o Jazz mais
clássico, negróide que referi, e apenas os temas de Hemphill funcional no pleno.
Dogon A.D. com que termina é o melhor tema do disco e por onde ele deveria ter
começado. Que bela sessão teria dado!