Sonny Rollins
Road Shows Vol. 2
CD Doxy/Decca 2011

Sonny Rollins (ts)
Russell Malone (g)
Bob Cranshaw (b)
Kobie Watkins (bat)
Sammy Figueroa (per)
+
Roy Hargrove (t)
Jim Hall (g)
Ornette Coleman (sa)
Christian McBride (b)
Roy Haynes (bat)

Sonny Rollins não deveria nunca ser considerado em nenhum concurso, porque o seu saxofone toca sozinho. A piada tem barbas, mas em Sonny Rollins assenta como uma luva, e quem pensar que eu exagero deve ouvir este Road Shows 2, gravado no final de 2010, por altura do 80.º aniversário do saxofonista.

À sessão comemorativa registada no Beacon Theatre, em New York, foram acrescentados dezoito minutos, dois temas, gravados menos de um mês depois, no Japão, com a mesma formação base, guitarra, baixo, bateria e percussão. A sessão do Beacon Theatre no entanto contou com alguns convidados de luxo, Jim Hall, a quem foi oferecido um tema, uma belíssima interpretação do clássico de Ellington "In a Sentimental Mood"; Ornette Coleman, Christian McBride e Roy Haynes que substituíram a formação da casa num longo de 22" "Sonnymoon for Two"; e ainda Roy Hargrove que acompanhou Rollins no trompete em dois temas.

A verdade é que não se sentem rugas no saxofone do colosso Sonny Rollins, e ninguém adivinharia que se tratava de um disco actual, se não fosse a sua voz, onde, aí sim, se reconhecem os anos. Ele toca com a mesma fluência que, por exemplo, Roy Hargrove, que tem menos 30 anos que ele, e claramente com mais intensidade que Ornette, que é uns meses mais velho que Sonny Rollins, e em quem já tínhamos notado nas suas passagens por Lisboa a perda das capacidades físicas.

A história de Sonny Rollins é uma das páginas mais gloriosas da História do Jazz. Ele é um monstro do saxofone (poucos epítetos caracterizarão alguém tão bem quanto o de Saxophone Colossus, título de um disco de 1956) , e é (a par de Ornette e Lee Konitz) um dos últimos revolucionários do saxofone sobrevivos. Quando ele desaparecer, é um capítulo inteiro, a época de ouro do Jazz, que se encerrará.

Mas enfim, Road Shows 2 nada tem de revolucionário: apenas uma mão cheia de clássicos numa sessão de aniversário com alguns amigos. Nada de mais, apenas Jazz, eterno. Diz Sonny Rollins: Jazz é «the umbrella under which all other musics exists». Depois deste disco, quem sou eu para o contestar?