Steve
Kuhn Trio w/ Joe Lovano
Mostly Coltrane
CD
ECM 2009
Steve Juhn (p)
David Finck (ctb)
Joey Baron (bat)
Joe Lovano (st)
Tem sido referido a propósito
deste Mostly Coltrane que Steve Kuhn tocou com John Coltrane no início
de 1960. Ora parece-me que o interessante deste disco é precisamente
o facto de ele não
ter sido o pianista de Coltrane. Melhor dizendo, ele tocou de facto com Coltrane,
brevemente, por oito semanas, tendo sido substituído por McCoy Tyner.
Coltrane andava à procura de um pianista violento e o sensível
Steve Kuhn era o oposto do impetuoso McCoy Tyner. Coltrane tinha tocado nos
anos anteriores com Red Garland, Mal Waldron, Tommy Flanagan, Wynton Kelly,
Cedar Walton e até Cecil Taylor, e experimentado inúmeros bateristas
e baixistas até constituir um dos mais intensos quartetos da História
do Jazz com Tyner, Elvin Jones e Jimmy Garrison, em 1960. Tinha sido nalgumas
breves semanas do início de 1960 que Steve Kuhn tinha tocado com John
Coltrane e nunca mais voltariam a encontrar-se.
Kuhn possui uma sólida formação mista, clássica
e Jazz e era considerado um pianista de vanguarda na sua juventude, mas não
era obviamente de um erudito que John Coltrane andava à procura. Este
disco de homenagem a John Coltrane não deixa de ser surpreendente, na
medida em que ele não explora deliberadamente a faceta mais arrebatada
que a maioria dos fans de Coltrane apreciam, mas apresenta a sua própria
interpretação – sensível e lírica - da música
do saxofonista.
Um outro Coltrane, se diria, que Kuhn escolheu um outro não-coltraneano – Joe
Lovano – para o saxofone. E, completando, dois outros não coltraneanos
para a bateria e baixo: Joey Baron e David Fink. John Coltrane estará entre
os três ou quatro maiores saxofonistas da História do Jazz (para
muitos mesmo o maior), e a sua influência em Lovano, como em todos os
saxofonistas posteriores, será inevitável; apenas Lovano tem
procurado uma voz própria que não copia o mestre.
Homenagem serena e dir-se-ia mais técnica, sem a catarse de Trane (a
exaltação apenas se revela em dois temas – Jimmy’s
Mode e Configuration – do período final de Trane) e mais lírica.
Crescent, de 1964, por exemplo, está praticamente irreconhecível
nos dedos de Steve Kuhn, e a inclusão dos temas que tocou com Trane
- Central Park West, The Night Has A Thousand Eyes, I Want To Talk About You
ou o eloquente solo de piano em Trance com que acaba a homenagem a Coltrane
revelam a atitude de Steve Kuhn; de homenagem, não reverência.
Um dos mais belos tributos a John Coltrane.