Massimo Cavalli
Varandas do Chiado
CD
Note Sonanti 2012
Nascido em Itália, Cavalli é músico profissional desde os vinte anos, a viver em Portugal desde 1996 onde finalizou os estudos musicais.
Mas apesar do vasto currículo profissional este é o primeiro CD de Massimo Cavalli.
Mas há coisas que merecem ser aguardadas, que merecem ser esperadas, e Varandas do Chiado valeu a espera.
É um disco curioso, para um não português, mas parece explicar um pouco das razões que terá levado o contrabaixista a apaixonar-se por Portugal: há qualquer coisa saborosamente portuguesa (e lisboeta) neste disco; sem que por um momento Cavalli caia no logro da tristeza fadista que parece ter tomado conta de uma parte da nova geração de músicos (a faca e alguidar de culto, a rendição, a fatalidade do ser pequeninos mas honrados).
A lusitanidade de Varandas do Chiado será mais explícita na melancolia do tema que dá o nome ao disco, que é uma afinal uma empolgante canção «cantada» pelo saxofone de Bearzatti, mas que não andará ainda assim do espírito latino («La Valsa del Biondino», «Chuva Tropical», «Il Lungo Viaggio») que percorre todo o disco, numa fusão que nunca surge forçada. Fusão Jazz, onde os elementos menos convencionais surgem sempre naturalmente, maturados, saborosos, e que começam por se descobrir nas composições, mas que se prolongam na escolha do acordeão de João Paulo ou o saxofone muito visceral de Francesco Bearzatti.
Varandas do Chiado é um disco de Jazz inequívoco ( a verdade é que os elementos «exógenos» são até naturais da característica mais canibal do Jazz). E ainda assim, para os puritanos, Thelonious Monk ou Sonny Rollins fazem questão de assomar mais óbvios em «Free Four Three» ou «Marce Blues».
Nota alta também para a prestação dos quatro membros do grupo. Se os dotes de João Paulo ao piano ou no acordeão são amplamente reconhecidos (excelente em «Blues for Davide»!), Joel Silva, é sempre um baterista inspirado, versátil e seguro. Menos conhecido entre nós será o saxofonista convidado (apesar de ter tocado já em Portugal à frente do seu quarteto no Jazz im Goethe Garten de há três anos, ou em Abril passado na apresentação do disco de Cavalli na Festa do Jazz). Mas Bearzatti é um músico experimentado, que compreendeu bem a música do amigo, e ele é um saxofonista poderoso, genuíno, lírico e arrebatado.
E quanto a Cavalli, ei-lo que surge seguro no contrabaixo, inspirado na escrita, e um líder por direito próprio.
Massimo Cavalli (ctb)
João Paulo (p, aco)
Francesco Bearzatti (st, cl)
Joel Silva (bat)