O Jazz nos livros em Portugal

O Jazz surgiu em Portugal nos anos 40, muito tarde, quando já incendiava as pistas de dança e as salas de espectáculo por toda a Europa, e mesmo influenciava já toda a música.

Fechado em si mesmo num portugalinho pacóvio, uma ditadura que cerceava mesmo a forma de pensar, resumindo a cultura nacional ao Fado, Futebol e Fátima, cerrando fronteiras, exilando os melhores da nossa elite cultural, reprimindo.

O Jazz chegava-nos de forma muito limitada, apenas a alguns pequenos grupos de indivíduos que procuravam romper com a letargia cultural do país e da sociedade. Luis Villas Boas teve, como se sabe, um papel pioneiro como impulsionador e divulgador, na imprensa ou nas emissões radiofónicas que realizou, actividade que culminou com a fundação do Hot Club de Portugal. Mas a verdade é que o Hot Club foi durante largos períodos apenas um clube de exóticos, que se reuniam ocasionalmente para ouvir uns discos. Qualquer tentativa de trazer músicos a Portugal era complicada pelo regime, qualquer iniciativa que contrariasse o regime ou que não acompanhasse a parolice da política nacionalista encontrava obstáculos que apenas a perseverança de alguns soube, aqui e ali, romper.

Sendo o Jazz considerado uma extravagância, terá sido apenas porque o regime o considerou inofensivo que o autorizou, ainda assim de forma limitada. Passavam-se anos, décadas, sem que nada acontecesse, e os debates que atravessavam apenas eram estimulados pelos ocasionais discos que alguns privilegiados traziam das viagens ao estrangeiro.

Eram esses raros discos e alguns livros em inglês que revelavam a essa elite a força e a novidade dessa música fantástica, mas foi necessário chegar-se aos anos 50 para surgir em Portugal o primeiro livro sobre Jazz, uma tradução de «Jazz» do crítico e divulgador Rex Harris.  

Primeiro livro de Jazz em Portugal, o livro de Rex Harris revela também, e principalmente no livro de que falaremos na próxima semana, até nas notas do tradutor, por um lado o interesse desses pioneiros, mas também esses debates que atravessavam o Jazz, sobre a definição do Jazz e os seus limites, a que as próprias convulsões que o Jazz viva nesses anos, atravessava. 

O que me proponho fazer, ao ritmo da minha paciência, tempo e motivação, é uma releitura crítica desses livros, dos livros por onde passava o Jazz - em língua portuguesa, a crítica, a divulgação e a literatura -, como forma também de subsídio para a compreensão do que falamos quando falamos de Jazz em Portugal, um país onde o Jazz é uma linguagem estranha onde, contraditoriamente já foi (muito) mais popular, mas onde nunca antes na sua história teve tantos jovens músicos interessados em a aprender; enfim, do Jazz que os músicos tocam e sobre o que é que os críticos escrevem.

 

1. Jazz, Rex Harris, Editora Ulisseia, 1952 (tradução de Raul Calado)

2. História do verdadeiro Jazz, Hugues Panassié (tradução de Raul Calado)

3. O Mundo do Jazz, in O Mundo da Música, Leonard Bernstein (tradução de Manuel Jorge Veloso)

4. A Idade do Jazz-Band, António Ferro (O equívoco António Ferro)

5. Jazz – do New Orleans ao Jazz moderno, Bernard Heuvelmans, Jean Tarse e Carlos de Radzitzky

6. Os Mestres do Jazz, Lucien Malson (biografias 1)

7. Gigantes do Jazz, Studs Terkel; Combo oito estórias do jazz, Rudi Blesh (biografias 2)

8. Jazz Moderno

9. Free Jazz Black Power

10. Mas é Bonito, Geoff Dyer