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Terri Lyne Carrington
The Mosaic Project
CD Concord 2011

 

Devo dizer que considero um disco inteiramente feito por mulheres tão idiota quanto as quotas para o parlamento: eu compreendo a bondade dos motivos, mas creio que o resultado é perverso. Da mesma forma, um disco feito por mulheres parece querer provar apenas que as mulheres são capazes de o fazer, mas a sua própria existência sugere a dúvida.
Claro que depois da minha observação se torna perfeitamente legítima a pergunta dos meus leitores de «então porque raio fazem um número especial do 6/4 dedicado às mulheres?». A resposta é: há poucas mulheres a tocar Jazz. O Jazz não escapa às regras de uma sociedade onde os homens se reservam para si as grandes obras, relegando para as mulheres os papéis secundários a par dos modelos da beleza e da sensibilidade, mas também a fragilidade, o privilégio da irracionalidade, do capricho e da futilidade (dizem os homens). A história do Jazz (como a história da música em geral) reserva para as mulheres apenas e quase o instrumento da voz. As coisas estão a mudar, no Jazz, como na sociedade. E isto dava uma grande conversa, mas não é o motivo do meu texto.
Posto isto, com um painel onde constam Geri Allen, Anat Cohen, Ingrid Jensen, Esperanza Spalding, Dee Dee Bridgewater, Gretchen Parlato, Dianne Reeves ou Cassandra Wilson, mas também Nona Hendryx ou Shea Rose, entre outras instrumentistas e cantoras, o resultado é algo decepcionante.
Claro que com uma formação que se altera em cada faixa servindo uma cantora diferente, o resultado só podia ser necessariamente desigual, mas creio que é esse mesmo o objectivo de Carrington: a diversidade como valor, entre o Jazz neo-bop e a pop, entre o hip-hop, a soul e o cool-jazz (o que quer que isso seja).
The Mosaic Project é um disco bem construído, com momentos agradáveis, ambicioso até na sua forma, e outra coisa não seria de esperar com aqueles músicos. As minhas interrogações começam por respeitar ao feminismo forçado e à disparidade dos resultados que o despersonalizam. Mas os temas onde cantam Parlato, Nona Hendryx ou Esperanza Spalding são desinteressantes, enquanto Shea Rose surpreende pela juventude. Cassandra Wilson e Dianne Reeves, a par de Geri Allen e Anat Cohen fazem os melhores momentos do disco.

Ingrid Jensen (t, flis)
Tineke Postma (sa, ss)
Anat Cohen (cl, clb, ss)
Hailey Niswanger (f)
Chia-Yin Carol Ma (v)
Linda Taylor (g
)
Geri Allen (p, tec)
Patrice Rushen (p, tec)
Helen Sung (p, tec)
Esperanza Spalding (ctb, voz)
Mimi Jones (ctb)
Terri Lyne Carrington (bat, per, voz)
Sheila E. (per)
Nona Hendryx (voz)
Gretchen Parlato (voz)
Dianne Reeves (voz)
Cassandra Wilson (voz)
Dee Dee Bridgewater (voz)
Carmen Lundy (voz)
Shea Rose (voz)
Angela Davis (comentário)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #16)