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Uri Caine Trio
Siren
CD Winter & Winter 2011

 

A propósito do último disco, Siren, para a Winter & Winter, o pianista sugeriu-me em conversa recente (Serralves, Jazz no Parque, Julho passado) que o editor teria ficado algo aborrecido pela proposta de fazer um disco em formato trio de piano Jazz. Conhecendo um pouco o catálogo W&W podemos perceber o porquê: a etiqueta distingue-se por um gosto de transgressão, e a reverência do formato não é de todo a sua preferida. Ademais o próprio Uri Caine já tem já dois discos editados na W&W neste formato.
Uri Caine é aquilo que é pacificamente aceite por todos como um monstro do piano. Exuberante e ecléctico, dispersa os seus trabalhos pelo tratamento (bem sucedido) atípico de alguns dos compositores mais célebres da música clássica, a música popular ou o Jazz, como líder ou sideman nos mais variados contextos. Em Serralves integrava o Tea For Three, o supergrupo de três trompetes de Dave Douglas. Um disco em trio pode parecer até rotina…
Siren é um disco de originais, com excepção honrosa para “On Green Dolphin Street”, gravado em estúdio, de uma assentada como é normal no Jazz. Os convidados são Ben Perowsky, o baterista que o tinha acompanhado na sessão trio de 2003, e a estrela em ascensão John Hebert, um contrabaixista que se tornou conhecido como o baixista de Andrew Hill, e que se tem feito notar por tocar de igual forma mainstream ou "vanguarda". John Hebert substitui aqui outro grande contrabaixista: Drew Gress. O resultado é uma sessão de grande Jazz, inequívoco, a confirmar para quem duvide que ele é um grande pianista.
É verdade ainda assim que Siren pouco acrescenta à discografia de Uri Caine, mas nada é medíocre em Uri Caine. Se há algo que se possa dizer do seu estilo é que ele nos surge sempre como definitivo, quero dizer, para além da modernidade, sem que necessite (aqui) recorrer a algumas figuras dissonantes que utilizou noutros contextos. Bastante pessoal, ele não é um pianista dos espaços, bem pelo contrário: o seu estilo é cheio, exuberante como atrás disse, envolvente.
Noutros discos, e na sessão do Village Vanguard em particular, já tínhamos visto como Uri Caine se apropria das composições que toca. Em Siren isso é visível no único tema alheio, quase irreconhecível, mas todos os seus temas são inspiradores, sem momentos baixos, a tocar blues (“Hazy Lazy Crazy”), calypsos (“Manual Desfile”), bop (“Interpoler”), nos tempos rápidos (“Crossbow”), baladas (“Foolish Me”) ou no irónico “Siren”, onde enfim o silêncio arrebata. Banda irrepreensível.

Uri Caine (p)
John Hébert (ctb)
Ben Perowsky (bat)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #14)