Wadada Leo Smith’s Golden Quartet
Tabligh
CD Cuneiform 2008
Wadada Leo Smith (t)
Vijay Iyer (p, f-r, sin)
John Lindberg (b)
Ronald Shannon Jackson (bat)
Tabligh é o terceiro disco do Golden Quartet de Wadada Leo Smith e
o primeiro com a presente formação (outras formações
incluíam Jack DeJohnette, Anthony Davis, Malachi Favors ou Pheeroan
akLaff). Wadada é um veterano do free jazz; um dos membros fundadores
do AACM de Chicago e é actualmente o director do African-American Improvisational
Music Program. Desde os anos 60 ele tocou com Anthony Braxton, Lester Bowie,
Don Cherry, Carla Bley, Ed Blackwell, David Murray, Roscoe Mitchell, Joseph
Jarman, George Lewis, Charlie Haden, ou os já citados Jack DeJohnette
e Malachi Favors, entre inúmeros outros músicos.
A música de Leo Smith foi desde sempre empenhada política e
socialmente, como denota o disco, logo desde o primeiro tema, «Rosa Parks»,
dedicado à activista dos direitos negros que em 1955 se recusou levantar
de um lugar no autocarro destinado a brancos e que despoletaria o histórico
movimento anti-segregacionista. O segundo tema dá pelo nome de DeJohnette,
e é obviamente dedicado ao baterista. Outros temas são ainda
Tabligh que dá o nome ao disco e Caravan of Winter; ambos encomendas
do Islamic World Arts Initiative.
A longa peça de 16 minutos «Rosa Parks» vai beber inspiração
directamente no Miles Davis eléctrico de «In a Silent Way»,
sobre uma estrutura construída pelo Fender Rhodes de Iyer e os pedais
do baixo eléctrico de Lindberg. O trompete é explicitamente milesiano.
O
tema seguinte (DeJohnette) é muito mais contundente, com o piano
- entre Cecil Taylor e Paul Bley - em destaque. Caravan of Winter é ostensivamente
abstracta e amelódica, bastante na linha da anterior e Tabligh que dá o
nome ao disco parece hesitar entre a violência e a contemplação,
mas realmente nada é ocasional em Wadada Leo Smith. Apesar da elevada
exigência da música, o quarteto denota consistência e coesão
em todos os movimentos, ora suspendendo a respiração ora explodindo,
de forma expressiva e pictográfica. As peças resultam de facto
bastante ricas e visuais, desmentindo a recorrente menorização
da composição free. Mas Wadada Leo Smith é o verdadeiro último
moicano do free, exemplar de coerência e resistência, e isso faz
toda a diferença.