Chick Corea

Chick Corea será porventura o mais «camaleónicos» dos pianistas de Jazz. Tornou-se conhecido, ainda nos anos 60, com um disco que é hoje um verdadeiro clássico, Now He Sings, Now He Sobs, ao lado de Miroslav Vitous e Roy Haynes. A partir de 1968 toca regularmente com Miles Davis, gravando com ele alguns dos mais célebres discos do período eléctrico (Bitches Brew, In a Silent Way, At Filmore). É neste período que começa a tocar piano eléctrico. Ao mesmo tempo aproxima-se da vanguarda, gravando com Dave Holland, Barry Altschul e Anthony Braxton Circle, The Song Of Singing ou ARC.
Em 1971 forma o histórico Return to Forever com Stanley Clarke, Joe Farrell, Airto Moreira e Flora Purim e mais tarde Al De Meola, abrindo decididamente caminho para a fusão que, na versão Corea tinha bastante de colorido latino, mas também rock e pop. Return To Forever e My Spanish Heart são paradigmáticos dessa fase.
A partir deste período Chick Corea era já inequivocamente um dos grandes pianistas modernos, ao lado de Keith Jarrett e Herbie Hancock. Mas o seu percurso é perfeitamente atípico, gravando pérolas de rara beleza como Crystal Silence com Gary Burton ou, invocando demónios, já nos anos 80, com a Elektric Band, evocando Bud Powell no mais puro bop, ou tocando a solo acústico. Membro da Igreja da Cientologia, creio que em 2005, protagonizou um dos piores concertos a que assisti na minha vida, no Porto, de propaganda ao credo à frente de uma banda onde a mulher também cantava. Mas recordo o concerto belíssimo, Children’s Songs, a solo no S. Luiz; em 1998 quando tocou o mais puro Jazz no Seixal e o ano passado quando fez um dos concertos do ano no Coliseu numa evocação de Crystal Silence com Gary Burton. Talvez que a único denominador comum na sua música desde os anos 80 seja a procura da empatia com o público, a procura da comunicação, nem sempre da melhor forma.
O concerto que se espera para o CCB não corre o risco de desiludir ninguém. Corea é de facto um grande pianista e a solo à frente de um piano acústico, só se pode esperar o melhor. Melodia, pois claro, que ele toca para um público e gosta de comunicar, mas também emoção e elegância, energia e sofisticação.

13 Out 2007

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