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The Microscopic Septet
Friday the 13th: The Micros Play Monk
CD
Cuneiform Records 2010

 

As origens do The Microscopic Septet remontam ao ano de 1980, quando se tornaram um dos mais emblemáticos grupos da downtown nova-iorquina, com presença assídua na Knitting Factory. Por ele passou, nessa fase inicial, o saxofonista John Zorn. No início dos anos 90, e depois de quatro discos gravados, o grupo separou-se, para apenas se voltar a reunir já em 2006. Curiosamente, quatro dos membros da banda original estão na formação actual.
Com um repertório atípico, o The Microscopic Septet fez-se notar pela formação: quatro saxofones mais secção rítmica. Ainda assim, eles não podem ser considerados um quarteto de saxofones – populares nos anos 80 - como o World Saxophone Quartet ou o Rova, p. ex., fundamentalmente porque os arranjos se dirigem ao todo e não em especial aos sopros.
Desde sempre conhecidos por tocar tudo, entre Ellington e Albert Ayler, Charlie Parker, Sun Ra ou Dixieland, este disco acaba por resultar algo incómodo pela forma respeitosa como os Microscopic atacam o repertório de Thelonious Monk. A verdade é que na biografia do pianista e membro fundador da banda, Joel Forrester, se conta ter tocado para Monk já no período final da vida, apresentado pela baronesa Pannonica de Koenigswarter, lendária protectora de Monk. Forrester confessa a sua enorme admiração pelo génio de Thelonious Monk, mas digamos que essa não é propriamente uma originalidade: Monk é apenas (!) uma das vacas sagradas do Jazz, e a sua aura vai bem para além do universo do Jazz.
Friday The Thirteenth: The Micros Play Monk é constituído por doze temas, entre os mais populares como “Brilliant Corners” com que começa, “Misterioso” ou “Epistrophy”, e outros menos tocados como “Friday the 13th”, “Gallop’s Gallop”, “Worry Later” ou “Teo”; embora em todos eles seja reconhecível a angulosidade, o humor e a premência rítmica. Os arranjos dividem-se entre os dois líderes, Forrester e o saxofonista Phillip Johnston, e num dos temas, “Bye-Ya”, por Bob Montalto.
A opção tomada pelos arranjadores foi em todos os casos a de Monk, do ponto de vista que os solos nunca fogem ao tema. Ao contrário do que é até bastante vulgar no Jazz, onde os solos podem até evoluir bastante para fora do tema, em Monk a composição é sempre tomada como um todo e o desenvolvimento faz-se sempre a partir de fragmentos do tema que vão sendo alterados e subvertidos, na melodia, na harmonia ou no ritmo, e o tema enfim reconstruído. Os arranjos não deixam de se revelar interessantes, com alguns artifícios modernistas e pequenas subtilezas, que os refrescam. De referir a vertigem em “Epistrophy”, o descomedimento talvez Steve Lacy (um especialista em Monk) dos saxofones em “Teo”, a subversão de “Bye-Ya”, o humor em “Friday the 13th”, o inspirado momento que os dois líderes (saxofone – piano) se reservaram em “Worry Later” ou os contrapontos em “Misterioso”.
Não existe realmente novidade nesta incursão ao universo de Thelonious Monk, e creio que os The Microscopic Septet poderiam ter ido mais longe. Mas enfim, trata-se apenas de Monk no seu melhor, tocado com respeito e muito gozo.

 

Phillip Johnston (ss)
Don Davis (sa)
Mike Hashim (st)
Dave Sewelson (sb)
Joel Forrester (p)
David Hofstra (ctb)
Richard Dworkin (bat)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #12)