Paula Sousa
Nirvanix
CD JACC 2010

Paula Sousa (p)
Demian Cabaud (ctb)
Luís Candeias (bat)
Afonso Pais (g)(4,5,6)
André Matos (g)(3,8)
João Paulo (aco)(2,7)
Jorge Reis (sa,ss)(6,8)
Sara Serpa (voz)(3,7,9)

Confesso que esperei o pior depois da apresentação desastrada de Nirvanix. Afinal o que aconteceu no palco do Museu do Oriente terá sido um acumular de nervos que o disco não revela.
Valsa para Terri, o disco de estreia de Paula Sousa apresentava uma pianista sensível, profundamente influenciada por Bill Evans, e este novo disco não renega essa influência. Porém Nirvanix marca uma viragem substancial no caminho de Paula Sousa, ao apresentá-la também como compositora.
Nirvanix é um disco pouco convencional no Jazz e em boa verdade ele é bastante um disco de canções. Apenas um dos temas tem palavras: «Nirvanix», o tema que dá nome ao disco, letra de Cláudia Franco e voz de Sara Serpa, mas o peculiar smooth scat de Sara Serpa faz-se ouvir em mais dois temas.
Há todo um ambiente melodioso, cantável, no disco, apenas aqui ou ali contrariado, a começar no enunciado do primeiro tema, «Lua Nova, Quarto Crescente» (que eu juraria antecipar o «Era um Redondo Vocábulo» do Zeca), e evidente no acordeão muito mediterrânico de João Paulo ou na voz de Sara Serpa.
Há uma melancolia também, que por qualquer ignota razão é bastante comum nos discos de jazz portugueses (ah, o fado!), e que apenas é contrariada nos temas mais jazzy, que são também os temas onde Jorge Reis tem prestações brilhantes, o primeiro em diálogo com Afonso Pais, «Quase Primavera», e um segundo, à disputa com a guitarra ácida de André Matos em «Zeta is On Fire».
Cada tema foi pensado individualmente, o que explica a profusão de músicos e instrumentos convocados. A atipicidade do disco refere-se ao esforço de composição, que tem algo de popular, muito interessante, mas que contém um risco – tentação, de aligeiramento, que não seria inédito; e creio que o interessante Nirvanix percorreu de uma assentada todo o caminho interessante que neste modelo havia a percorrer. Mas a verdade é que Paula Sousa já foi capaz de nos surpreender pela positiva em dois discos e haverá tudo a esperar de uma próxima obra. Para já Nirvanix revela uma compositora a ouvir com atenção.