A votação Uma votação é por definição um exercício de subjectividade. Votar significa classificar, mas também hierarquizar. Ora classificar e hierarquizar em função de quê, é legítimo perguntar. A resposta não é fácil, até porque cada votante e cada votação é um caso; mas será óbvio para todos que em todas as votações interferem razões tão pouco rigorosas ou universais quanto o gosto, ideias ou ideologias, pré-conceitos ou preconceitos, disposição, temperamento ou vaidade. E se disso resulta então que qualquer votação é um exercício de pouca prudência, é minha convicção que acima de tudo o amante de Jazz, e em especial o divulgador e o crítico, é movido pela paixão. E eu creio que é esta a principal razão porque as pessoas acreditam neles: porque o fazem com a convicção da paixão. Será então talvez inútil qualquer votação, como qualquer classificação, e um crítico deveria talvez, uma vez mais por prudência, apenas relevar um ou outro aspecto da obra na recensão. Mas não é assim: os críticos de Jazz adoram classificações e prémios e precisam comunicar ao resto do mundo os seus gostos e descobertas e usam de todo o tipo de artifícios para o fazer. Como votações (e apenas em privado, por prurido, eles votam também os piores de cada ano. Mas isso o público apenas pode suspeitar). É por isso que é necessário colocar algum cuidado nas votações, até para que elas tenham alguma credibilidade. Se por exemplo uma votação tiver participantes que apenas assistiram a um ou dois festivais e apenas ouviram uma dúzia de discos num ano, é legítimo que o público se questione. Se alguns dos votantes tiverem ligações com editoras ou instituições promotoras de concertos, bom... E enfim se alguns dos votantes apenas ouvirem um determinado tipo de Jazz ou até nem sequer Jazz, então por, sei lá, talvez honestidade, eles deveriam abster-se. Mas esta é apenas a minha opinião. A votação que agora publico em Jazzlogical reflecte todos os «problemas» que atrás apontei. Pensei e questionei cada um dos convidados de forma a que a votação final – resultante da soma das diversas personalidades - pudesse resultar em algo de útil para o público e para o Jazz. Creio que o consegui. Todos eles são reconhecidos como ouvintes atentos e conhecedores e divulgadores da Grande Música Negra. Talvez pudesse ter incluído um ou outro nome na votação, mas procurei que ela fosse inatacável do ponto de vista do rigor, da independência e da seriedade. Por curiosidade devo dizer que de entre os convidados eu obtive algumas recusas, todas elas com o mesmo argumento de que não teria ouvido discos ou assistido a concertos em número suficiente. Enfim, nem toda a gente teria esses pruridos... Uma votação é por definição um exercício de injustiça. Ninguém ouve todos os discos que saem ao longo do ano e ninguém assiste a todos os concertos. E basta olhar para a votação para perceber como Wayne Shorter foi preterido, em minha opinião, apenas porque muitos críticos não estiveram na Culturgest ou em Guimarães (para minha infelicidade nem sequer eu!) e o mesmo para o EST em Loulé ou Dave Douglas na Casa da Música, e é evidente também que o Angra Jazz ou o Funchal Jazz sofrem o problema da insularidade... O mesmo para os discos. Eu mesmo não consegui ouvir alguns dos discos que queria, apenas porque eles não estão disponíveis no mercado... Enfim, apesar
de todos os meus senãos, eu creio que esta votação
cumpre os critérios mínimos de seriedade, objectividade
e utilidade. Mas cabe a vocês, caros jazzólicos avaliar.
Keith Jarrett, Andrew Hill, Henri Texier, John Coltrane e
Mário
Laginha são
os votados.
|