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Rudresh Mahanthappa & Bunky Green
Apex
CD
Pi Recordings 2010

 

Bunky Green nasceu em 1935 e Rudresh Mahanthappa em 1971. Ambos tocam saxofone alto. Rudresh ouviu tocar pela primeira vez Bunky Green na escola onde um era aluno e o outro professor. Os dois prometeram gravar um dia um disco; a oportunidade aconteceu agora.
Tendo-se feito notar nos anos 60 ao ser contratado por Charlie Mingus, Bunky Green pareceu desaparecer aos olhos do público e sua a discografia resume-se a uma dezena de discos e algumas colaborações, já que ele dedicou a sua vida ao ensino. Mas ele é referido como influência maior por inúmeros músicos como Steve Coleman, Greg Osby e Rudresh Mahanthappa. Como Steve Coleman, David Binney ou Steve Lehman, Rudresh tem dedicado o seu tempo a procurar o que não se aprende na escola: o seu som. E como os outros - estamos a falar da linha da frente do Jazz contemporâneo - ele tem sido bem sucedido: ele encontrou um som que é distinto do mainstream dos altistas que é Jackie McLean, numa síntese do som do mestre Bunky Green, tal como se tornou óbvio agora, e as suas origens remotas indianas (mesmo que seja um nova-iorquino de gema – embora tenha nascido em Trieste). Mais do que o timbre do saxofone – por vezes muito agudo, que se pode confundir com um soprano ou mesmo um clarinete - Rudresh identifica-se pelo discurso – dir-se-ia modal – herdado inequivocamente da música folclórica indiana, ausente do conceito da harmonia ocidental. Num concerto de música carnática os ragas podem durar horas e aquilo que um ouvido ocidental, mesmo treinado no Jazz, pode entender como puro exibicionismo, é a forma natural da composição (e improvisação) no sul da Índia. Ademais ele é um saxofonista impetuoso, e compreende-se que por vezes de difícil audição para mesmo muitos amantes de Jazz.
Apex é composto por dez temas escritos pelos dois – cinco para cada um -, mas a versão internet que me foi disponibilizada contém mais três bonus tracks e ainda um tema escondido. Os dois saxofonistas tocam todos os temas com uma excepção para cada um.
A secção rítmica é de um luxo asiático, começando pelo pianista dos pianistas, Jason Moran, o contrabaixista é o incomparável gémeo Moutin, François, e na bateria o veterano Jack DeJohnette alterna com Damion Reid.
É claro que está implícita uma homenagem ao velho músico, mas nem por um momento Rudresh se sente reverente, nem Bunky Green condescendente; na verdade eles procuram a todo o momento pontes entre as duas concepções de Jazz, que são também o novo e o velho Jazz, mas eu não diria que um toca mainstream e outro toca free: ambos tocam a mesma música e com frequência eles confundem-se. O confronto dos dois conceitos de Jazz estará mais na arquitectura das composições, mais tradicional em Green (com preferência pelos tempos lentos), com mais espaço para a intervenção dos solistas da secção rítmica, que na sonoridade dos saxofones ou no discurso, onde claramente eles se encontram. A empatia entre os saxofonistas prolonga-se pela banda que funciona como um corpo único, mas estamos a falar de gigantes do Jazz, capazes de tocar sobre todo o tipo de ambientes, de acompanhar e solar indistintamente e antecipar de forma telepática os movimentos dos parceiros.
Apex é um dos grandes discos do ano de 2010. Depois do excelente Dual Identity com Steve Lehman, Apex vem confirmar o gosto de Mahanthappa pelo confronto de personalidades, mas este disco tem também o mérito de trazer para o lugar que é devido ao grande Bunky Green na História do Jazz.

 

Rudresh Mahanthappa (sa)
Bunky Green (sa)
Jason Moran (p)
François Moutin (ctb)
Jack DeJohnette (bat)
Damion Reid (bat)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #11)